sábado, 30 de novembro de 2013

Abuso sexual de crianças ocorre mais dentro de casa


O principal refúgio de uma criança ou adolescente é o “seio familiar”, onde a base do jovem é formada e onde ele adquire os conhecimentos mais importantes para a vida em sociedade.

Mas para muitos meninos e meninas paraibanos é no “lar” onde o abuso e a violência são vivenciados, através de pais, avôs, tios, irmãos e padrastos.

De acordo com o Ministério Público Estadual (MPE), até setembro deste ano, foram 627 denúncias de abuso sexual e 80% estão relacionadas a casos cometidos pelos próprios familiares das vítimas.

Ainda segundo o MPE, a Paraíba está em 13º lugar no ranking dos estados brasileiros, em abuso e exploração sexual.

Depois de 17 anos vítima do segundo aproveitador, “Maria de Lourdes” (nome fictício) decidiu contar a sua genitora o abuso cometido pelo avô, quando ela tinha 8 anos de idade. Hoje com 25 anos, a jovem preferiu não se revelar por vergonha e trauma.

Ela contou que foi nessa idade que o avô começou a molestá-la através do contato físico, dentro de sua própria casa, quando a neta visitava os avós. “Minha mãe nos deixava (ela e o irmão) na casa deles no final de semana e eu costumava dormir no sofá, então ele ficava rezando à noite até que minha avó dormia e ía mexer comigo, passava a mão nas minhas partes íntimas e eu continuava fingindo que estava dormindo. Uma vez quando eu tentei reagir, ele disse que estava matando mosquito”, disse.

Mas a jovem informou que o avô paterno não foi a primeira pessoa a abusá-la. Aos 6 anos, o padrasto de sua mãe oferecia salgadinhos e bombons para que ela sentasse em seu colo e ele pudesse tocá-la. “Eu era muito criança nesse tempo e não entendia muito bem. Com o meu avô eu já sabia que era errado, mas tinha muita vergonha de contar a alguém, só tive coragem quando ele faleceu, então eu contei a minha mãe. Hoje eu preservo o máximo possível meu filho e minha irmã, porque tenho medo que isso se repita com eles”, contou.

Conforme o oficial da Promotoria da Infância e Juventude do MPE, Rogério Antunes, o que está sendo constatado desde o ano passado, através das denúncias que chegam ao ministério, é o aumento de relatos de abuso sexual, em oposição aos casos de exploração sexual, que vem diminuindo na Paraíba.

De acordo com os dados da Promotoria, de janeiro a setembro deste ano foram registrados 627 casos de abuso sexual, contra 175 de exploração. O mês que mais registrou denúncias relacionadas a abusos foi julho, com 93 relatos. “A maioria dos casos, cerca de 80%, está relacionada aos abusos cometidos por pessoas da própria família da vítima e grande parte também é causada contra meninas”, informou.

Creas contabiliza mais de 400 violações de direito no primeiro semestre

Segundo os dados registrados pela Secretaria de Estado e Desenvolvimento Humano, nos 96 Centros de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), sendo 20 regionais e os demais municipalizados, foram constatados 407 violações do direito, do tipo abuso sexual na Paraíba, entre janeiro e junho deste ano. A maioria aconteceu contra meninas, correspondendo a um número de 302 do total. 

A coordenadora estadual do Creas, Madalena Dias, contou que muitas denúncias foram recebidas, depois do início da campanha “Não finja que não viu”, do Governo do Estado, que está percorrendo as cidades paraibanas desde maio deste ano. Segundo ela, equipes do Creas passaram por diversos municípios, realizando audiências públicas para identificar casos onde houvesse violação de direitos da criança e adolescente, inclusive abuso sexual. 

"Muitas vezes encontramos dificuldades, porque a maioria das crianças abusadas se torna retraída, especialmente os meninos, até pela carga social que é colocada no sexo masculino. O abuso sexual é um crime que fica marcado para o resto da vida da vítima. Mesmo com a ajuda de especialistas, que vão ajudar a criança a conviver socialmente de forma normal, aquele problema sempre será lembrado”, contou. Conforme a coordenadora estadual do Creas, Madalena Dias, estes foram os casos registrados em toda a Paraíba, mas ainda existem os casos nunca revelados pelas vítimas, que ainda se sentem encurraladas pelos violadores.

Isabela Alencar

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