quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Código de Hamurabi

por Jesus Soares da Fonseca

Muito instrutiva a matéria de Pasquale Cipro Neto, “De onde vem a Lei de Talião”! Muito mais, ainda, porque aproveitando o tema ele se envereda por outros assuntos de muita relevância cultural. Um Site ou um Blog não deve se prestar, apenas, a informação, tem a obrigação também de, através de matérias de tal monta, levar a cultura aos seus leitores.

Feitas as considerações, tenho a dizer que a matéria em apreço trata da etimologia da palavra proveniente do vernáculo latino – talis, e – que no português significa: tal, de tal natureza, parelho, etc. Entretanto, a Lei de Talião, que no Latim é Lex Talionis, também conhecida entre os Romanos como Pena de Talião, não é originária do Império Romano, ela remonta a muitos séculos antes da fundação de Roma que se deu em 753 antes de Cristo, portanto, aproximadamente 1000 anos antes.

A Mesopotâmia, que significa Terra entre Rios (do grego, pótamos = rio, e mesos = meio), banhada pelos rios Tigre e Eufrates hoje em dia é a região onde estão incrustados o Iraque e parte do Irã. No século XVIII, AC, mais ou menos por volta de 1720 antes de Cristo, o Rei Hamurabi subiu ao trono do império babilônio, conquistando quase todas as cidades da Mesopotâmia. Quando assumiu o reinado, o encontrou cheio de mazelas sociais, então usando de sua habilidade e sabedoria criou leis severas com as quais pode governar com firmeza. O Império prosperou, principalmente, na agricultura que era a base de sua economia.

Foi no seu reinado que foram construídos os históricos Jardins Suspensos da Babilônia, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Todavia, o que ficou de legado para a posteridade foi a feitura de seu Código, conhecido como o Código de Hamurabi, feito em escrita Cuneiforme (alfabeto assírio com caracteres em forma de cunha), gravado em pedras de argila. Era composto de várias leis, com as quais o soberano podia governar a seu bel prazer. Dentre elas, aquela que no império Romano, séculos mais tarde viria a ser chamada de Lei de Talião. Ela foi escrita por volta de 1730 a.C. e se baseava na idéia de semelhança e correlação entre um mal praticado a alguém e o castigo a quem o causou, ou seja, para tal crime, a mesma pena, passado para nós através de um jargão popular: olho por olho, dente por dente. Há uma certa incongruência na interpretação desta Lei. No seu bojo, é verdade, há o “olho por olho e o dente por dente”, entretanto, deveria ser praticada pelas autoridades competentes e não pelas próprias mãos. E Hamurabi a instituiu porque havia no seio da sociedade babilônica a prática de se fazer justiça, cada um, como bem entendesse. Foi procurando, pois, por ordem na sociedade, nas questões de crimes diversos que a lei foi sancionada pelo soberano da Babilônia.

Há alguma controvérsia quanto à verdadeira origem desta Lei. Segundo alguns historiadores ela apareceu no Velho Testamento e não no Código de Hamurabi. Controvérsia à parte, a lei, socialmente falando, era muito injusta. Se alguém ferisse outrem com um chicote, por exemplo, teria que pagar o crime sendo, também, ferido por um chicote, todavia se o agressor fosse um nobre e a vítima um escravo, a lei não era praticada.

O Código de Hamurabi era composto de 281 leis e foi talhado num monolítico em forma de cone tendo na base 1,90 metros de circunferência e no topo 1,60mts, Tinha dois metros e meio de altura. Estas leis estavam escritas em cuneiforme em 46 colunas que rodeavam o monolítico. O interessante é que o Código, na verdade, tinha 242 leis, mas a cláusula de número 13 foi excluída por motivos de superstição. Como dá para se notar, a crença do azar do número 13 é bastante antiga.

Depois da morte de Hamurabi, o império babilônio foi alvo de inúmeras invasões. Naturalmente, como se sabe, devida à sanha dos invasores, o monolítico que continha o Código, certamente, seria destruído. Em face de tais eventos, ele era deslocado para diferentes localidades, a cada invasão, onde finalmente foi guardado na cidade de Susa, hoje, território do Irã, por volta de 1200 a.C. Foi descoberto em 1901, de nossa era, por Jacques de Morgan e levado para Paris, aonde o abade Jean Vincent Scheil fez sua tradução para o francês. O museu de Louvre, em Paris, guarda até hoje esta preciosidade histórica.

O Torah é o livro sagrado dos Judeus que, segundo muitos historiadores, os hebreus basearam diversas leis contidas neste livro no Código de Hamurabi. Contudo os doutos do judaísmo desmentem a tese, mostrando que não há fundamento algum na teoria. Se há alguma semelhança na escrita de textos, na prosa, eles se distanciam e muito no espírito.

Por exemplo, no Código de hamurabi é estipulada pena de morte para transgressores de uma propriedade estatal ou por aceitação de roubos. No Torah, a punição é uma compensação à vítima. O Código de Hamurabi reza que se uma casa mal construída causou a morte do filho do dono de casa, então o filho do construtor deverá morrer de idêntica forma. O Torah expressa que os Pais não devem ser condenados por culpa dos filhos ou vice versa. No Código de Hamurabi, se um homem de certa posição pratica incesto, deverá abandonar a cidade. No Torah, crime de incesto é punido com morte. E por aí vai! Como se pode notar, de certa forma, os rabinos têm razão.

Li, também, a matéria de Tião Lucena sobre a suposta tentativa de envenenamento de dois presos por parte de Divani. Gosto muito dos escritos de Tião, é um grande jornalista, sem dúvida, que expressa muito bem seu pensamento. Gosto de ler sua coluna, não só no seu Blog como também no bê-á-bá do sertão. Mas, como falou Saulo, em sua matéria, ele foi infeliz quando escreveu o artigo sobre nossa conterrânea.

Eu conheço Divani, era muito seu amigo, quando trabalhava em Itaporanga e presumo quanto ela tenha sofrido com a morte do esposo. Todavia, as leis estão aí para serem cumpridas. Já imaginaram o caos que aconteceria se todo mundo saísse a fazer justiça com as próprias mãos e ainda mais, levando-se em consideração que não há pena de morte no Brasil?

Muito boa a mensagem que Saulo deixou em sua matéria escrita mais abaixo. Muito profundo o conteúdo da matéria. É para se ler mais de uma vez e a cada leitura fazer novas reflexões e análises.

Um abraço!

4 comentários:

Jesus Soares Fonseca, um grande Redator.
Para ser um grande redator, duas coisas são necessárias, conhecimento geral e conhecimento específico. Esses dois componentes são a verdadeira essência dos escritos que tenho lido quando Jesus Soares Fonseca resolve dar o seu banho.
O que seria conhecimento geral e qual sua influencia para quem escreve: É o conhecimento acumulado em toda a uma vida. Quanto mais experiências você tem, mais conhecimento geral você acumula. E isso não tem necessariamente a ver com idade. Tem a ver com estilo de vida. Joseph Sugarman escreveu em um dos seus livros, que os melhores redatores são aqueles que têm vários hobbies, se interessam por muitas coisas, viajam bastante e são sedentos por novas experiências e conhecimento.
Nosso cérebro é um ilimitado disco-rígido, tudo que sentimos, comemos, vemos, ouvimos e experenciamos é armazenado. E, um dia, talvez sem se dar conta, você irá se lembrar de uma sensação de anos atrás que ajudará no processo de criação. Nada na vida é inédito, é tudo uma questão de selecionar os fragmentos certos num mar de experiências e transformá-las numa idéia original. Quanto mais conhecimento e experiências você tem armazenados, mais fácil de se encontrar os fragmentos certos e combiná-los para se chegar a grande idéia.
Uma das melhores formas de se chegar à uma grande idéia é relacionando coisas totalmente diferentes com o problema (produto) em si. Essa técnica é chamada de pensamento lateral. O conceito de pensamento lateral hoje é bastante utilizado no processo criativo, mas era uma grande viagem quando se ouviu falar pela primeira vez, em 1967. Por exemplo: você precisa criar um criativo anúncio de carro, mas é difícil ser criativo pensando em coisas: estrada, rua, rodas, potência, conforto… então você pensa em caminhos diferentes como: para-quedas, música e mágica. Pode ser que não dê em nada, mas é um ótimo caminho.
Jesus Soares Fonseca, pela maneira como escreve, certamente usa essa técnica e sempre trás a toma matérias fantásticas que servem até de calmante a nossa mente porque ele busca com palavras simples o que há de mais profundo e acalento os seus leitores com uma redação impecável.
Mas ele também tem um Conhecimento específico fabuloso, ele conhece o que escreve, ele conhece o seu público e sabe do que ele gosta, ele compreende o linguajar tanta do público alvo, como o seu próprio linguajar que será transferido para o papel.
Conhecimento específico é o acumulado na sua área de atuação. Mas redator não tem uma área de atuação, tem quantas forem necessárias para cativar o seu leitor. Conhecimento sobre computadores entendendo de hardware, conhecimento de uma ONG conhecendo a sua causa e por aí vai.
Há uma máxima que diz que uma boa maneira de começar a escrever é examinando a escrita em todos os angulos. Redator deve conhecer muito o assunto que vai escrever, mas quem escreve uma vez ou outra sabe que isso nem sempre acontece e as chega a pegar em suas escritas. Redator também tem que ter a grande habilidade de fazer do pouco, muito e é exatamente aí, onde o Jesus Soares Fonseca dá um banho.

Meu caro Jesus, desculpa o atrevimento em justificar e ilustrar tua matéria. e mais uma vez: Seja muito bem vindo!

Um abraço

Rainério

na verdade não é isso que eu procurava.
eu quero saber quais são as 281 leis que Hamurabi fez mas obrigada mesmo assim você me ensinou muito.


um abraço.

Fica com Deus.

Só uma nota, a lei mosaica chegou a condenar sim os filhos, parentes e mulheres, ou vocês se esqueceram de quando Acã e sua família foram apedrejados até a morte?

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