segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Homenagem a Dona Alzira


DONA ALZIRA
(Reynollds Augusto)

Hoje eu soube de uma notícia velha, que para mim é novíssima. Deve ter sido pelo fato da mãe dedicada ter ido morar muito longe de nós, que só hoje tive conhecimento do evento. A mãe do meu amigo de infância JUVIANEZ SERAFIM desencarnou e quero neste espaço prestar-lhe uma sincera homenagem.

Dona Alzira participou dos bons momentos da minha infância e gritou, como ninguém, com os moleques da Avenida PEDRO AMÉRICO. Apesar de possuir uma voz mansa e serena, não conseguira sempre se equilibrar com a molecada e permanecer com a serenidade que lhe era peculiar. Também, com aqueles moleques não tinha jeito!

Lembro-me que certa vez foi vitima de um acidente urbano que deixou-nos apreensivos. Ela sempre sentava na calçada, de frente a sua Loja, em baixo do saudoso “PÉ DE CASTANHOLAS”, que foi objeto de nossas traquinagens. Naquela época ITAPORANGA ainda vivia nos “bang, bangs” da insensatez e incrivelmente, descansando nos bancos de sua loja foi alvejada com uma bala perdida. Parecia coisa do Rio de Janeiro. Tumulto, surpresa, emoção, preocupação, mas ela conseguiu se recuperar do fatídico dia. Deus, na sua inteligência perfeita, interveio para que aquela mulher forte e trabalhadora continuasse conosco para educar os seus filhos, que não eram poucos. Enviuvara cedo e a batata quente ficou em suas mãos.

Eu sempre fui um medroso e da garotada era o que mais esquivava das aventuras propostas por Juvianez, o autor intelectual de quase tudo. A autoria dessas traquinagens rendia-lhe muita surra dada por Dona Alzira, com o famoso psicólogo de nome “Chibata”. A “velha” era caladinha e centratada, mas manipulava bem o instrumento de reflexão. Naquela época os nossos amigos de infância, todos, foram educados com essa medida. Talvez tenha sido por isso que a molecada tenha se tornado “gente”. Hoje, a lei está mais severa e uma “peinha” dessas pode lhe render uns bons dias de cadeia. Mas o bom mesmo é educar com a conversa e o esclarecimento e não como o medo imposto pelos velhos instrumentos. Mas que dava certo, dava.

Nunca me esqueci das velhas surras que minha mãe me aplicava e sempre que ia fazer uma traquinagem me lembrava do ardoroso psicólogo atrás da porta e algo estranho me continha um ímpeto de traquinar. Era Medo. A peia doía uns dias e assim não dava. As mães se uniram para incrementar mais os castigos, sendo mais convincentes, e deixaram a CHIBATA de lado e passaram a usar agora o FIO DE CADEIRA. Esse era cruel e doía que fazia gosto. O resultado rendia uns dias de reflexão na cama e umas marcas incríveis no corpo.

- E aí, “Nodin”, que é essas manchas vermelhas em tuas costas?
- Foi queda...

Mas como eu ia dizendo, por ser medroso, tinha um medo danado de escuro. "Alís" o escuro nos impede de ver a vida. Tem muita gente que ainda vive no escuro da existência. Não sabe quem é de onde veio e para onde vai após a morte desse corpo físico , que está na contagem regressiva.

Mas naquela época Itaporanga faltava energia demais e era triste quando isso acontecia. Eu sempre fui um cientista mirim e resolvi com as minhas economias comprar duas lanternas das grandes, para colocá-las na meia- parede do quarto em que dormíamos. E quando a energia faltava, para chegar só no outro dia, eu acionava um dispositivo na minha cama e as luzes iluminavam o ambiente. Aí eu dormia sem gritar.

Não é que “VEIZIN”, de Dona Alzira, soube do fenômeno e resolveu fazer o mesmo em sua casa. Ele colocou as lanternas na meia-parede. Ligou os fios. Só que na força e não sei como. O fato é que quando a energia foi acionada, no contador, houve um curto circuito na casa a apagou tudo. Foi um desespero e pensando que tinha queimado todos os eletros correu para me chamar.
- Nodin, tens que me ajudar senão a peia hoje será do outro mundo.
- O que foi rapaz!
- Eu liguei as lanternas na energia, depois de desligar o contador, e quando fui testar, deu um “pipoco” que queimou tudo. Mãe ainda não sabe e tu tens que me ajudar.
- Mas Veizinho, tu não pensou não rapaz? Como é que você liga uma lanterna de 12 volts na energia de 240 e como é que essa lanterna iria acender se não tinha energia à noite?
- Sei lá...
Fui a sua casa e descobri que o curto havia queimado aqueles velhos fusíveis antigos e só fiz juntar um pouco de Bombril para que a energia voltasse, mas antes, desliguei a triste engenhoca que ele tinha elaborado e a energia e a paz voltou, sem queimar um só equipamento. E sem peia.

A morte do corpo físico é um fim de etapa e o ser não espiritualizado vive na Terra em busca das ilusões e do ouro de tolo. Sei que Dona Alzira cumpriu a sua missão de mãe prestimosa e amorosa (apesar das chibatas) e despertou na vida espiritual com a consciência de missão cumprida.

Nós... Nós estamos a caminho e o reencontro é uma certeza.
Até mais Dona Alzira...

PENSE NISSO! MAS PENSE AGORA.

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