sábado, 20 de outubro de 2012

Sai “Ordem e Progresso”. Entra “Devo, não nego. Pago quando puder”


À medida em que o brasileiro vai se endividando, pipocam, aqui e ali, comentaristas de economia dando sugestões para sair do atoleiro ou de como levar uma vida financeiramente saudável. Já abordei o tema em outro post nesta semana mas, a partir de hoje, deflagro uma guerra santa às dicas de economia doméstica que, por não condizerem com a realidade do brasileiro, soam como aramaico. Em nome de Deus, basta de sugerir coisas que apenas uma minúscula parcela dos endividados – normalmente aquela que não precisa de dica – pode seguir! Isso é humilhação pública ou vergonha alheia, dependendo do ponto de vista.
Como disse um amigo, Alá nos poupe de enlouquecer ao ouvir respostas a questionamentos do tipo: “Tenho 22 anos, ganho R$ 7,5 mil por mês, economizo R$ 5 mil e tenho R$ 300 mil na poupança e em investimentos. Devo comprar um imóvel à vista ou dar entrada em dois?” Ai, que gastura.
Dizem que o brasileiro é um iletrado no que diz respeito à educação financeira. Pode até ser, mas a responsabilidade por isso não é apenas nossa. Ou você acha que um bombardeio de comerciais de TV afirmando coisas como “não use dinheiro, use Blastercard” não nos joga em um mundo Special, Silver, Gold, Platinum, Diamantium, em que o céu é o limite pré-aprovado do cartão? Aí depois, para corrigir o que anos de comerciais fizeram, a solução é Paulo Freire na veia, com o aprendizado ocorrendo através própria realidade. Em outras palavras, só a falência educa.
E, como já disse antes neste blog, não é uma questão apenas de gastar além do que se tem, mas não ter o suficiente para garantir o que foi construído, coletivamente, como um patamar mínimo de qualidade de vida. De acordo com o Dieese, o salário mínimo para atender as necessidades de uma família, atendendo ao que é previsto pelo artigo 7o da Constituição Federal, seria de R$ 2.616,11 – em setembro de 2012.  Como a gente resolve nesses casos? Qual seria a recomendação para essas pessoas? Sentar sobre a dívida e chorar? 

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