domingo, 28 de março de 2010

Os 36 anos de uma obra pela vida

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As estatísticas, frias e racionais, não calculam nem alcançam a exatidão emocional das lágrimas e sangue de todos os dramas familiares e tragédias sociais produzidos pelo alcoolismo, mas nos mostram a dimensão do grande prejuízo humano acarretado pela bebida alcoólica.

Os números, embora pareçam insensíveis, não mentem: no Vale, o que é um reflexo do que acontece no restante do país, mais de 60% dos assassinatos, briga entre jovens, acidentes de trânsito com vítimas, agressão contra mulher e abandono de incapaz estão associados ao consumo de bebida alcoólica. Sem contar os dramas pessoais dos alcoólatras (homens e mulheres viciados em bebida): inúmeros perdem a saúde, a família e o trabalho devido ao alcoolismo, que é considerado uma doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde), um mal que não afeta somente o organismo biológico, mas, principalmente, o tecido familiar e social.

As estatísticas que mostram toda nocividade da bebida alcoólica são produzidas pelos órgãos de saúde e segurança públicos, que gastam milhões de reais todos os anos para tratar vítimas e perseguir culpados. No momento em que os hospitais estão cheios de homens e mulheres mutilados em acidentes de carro e moto ou feridos à bala e à faca, a polícia também está queimando tempo e dinheiro público para elucidar os casos.

Mas há problemas que os hospitais nem a polícia resolvem: a degradação familiar e a separação conjugal quaase sempre resultam no abandono dos filhos por seus próprios pais, acarretando um dano social ainda mais grave: a marginalização de crianças e adolescentes, que, jogados nas ruas, terminam recrutados para o crime como único meio de sobrevivência, uma opção de vida nada agradável.

Essa realidade trágica não é mostrada nem discutida pela televisão por um motivo comercial: é a verba publicitária das cervejarias que banca os programas televisivos mais vistos do país e, obviamente, a TV não vai falar mal de quem a sustenta. Ao contrário, a cada 30 segundo aparece uma moça bonita e sensual na propaganda em forte apelo em defesa do consumo da bebida.

Da mesma forma age o governo: e o descaso com o problema também é resultado de uma questão econômica: cada dose de cachaça, cerveja ou uísque consumida, o poder saboreia milhões em imposto.

Se a grande mídia e o poder público são omissos, igrejas e escolas também não fazem um trabalho permanente de combate e conscientização sobre o aumento desenfreado do consumo, e todo malefício acarretado pela bebida alcoólica, que é barata e está à venda em todas as esquinas, inclusive para quem não deveria ter acesso a ela: os menores de 18 anos, mas poucos estabelecimentos respeitam a lei.

Apesar de toda essa problemática, apenas uma entidade, nascida há 75 anos exatamente como última esperança para os alcoólatras ou “bebedor problema”, como dizem os seus membros, tem feito um trabalho permanente de conscientização sobre o alcoolismo e livrado muita gente dos males da bebida. Hoje há irmandades de A A (Alcoólicos Anônimos) espalhados por todo o Vale, mas a irmandade chegou primeiro em Itaporanga, que tem o quarto grupo mais antigo da Paraíba.

Redenção do Vale

No próximo dia 27 de março, o grupo de A A Redenção do Vale, o primeiro da região e organizado em Itaporanga pelo curralvelhense radicado em Patos, João Sucupira, já falecido, completará 36 anos. Nesse período, inúmeras vidas e famílias destruídas pelo alcoolismo foram recuperadas graças ao trabalho de Alcoólicos Anônimos, cujo método de ação baseia-se na reunião regular e permanente dos seus membros e na troca de experiências vividas por cada um deles no mundo do alcoolismo.

A prece da serenidade e o “não” ao primeiro gole são princípios que acompanham os membros do AA e ajudam-nos a permanecer sóbrios. A consciência de que o alcoolismo é uma doença incurável e que a não reincidência passa pela disposição de se evitar a primeira dose ajudam na recuperação das pessoas membros dos Alcoólicos Anônimos.

Além das atividades internas na recuperação das vítimas da bebida alcoólica, o grupo Redenção do Vale faz um trabalho público de conscientização sobre a problemática da bebida alcoólica. Palestras e programas de rádio são armas utilizadas na luta contra os malefícios do álcool.

Atualmente, o grupo Redenção do Vale, cujo Representante de Serviços Gerais (RSG) é M. Ferreira, conta com mais de 200 membros e tem um programa diariamente, das 6h15 às 7h, na rádio comunitária de Itaporanga, Boa Nova FM. “Foi também através do nosso grupo que irmandades de Alcoólicos Anônimos foram criadas em Conceição, Piancó e Coremas, e lutamos para que novos grupos sejam espalhados por toda a região, porque temos que dar de graça o que recebemos de graça”, comenta I.Alves, apresentador do programa, ao anunciar para o próximo dia 27, a partir das 20h, no centro pastoral de Itaporanga, uma reunião de esclarecimento ao público sobre Alcoólicos Anônimos, em comemoração ao aniversário do grupo Redenção do Vale.

I.Alves destaca ainda que um dos grandes baluartes para o funcionamento e consolidação do grupo de AA em Itaporanga foi o alfaiate aposentado Agápio Sertão, que integrou o Redenção do Vale durante vários anos e permanece em sobriedade.

O nascimento do AA

Alcoólicos Anônimos é uma entidade mundial. Surgiu nos Estados Unidos em 1935 por iniciativa do médico cirurgião dr. Bob e do corretor da Bolsa de Valores Bill W. Ambos tinham problema com alcoolismo, mas em um encontro, onde cada um contou sua experiência nada agradável de alcoólatra, conquistaram a sobriedade e, a partir de então, começaram a utilizar o mesmo método para livrar outras pessoas do alcoolismo. Em poucos anos, a entidade espalhou-se pelo mundo inteiro, salvando milhões de pessoas dos problemas advindos do consumo descontrolado da bebida alcoólica.
jornal Folha do Vale - Ed 165

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