quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Foda agoniada


 

Os dois rapazes chegaram na Pousada Bandeirantes do Centro Histórico com trejeitos de gays. Pararam no balcão, o mais saliente balançou a mão direita expulsando um mosquito imaginário de perto dos cabelos e pediu, luxento, um apartamento com ar condicionado, frigobar, tv e dvd. A mocinha da recepção informou que um desses custava 20 reais, o rapaz concordou na hora, pegou a chave e quando a recepcionista abria a porta de acesso ao corredor dos quartos, um terceiro apareceu empunhando o revólver 38. Era um assalto de comecinho de tarde, horário preferido por gente da vizinhança para botar as contas sexuais em dia.

A pousada estava cheia. Comerciários, comerciantes, desocupados, funcionários públicos, professores em greve, todos se encontravam trancados nos quartos, assistindo televisão. Os três rapazes não aceitaram maiores diálogos. Mandaram a mocinha abrir os quartos e botar todo mundo para o corredor. Ela, que não era besta, obedeceu na hora.

E aí foi saindo gente de todo tipo, alguns vestidos pela metade, outros completamente nús,teve nêgo que, no vexame, vestiu a calcinha da companheira em vez da cueca, algumas senhoras de respeito enrolavam-se aos lençóis para esconder suas vergonhas e algumas choravam, chamando pelos maridos.

Os rapazes fizeram a coleta, sem deixar escapar um brinco. Levaram dinheiro, celulares, anéis, alianças, trancilins, gargantilhas, pulseiras, bobes, diademas, dentaduras, olho de vidro, óculos, cartões de crédito e até um rosário entrou na dança, com o retrato de Nossa Senhora da Conceição pendurado na ponta.
Nem bem coletaram tudo, um dos homens determinou a abertura de um quartinho localizado no fim do corredor. Lá dentro estava um rapaz que, minutos antes, entrara com bela morena, depois de sacar 5 mil reais no Banco. O dinheiro, que não era dele, continuou não sendo, já que outro dono o reclamou. Aí, satisfeito, o trio que começou com uma dupla foi embora.

A mocinha chamou a polícia. Chegou um pelotão comandado pelo capitão Ferreirinha. O militar ouviu os relatos e decidiu levar todos para a Delegacia, a fim de colher seus depoimentos. Foi então que o mundo veio abaixo. Ninguém quís ir. Mulheres desmaiaram, homens tremeram, todos acovardados diante da possibilidade de descobrirem seus pinotes. Renunciaram as queixas, esqueceram os bens roubados e, depois de muito apelo, ficou o dito pelo não dito e todos foram embora para suas casas, com a cara de inocência e pureza enfeitando a paisagem.
Tião Lucena

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