terça-feira, 24 de julho de 2012

REMINICÊNCIAS II

Era o princípio de 1980, eu já residia à rua Padre Lourenço e naquela manhã o destino marcou o encontro pra nascer uma amizade que duraria para sempre. Eu estava como de praxe, sentado na calçada com o violão quando um jovem de boa aparência aproximou-se sorridente, pediu o violão e tocou beira-mar de autoria de Zé Ramalho, tratava-se de Zelito de seu Djalma o músico, o marceneiro e desse dia em diante sempre estivemos próximos, nos tornamos parceiros na música e mais tarde compadres. 

Dividimos momentos de alegria e descontração e também coisas amargas. O que mais me marcou foi quando ele trouxe para mim de Fortaleza um órgão Novatron, uma caixa acústica e um amplificador valvulado marca Palmer e que tempos depois decidi vende-lo para obter m pequeno lucro. E vendi a um evangélico da Igreja Batista chamado Deja, a transação foi feita por Zelito e o tal sujeito emitiu dois cheques que somava a quantia de R$ 4.500,000,00 em cruzados ou cruzeiros novos, não me lembro bem. 

Dias depois numa manhã fatídica me apareceu Zelito que já era meu compadre, apreensivo, me dizendo que iria ser preso pois arrombaram a Igreja Batista e levaram os objetos que vendemos e o delegado na época, sargento Dias o teve como principal suspeito, seguimos até a delegacia e diante do delegado Dias, seco e incoerente ele apenas reiterou o que me falara antes o compadre Zelito, então eu retruquei:

Olhe seu delegado, o meu compadre não vai ser preso, ele não é ladrão, mas sim um cidadão de bem, um trabalhador. Chame por favor quem prestou queixa que resolveremos o caso, 15 minutos depois chegou lá Deja, com um sorriso angelical que não escondia a sua hipocrisia, embora se dizia evangélico, e foi claro:

É! Devolvam-me os cheques que retirarei a queixa.

Eu aceitei aquela condição, devolvi os cheques mas livrei o compadre Zelito das grades. Naquela mesma hora seguimos até sua casa e ele me mostrava sua prole, cinco pequenas vidas que dava para cobrir com um balaio, naquela casinha humilde situada na rua Dandão Severino. O compadre partiu para o Distrito Federal onde se deu bem e agora garantia o sustento da família.

Mais ou menos dois meses depois o sargento Dias mandou me chamar e trocando a cara feia por um ar de riso me comunicou que os objetos haviam aparecido, embora deteriorados pois se encontrava numa pedreira nas proximidades do hospital e sofreram chuvas intensas, porque era período de inverno. Fizeram tudo isso só por maldade. Então Dias perguntou se eu queria botar o caso a frente e eu respondi:

- Não sr. delegado, não vale apena pois sei haverá pouco interesse. Eu perdi o meu dinheiro e meu pobre compadre quase foi preso inocentemente. O que se perdeu, que perdido fique. 

Naquele momento pedi licença e segui para casa e entreguei o caso nas mãos da Justiça Divina, que é reta e nunca falha.

Onildo Mendonça
 
Ao caro amigo Paulo Rainério Brasilino portaldovale.net

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