sábado, 25 de junho de 2011

POESIA MATUTA = O JÚRI

O JÚRI
Pompílio Diniz


Num hái, no mundo, home mole
Dêsse ditado num isqueça:
“Quem cum muntas peda bole
Uma lhe quebra a cabeça!”
“Boa rumaria faz
Quem em casa fica im paz”
Pra qui nada lhe aconteça...

Veja bem: im Conceição,
Havia um cabra valente
Qui tinha pur profissão
Batê im cara de gente
Brigava cum cinco ou seis
Cum ele num tinha vez
Nem respeitava ambiente!

de Soiza, onde chegava,
O povo todo curria
Delegado se trancava
E a puliça se iscondia
Inté os Santo do artá
Quando via ele passá
Fechando o zói se binzia

O contráro desse home,
Tombem tinha em Cunceição
O cabôco Zé Girome
Vagaroso e molêrão...
Pois arrepare Dotô:
Foi Girome quem matô
de Soiza, o valentão

Dispois foi preso e jurgado
Pelo Juiz de dêreito
Qui tombem é delegado
Cum izercíço de prefeito...
É ele em nossa cidade
Um home de oturidade
E o qui fizé tá bem feito!

No dia do jurgamento
O pessuá se ajuntô
Pra iscuitá os dipuimento,
Pra vê Girome depô
pru meio da odiênça
O Juiz pidiu licença
E a Girome preguntô:

- Foi voimicê quem matô
O difunto qui morreu?
E Girome arrespostô
- Mas seu Juiz quem sou eu!...
de Soiza era um bandido
E voimecê tá isquicido
Da surra qui ele lhe deu?!...

O Juiz se istremeceu
E adispois torno falá:
- Você responda pra eu
Somente o qui eu preguntá
E num foi surra nhôr não,
Foi somente uns impurrão
E pode cuntinuá

- Pois eu só dixe: ô seu coisa!
E o finado respondeu:
- O meu nome é Zé de Soiza,
Qui é qui ocê qué cum eu?
- Eu só quero qui seu Zé
Pru favô tire o seu pé
Qui tá pru riba do meu!...

Voimicê ta machucano
Os calinho do meu dedo!...
Ele entonce foi me oiano
Cum cara de faze medo
E falô  assim pra eu:
- Se quizé qui tire o seu,
O meu num tiro tão cedo!

- Nesse momento dotô
Somente pra num brigá
Imbora sintino a dô
Eu dexêi ele pisá
Dispois afastei o pé,
Foi quando o finado Zé
Caiu sem eu lhe impurrá!...

Seu juiz vá curiano:
Nessa merma ocasião
Eu tava as unha cortano
Cum a pexerinha na mão
Cuma o finado num viu
Prurriba dela caiu
Num tive curpa Nhor, não!

Sabe o dotô  cuma é:
Metê  mão no pé do uvido
Pisá nos calo do pé
Divia sê pruibido...
É pru mode essas bestêra
Qui pru riba da pexêra
Muita gente tem caído

Quando o finado caiu
Foi liquidado o assunto...
O povo fez qui num viu
Mas cuma eu tava ali junto
Fui logo acendeno a vela
E ele isticano a canela
Num instante virô difunto

Pregunto agora ao dotô
Quem foi qui fez labacé
Quem nos meus calo pisô
Não foi o finado Zé?
A pexêra fez o resto...
Eu cuma sô home honesto
Apena afastei o pé!

Entonce o juiz falô:
Dispois do réu se calá
- Pelos carcos qui eu já fiz,
Vou Zé Girome sortá...
Cuma a lei é justicêra,
Vou condena a pexêra
Qui na prisão vai ficá!

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