quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Os Educandários de Itaporanga

OS EDUCANDÁRIOS DA CIDADE DE ITAPORANGA
                                                          ( José Assimário Pinto)

Os educandários eram humildes e toscos.

As crianças do meu tempo não tinham o que tem as de hoje. Pois lanche o governo não dava, nem qualquer tipo de refeição.

O pobre chupava o dedo e a criança rica, ou abastada, conduzia o seu lanche e não compartilhava com ninguém.

Perfeitamente me lembro das minhas primeiras professoras (tais como as profs. Leda Pinto e Orquiza Pinto, ambas as filhas de Caçula Pinto e dona Hilda, professoras Rute, Juraci e Valquíria, filhas do casal Valfredo de Souza e dona Praxedinha).
Isto faz muito tempo, mas não deixo de registrar meu agradecimento pelo esforço magnânimo dessas pessoas que praticamente de graça, ensinavam a todos nós. Antes mesmo de existir o grupo escolar Semeão Leal que tantos e honrados serviços prestou a comunidade.

No grupo Semeão Leal, repetia-se o se que aprendera com as mencionadas pessoas, ao longo do tempo, e muitos estudantes, dali já saiam com seu primário concluído, o que não foi o meu caso diante do fato de que Pe. José Sifronho de Assis ao chegar à Itaporanga, fundou a Escola Paroquial e para lá levou os melhores alunos do Semeão.

No grupo escolar lembro-me o que era disciplinamento.
A diretora Doralice, que posteriormente veio a desposar do senhor José Araújo Freire, era uma mulher de muita autonomia e pulso e filha do casal seu Josué Pedrosa e dona Salomé Pedrosa, de quem falarei mais adiante num capítulo à parte.
A diretoria do Semeão Leal ficava em sua entrada e era ocupada por dona Doralice em um birô posposto à uma porta de madeira bem fornida comprida que subia do chão até quase o teto e se abria no meio.

As salas de aula eram imensas com carteiras compridas e espaldeadas em madeira, onde se sentavam três ou quatro estudantes, bem ventiladas por várias janelas rudes mas aconchegantes.

À hora do recreio, os alunos se dirigiam em filas indianas e ocupavam o galpão que viria a servir de clube às famílias do lugarejo, em face de que nessa época ainda não existiam clubes na cidade.

Numa certa ocasião houve uma briga dentro do salão e as senhoras corriam enlouquecidas sem saber sequer onde havia uma porta de saída. E muitas rasgaram seus vestidos, que na moda eram justos e estreitos, na tentativa de pular o muro divisório construído pelo Estado.

Os músicos, nas noites enluaradas do sertão, dedilhavam sanfonas e pandeiros para a alegria e deleite de todos e corria-se uma tradicional “vaquinha” para pagamento deles.
Naquele tempo, era-se feliz, não havia violência de qualquer espécie. O povo compartilhava de tudo com muita paz e apreço.

Saudades que tenho daquelas noites onde a viola chorava triste, mas irradiava felicidade.

Campina Grande, 23 de Dezembro de 2013.

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