sábado, 1 de janeiro de 2011

ANO NOVO, VIDA VELHA

Ano novo, vida velha

Rossandro Klinjey



Tudo de novo. Posso me preparar para o ano novo da mesma forma como venho fazendo há alguns anos. Na nossa vidinha de classe média passo a contabilizar os gastos de fim de ano somados aos gastos de início de ano: presentes, roupas, jantares para amigos e parentes e outros gastos das festas do fim de ano, mais o IPVA, seguro do carro, reajustes de mensalidade, material escolar, e por aí vai sem muitas novidades, fazendo parecer que o ano novo já começa com cara de ano velho.

O tempo é antes de tudo uma função da mente que contribui para a construção de parâmetros de orientação, sendo assim, inegavelmente uma importante conquista cultural do homem que permite nossa percepção racional, embora nem sempre estejamos tão conscientes de como levamos o nosso tempo ou como somos levados por ele, afinal a nossa vida inconsciente é bem mais impactante e relevante do que gostaríamos que fosse. Por isso, planejamos mudanças racionalmente, mas inconscientemente nos sabotamos e não cumprimos promessas feitas a nós mesmos.



Por esta razão passamos a apelar para supertições: usar branco, pular ondas, comer lentilha, sempre na expectativa de que estas coisas façam por nós o que não conseguimos fazer a cada ano. Lamento informar, nada externo a nós tem o poder de mudar aquilo que só pode ser forjado na intimidade de nossas almas, o que leva tempo, disciplina e foco. Ah! Vale salientar que só mudamos quando estamos fartos de sermos ou estarmos onde estamos, pois enquanto der, vamos empurrando com a barriga mudanças pessoais, de emprego, de atitude, de más companhias, de hábitos pouco saudáveis, entre outras coisas. Como resultado, vemos tanta repetição ano após ano.



Claro, não há como negar que a cada ano muitas coisas se repetem e da mesma forma não há como negar que podemos mudar muitas coisas. Afinal, a vida sempre nos oferece novas formas de olhar as velhas coisas e delas tirar sempre novas lições. A vida é como um bom livro que a cada vez que relemos percebemos novas nuances, entendemos novas coisas que antes não pudemos perceber, simplesmente porque a cada ano, não só envelhecemos, mas também amadurecemos, acumulamos experiências de forma que muitas coisas que nos afetavam já não nos afetam mais, sejam pessoas ou situações, ao mesmo tempo em que passamos a valorizar novas coisas e pessoas.



A todo esse estresse de lidar com a passagem do tempo estamos lidando com uma espécie de Complexo de Chronos, em torno do qual orbitam nossos medos, emoções e ansiedades em torno do tempo.



Como sugestão, desejo que você faça as mesmas coisas de forma diferente. Não deixe que o passar do tempo tire de você a capacidade de ter tempo para refletir, de “perder” um pouco do seu tempo na escuta daqueles que solicitam tanto sua atenção e que você alega nunca ter tempo para ouvir. Tempo para se despedir daqueles que o tempo está levando, mas que teve tempo para cuidar de você quando você precisou. Reavaliar o tempo que você desperdiça, sabotando suas próprias potências. Tempo para perdoar aquela mágoa que o tempo parece não apagar. Não perder tempo com coisas e pessoas que nada lhe acrescentam e só roubam o seu tempo. Tempo para desenvolver humildade e entender que sempre é tempo de aprender mais. Tempo para agradecer a Deus, o Senhor do tempo, todo o tempo que Ele tem lhe permitido estar aqui para aprender, crescer, amar, se iluminar. Descansar no tempo de Deus, “porque para todo o propósito há seu tempo e juízo” (Eclesiastes 8:6)



Ps. De qualquer forma confesso a vocês que eu vou romper ano de branco, afinal como diz o ditado “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”

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