segunda-feira, 5 de setembro de 2011

CLA BRASIL - Forró pé de serra continua vivo e passa bem


Nordeste, baião





Qual fogueira de São João











José Nêumanne





O bom pé de serra não morre jamais, como provam novos nomes que tocaram no Ibirapuera





Agora na Secretaria de Cultura de seu Estado, a Paraíba, Chico César, autor de Mama África
e outros sucessos do cancioneiro nacional, passou a promover a vinda a
São Paulo de vários colegas e grupos para que o Sudeste conheça a prata e
a faiança de sua casa. Numa noite inesquecível no Auditório do
Ibirapuera, onde Osvaldinho do Acordeon, emocionou todos acompanhando o
Clã Brasil em Escadaria, o teste fatal do bom sanfoneiro,
composta pelo gaúcho Pedro Raimundo e tornada sucesso por Zé Calixto,
foi também apresentado o irmão de Zé, Luisinho Calixto, autor de um
manual único para ensinar um instrumento de dificílima execução, que é o
fole de oito baixos, instrumento que Luiz Gonzaga imortalizou cantando a
memória do pai em Respeita Januário.








A
noite do Ibirapuera serviu para exibir algumas boas revelações. A
primeira delas é que o chamado “forró universitário”, que invadiu os
arraiais juninos do interior do Nordeste com o êxito do grupo Fala
Mansa, de São Paulo, e o chamado “forró de plástico”, indústria
lucrativa do cearense Manuel Gurgel, é alternativo, mas não substituto
do chamado “pé de serra”. Trata-se apenas de uma variação bem-sucedida
de uma grande invenção de marketing do “Rei do Baião”, que é o forró,
gênero assim denominado de uma corruptela da palavra portuguesa forrobodó, sem nada que ver com a expressão for all,
usada pelos ingleses que foram ao Nordeste construir ferrovias e,
segundo conta a tradição, assim chamavam suas festas. A segunda é que o
massacre comercial dessas “corruptelas” da música regional não matou
seus talentos, como se chegou a pensar quando grandes artistas do gênero
– caso de Antônio Barros, autor de mais de 700 sucessos juninos (como Homem com agá e Por debaixo dos panos,
sucessos nacionais na voz de Ney Matogrosso) e sua mulher e parceira,
Cecéu – passaram a abrir shows das bandas formadas por profissionais
itinerantes e em rodízio sob o poder de Gurgel.








Luisinho
Calixto, natural de Campina Grande, Paraíba, e residente em Fortaleza,
Ceará, hoje percorre o interior, a partir de Caruaru, Pernambuco,
concorrente de sua terra natal na disputa pelo título de “maior São João
do mundo” ou do “universo” inteiro, ensinando jovens talentos a tocar o
difícil instrumento camponês, que lembra um bandaneón portenho e
cujas limitações dificultam o aprendizado e a execução. Trata-se de um
mestre itinerante que mantém a tradição que veio de Januário, passou por
Abdias e está hoje nas mãos dos irmãos Calixto.





E
o Clã Brasil, com graça, alegria e competência musical, prova que o
forró não morreu nos palcos do Nordeste e do Brasil. Apesar das
dificuldades de transporte, pois o grupo é composto pelo professor
universitário Badu, egresso do sertão do Vale do Piancó, sua mulher,
Morena, os sobrinhos Fabiane e Francisco e as filhas Lizete, Laryssa e
Lucyane (que deixei por último por ser a estrela mais fulgurante da
constelação, sanfona e fole à mão), e exige o transporte de 12 pessoas
para mostrar a todos “como se canta e dança o forró” com simpatia, luz e
energia.








Ao
Ibirapuera o Clã Brasil trouxe dois projetos em andamento que resgatam o
melhor da música regional nordestina. Num deles, homenageia o
classificador de algodão pernambucano que viveu em Campina Grande (onde
fazia o programa de rádio Forró de Zé Lagoa) Rosil Cavalcanti, autor de Sebastiana, sucesso de Jackson do Pandeiro) e Tropeiros da Borborema (gravado por Luiz Gonzaga). O objeto da outra homenagem é o Rei do Baião, inventor do trio de sanfona, zabumba e triângulo.


José Nêumanne, poeta, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde.


(Publicado na Pág D6 do Caderno 2+Música do Estado de S. Paulo, sábado 3 de setembro de 2011)





1 comentários:

só pessoas inteligentes, como o josé,para efetivar comentários valorosos à respeito de uma musicalidade genial, fantastica e nobre do maravilhoso clã brasil. Viva o forró pé de serra, viva para sempre a genealidade desse grupo, autentico defensor da musica de qualidade.

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