quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Saudades do Exílio

Escrever assim de supetão, sem mais nem menos, abruptamente, com o título acima – suponho eu – deve surpreender o meu contrariado leitor, achando-me contraditório e inconsequente, pois, no seu entender, "Saudades devia ter tido da nossa pátria enxovalhada em 1964 de onde foi enxotado com outros comunistas e não do dourado exílio cubano sob as barbas de Fidel Castro, bem alimentado pelo ouro de Moscou que não existe mais”.

Equivoca-se rotundamente quem assim pensa e, consequentemente, reage, pois é ela, a saudade, um nobre sentimento celebrado pelos poetas em todos os recantos do mundo embora amargure o coração de todos os entes queridos que nos rodeiam. É dessa saudade que sinto, falo e escrevo.

Saudades de miss Mariel Mitchell, aquela milionária norte-americana, beirando a casa dos oitenta anos, que, generosamente, concedeu-me o primeiro emprego remunerado na cidade do México dois anos depois do golpe militar no Brasil.

Na verdade ela precisava de um jardineiro, colocou anúncio no jornal Excelsior da capital mexicana cujo amassado recorte lhe apresentei na secretaria da Coronett Hall Scholl localizada no aprazível Parque España.

Católica fervorosa, ouviu-me atentamente e decidiu aproveitar-me a trabalhar na biblioteca estudantil do seu colégio, – cerca de três mil alunos – concedendo-me ainda uma bolsa de estudos com salário mensal de hum mil e trezentos pesos mexicanos.

Se para aquela veneranda católica seu gesto para comigo fora uma caridade cristã, com direito a registro no boletim celestial, para mim significou uma espécie de milagre que me acompanharia anos a fio nos meus quinze anos de exílio.
Paulo Conserva

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