domingo, 6 de julho de 2008

Da Úmbria a Cochos

Por lucas em 04/7/2008

Meu prezado Saulo, pois não é que Itaporanga está voltando aos tempos do trabuco? Pelo menos na mentalidade de alguns que por força das circunstâncias não conseguem acompanhar a revolução da roda da vida, desconhecendo, por soberba e ignorância, o ciclo evolutivo das coisas. Ainda se fundem em leis retrógradas e absurdas, apanágio de Grupos Prepotentes que a todo custo querem usar o relho como sinal de sua força, de seu poderio. Como os grilhões podem deixar mostras de cicatrizes corporais, apelam para o apavoramento moral, achando que podem calar as vozes dos que clamam pelo bem-estar de uma Sociedade, de um Povo, de uma Comunidade.

A Úmbria é uma região da Itália, terra de ilustres e veneráveis Santos, tais como: São Bento, Santa Clara, São Francisco de Assis e também da Santa conhecida como a padroeira das causas impossíveis, Santa Rita de Cássia. Como em Itaporanga, em Cássia havia dois grupos que dominavam toda a região, a família Cecchi e a Mancinni. Foi justamente desta família que saiu aquele que viria ser o esposo de Rita, Paolo Mancinni, um assassino frio, acobertado pelo desmando reinante na época. Aos Cecchi e aos Mancinni, por serem famílias importantes, era dado o direito da vingança, aplicada, impunemente, a bel prazer. Aqueles que não se submetessem aos seus caprichos eram considerados rebeldes e, consequentemente, sujeitos à vingança, por desfeita. Conta-nos a história que Rita com muito fervor e oração conseguiu abrandar a fúria do esposo e humanizar seu coração.

Longe de mim, querer fazer comparação, mas a história se assemelha, quando um cidadão do povo vê suas pretensões frustradas por ameaças mesquinhas, porque sua filha foi julgada à revelia como uma rebelde e como tal, passiva de punição. Ignoram aqueles, que ninguém na face do Planeta foi, é ou será capaz de calar a voz das letras, o eco das escritas, o retumbo das manchetes, das mensagens literárias, dos noticiosos jornalísticos. O silêncio de Poliana, até então, era compreensivo e inteligente. Como toda filha zelosa, ela primava mais pela família. Sei de sua sede de escrever, mas o respeito pelo Pai, pelo que poderia lhe acontecer, impedia que ela fosse ao pote jornalístico, talvez até, aceitando como exemplo o que falei aqui acerca das perseguições existentes na Misericórdia do trabuco, em outra matéria.

O impressionante, é que os acontecimentos surgem bem dentro do seio de uma família, em determinada ocasião, mas com o decorrer do tempo, são jogados no rol do esquecimento, não servindo sequer, como exemplo de vida, sem que seja tirada lição alguma do que se passou. Lembro-me bem, certa feita conversava com João Dehon, que conhece muito as estórias de Misericórdia, pois, segundo ele, sua mãe gostava de lhe contar. João Dehon, como todos sabem, é um andarilho, percorre o Brasil inteiro fazendo Palestra sobre AAA e não sei se sua estada por aqui era em função de alguma palestra. Conversávamos num restaurante, aqui, em Marechal Deodoro, que faz parte da Grande Maceió, sobre nossa Cidade. Naquela ocasião, entre tantas recordações, falando na antiga política ali praticada, ele me narrou o caso de um influente Cabo Eleitoral que certa feita pregou uma peça em determinado cidadão. Não sei se hoje em dia, se usa a expressão BOTAR NA RUA, como demitir, tirar o emprego. Naquela época era bastante usada. Pois bem, segundo João Dehon, uma determinada professora misericordiense lecionava no sítio Cochos, era professora estadual, e sua aspiração e da família é que ela pudesse vir a ensinar em Misericórdia. Ela era bastante engajada na política, uma espécie dos militantes de hoje. Consta que após o pleito e derrota de seu candidato, aquele Cabo Eleitoral, de hostes contrárias, vitorioso, encontrou-se com o marido dela, em Campina Grande e, sarcasticamente, disse-lhe: - Amigo, botei sua mulher na rua! Muito obrigado, é o que todos nós desejávamos, respondeu-lhe, o esposo. Dias mais tarde, vinha-se saber que a professora tinha sido demitida, perdera o emprego.

É interessante como a história está sempre a se repetir. Em Cássia, na Úmbria, as famílias Cecchi e Mancinni, após dominar arbitrariamente toda a região, passaram a querer o domínio, isoladamente. Assim, começaram os assassinatos entre as duas famílias pelo Poder. Como ambos os lados eram poderosos e tentando evitar uma carnificina maior, surgiu dentre eles, uma figura sensata propondo uma trégua. O domínio da região ficaria por dois anos com uma família, depois, mais dois com a outra e assim, sucessivamente. A dificuldade já começou para saber qual das duas iniciaria tal sistema. Depois de muitas discussões e ameaças, coube aos Mancinni a primeira etapa. Consta que, ao final desta primeira etapa, de posse do poder, estes não desejavam cumprir o acordo estabelecido e para entornar o caldo, Paolo Mancinni, o esposo de Rita, foi assassinado e tudo voltou ao que era, luta armada pelo poder, mortes, traições e todo coquetel de violência possível.

Falando, ontem, com meu amigo em Itaporanga, pelo SKYPE, ele me despertou para algo que eu não havia pensado ainda. Ele me dizia: Cara, esta aliança não foi de graça, não! Will não dá murro em ponta de faca! Tenho quase certeza que foi feito um pacto. Se eleito Djaci governa até 2010, quando poderá sair candidato a Deputado Federal e Wilza passará a administrar os dois anos restantes, na verdade só assumirá, porque todos nós sabemos quem irá governar de fato. É um raciocínio lógico, resta saber se combinaram com o povo. E aí é onde o cidadão deve ficar esperto. Porque se o eleitor vota em determinado candidato, é porque ele está desejando que o eleito governe por 4 anos, como manda a Constituição e o que é mais importante, não estejam fazendo achincalhe, zombaria, de seu voto.
publicado no Itaporanga.net

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