sábado, 29 de outubro de 2011

BUSÃO SEMPRE PRESENTE

BUSÃO SEMPRE PRESENTE
(Reynollds Augusto)


As coisas para acontecer no plano do concreto leva tempo e o tempo é ardiloso com a humanidade, pois se apresenta, em dado momento, rápido demais e em outros, demora pra "caramba". É a tal da relatividade temporal defendida pelo grande Einstein. A ansiedade estica o tempo e o ansioso sempre sofre por antecipação.
No tempo em que cumpríamos o ritual diário para "pegarmos" o Busão Vermelho da Prefeitura de Itaporanga, para viajarmos a Patos, à Universidade,  era um sofrimento danado e parecia que a cidade de Patos ficava mais longe.
À volta, nobres leitores, era um Deus nos acuda, parecia que não chegava nunca e ainda tinha - naquele tempo já tinha - os trocas, trocas no meio do caminho para que pudéssemos democratizar as cadeiras, naquela “lata de sardinha” andante. São quadros de um tempo que ficaram guardados no mundo íntimo, no tempo da adolescência, em que todos os desafios eram estímulos.
Lembro-me bem que o grande DEON FONSECA morava próximo a Posto de Manoel Bernardino. Ali onde mora a minha amiga Corrinha e o combativo Euclides, se não me engano, e no auge do sono e do torpor da viagem, ficava com “inveja” do primo, que descia do ônibus, praticamente próximo à sua cama. Parece pouco mas fazia uma diferença danada, pois era a primeira parada feita pelo saudoso CHICO BRILHANTE, uma figura que tinha um “brilho” na língua, junto com a estudantada toda, que fazia do Busão uma extensão de suas casas. A vida alheia e as fofocas estavam sempre em pauta.
Coisas de Estudantes! 
Mas o que eu tinha inveja mesmo era do “wachmen” de Imeuda, hoje a turma usa o MP3. Naquele tempo possuir um aparelho daqueles, não era para qualquer um e quem estava desempregado, como eu, era um sonho. Mas a minha  vizinha de poltrona, Maria Imeuda, sempre foi solidária. O tempo para ela passava agradável e logo, pois viaja ouvindo as belas músicas da temporada e a viagem no Busão ficava mais agradável. Enquanto nós, pobres mortais, estávamos sendo sempre bombardeado com a música “Couro de Passarinho”, do Roberto Carlos, cantada por Antônio Carneiro, sem nenhuma afinação. E o pior, na boca dele só existia uma estrofe chata; o tempo, meus caros, para Imeuda, era parceiro e passava agradavelmente.
 Imeuda, introspectiva, viajava amena e feliz da vida, não fazendo parte daquela algazarra repetida. Vez por outra ela exercia a solidariedade e me emprestava um fone de ouvido para que eu pudesse ouvir as melhores músicas de um tempo, que foi as da década de 80. Aquilo sim era música para ser ouvida. As românticas nos faziam sonhar e principalmente quando ficava paquerando aquela que seria a minha futura esposa, de longe. Uma das mulheres mais lindas do Busão e tinham muitas.
Itaporanga é terra de mulher bonita.
De repente, no meio do caminho o BUSÃO PÁRA. Era CHICO BRILHANTE, para mais uma vez ameaçar aqueles estudantes que estavam atrasados com a taxa do motorista. Eu fui nomeado o “cobrador” oficial e quando os estudantes velhacos demoravam a pagar, recorria ao Chico, cuja língua convencia qualquer um. Era um verbo ameaçador de pressão.
- “Wila” disse que, se essa semana o pessoal que está atrasado no “lanche” do motorista não pagar, na próxima não entra
- (Vaias...)
- Não adianta gritar. Ou paga ou não entra.
Manoel Cabeção sempre se esquivava, mas por desafio, e dizia que não tínhamos obrigação de pagar essa taxa, fundamentando.
- Não quero nem saber. Ou paga, ou não entra.
E os debates corriam noite adentro. Quase dava para ver o sol nascer.
- Vamos embora que tenho marido e filho para cuidar e amanhã tenho que trabalhar cedo
Coisas do Busão...

PENSE NISSO! MAS PENSE AGORA

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