quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Os excluídos da mamata


 

Edmilson Lucena

O problema da corrupção no Brasil é que ela não está ao alcance de todos. Daí a onda de indignação que invade nossa praia sempre que alguém é pego com a mão na botija. Nada pessoal com a turma da falcatrua! O brasileiro tem tanta bronca de corrupto quanto de qualquer outro cidadão que ganhou dinheiro honestamente, hipótese cada vez mais distante da maioria da população. Em ambos os casos, a revolta é a mesma: por que eles e não eu? Grita-se mais contra os que roubam porque criticar o sucesso financeiro de quem deu duro ou sorte na vida é inveja, olho gordo, pega mal hoje em dia até pra quem já foi de esquerda.

O vexame do ladrão desmascarado conforta quem não tem a mínima chance de acesso ao segredo dos cofres públicos. Os excluídos da corrupção, esses pobres diabos condenados a uma espécie de honestidade compulsória, ganham representação de peso no Congresso sempre que um Roberto Jefferson da vida vira notícia. Tirante os quadrilheiros da hora, todo mundo grita “pega ladrão”, “CPI”, “é uma pouca vergonha”, “o governo acabou”, “basta”! Nessas horas de histeria política, a gente reconhece o parlamentar honesto pelo silêncio. Deve ser vergonha! Só aparece gente horrível no “Jornal Nacional”. Repara só! Como são feios os corruptos e, como disse Caetano, lindos os burgueses.

Os caçadores de marajás estão de novo no cio. Tem gente no DEM ou no PEN que chega a gemer em nome da moralidade no uso do dinheiro público. Os acusados de ontem gritam contra os acusados de hoje, que vão gritar contra os acusados de amanhã... São legítimos representantes de um povo que não vê outra possibilidade de melhoria de vida a não ser uma bocada qualquer. É por isso que elegem esses mesmos que estão aí negociando votos, apoios, gratificações, rachuncho de repartições públicas – quem sabe não sobra alguma coisa pro eleitor!

O pobre, a classe média e quem já tem muito e quer mais, enfim, o brasileiro de uma forma quase que geral deveria acabar com essa hipocrisia e desencadear um movimento nacional inspirado naquela máxima do mestre Stanislaw Ponte Preta: “Ou todos nos locupletemos ou restaure-se a moralidade”. Mais do que justo, é humano!

O que não faz sentido é esse imenso desejo de se locupletar e restaurar a moralidade ao mesmo tempo, esse Brasil esquizofrênico que a gente finge não existir. Povo de boa índole é o escambau! O brasileiro é um ser humano como outro qualquer, já dizia o ex-ministro Antônio Magri, mártir da corrupção na era Collor. Todo mundo gosta de conforto, nem que seja um carro oficial para levar os cachorros ao veterinário de vez em quando, né não?

O gosto por levar vantagem em tudo – ainda que para a maioria seja um sonho inalcançável – já é da cultura do país, tanto quanto outra famosa preferência nacional. Resumo da ópera: o brasileiro sempre gostou de passar a mão na bunda dos outros, mas houve um tempo em que isso nada tinha a ver com bateção de carteira.

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