domingo, 14 de novembro de 2010

DESCENDO À RUA PEDRO AMÉRICO

DESCENDO A PEDRO AMÉRICO

(Reynollds Augusto)



Nunca me acostumei em chamar a Avenida Pedro Américo de Soares Madruga. Nada de especial, é que o nome Pedro Américo está gravado no meu psiquismo da época de criança e adolescente e foi nesse tempo, que não existe mais, que a nomenclatura sempre foi usada. Era a melhor Rua de Itaporanga, dizia a molecada. E era mesmo. Por lá brincamos, brigamos, suamos e construímos amizades que perduram até hoje. Vez por outra, para que a tese prevalecesse, as tribos de ambos as ruas, Getúlio Vargas e Pedro Américo, se digladiavam para saber quem seria a melhor rua. Quem perdesse, dava o braço a torce e poucas vezes isso acontecia com a molecada da Pedro Américo. O ruim é que apesar de ter batido muito na molecada da Getúlio Vargas, provando a nossa tese, ainda de quebra, ao chegar a casa, levava uma surra da mãe, que com o psicólogo sempre pendurado por trás da porta, tentava nos mostrar que a nossa tese era fajuta. Coisa de criança. E haja peia dos dois lados.

Quantas vezes reuníamos toda molecada aos dias vinte de cada mês para participarmos das girandas de fogos de artifícios, comemorando o dia do “meu Padim Ciço Romão”. Era uma zoada danada. As comunidades dos sítios da redondeza vinham em caravana para a festa do padre e depois, que ninguém era de ferro, iam participar das festas mundanas. E haja forró, mas forró de verdade. A cidade nesse dia era movimentada e todo mundo ganhava: os religiosos e os comerciantes. A famosa banda de pífanos, que já chegava de manhazinha, não existe mais. Quantas vezes a molecada a acompanhava pelas ruas da cidade, ajudando os “instrumentistas” a ganhar um trocadozinho. Ao voltar para casa e dizer a mãe onde estava, era “peia” de novo. Fazer o que?

Hoje essa cultura está se dispersando e são poucas as pessoas que comemoram o dia do Padre Cícero. Quantas vezes em que a procissão estava no contorno da Pedro Américo próximo à casa de Letícia, os moleques faziam sua própria procissão e com velas nãos mãos acompanhavam a multidão cantando aqueles hinos inesquecíveis:

- “Minha santa beata mocinha, eu vim aqui visitar meu padrinho… meu padrinho fez uma viagem e deixou juazeiro Sozinho” (…) (e cantávamos quase gritando)

Depois de acompanhar a procissão, ao chegar em casa o psicólogo entrava em cena novamente.

- Menino eu já não disse para respeitar a fé nas pessoas. E haja peia. Mas tinha jeito não.

Mas hoje eu desci a Rua Pedro Américo em direção à casa de minha amada mãe para lhe dar um cheiro e eis que quem me chama, com a sua veneranda mãe Dona Branca, sentados, foi o escritor e amigo Paulo Conserva. Conversar com Paulo é ter aula de história política, de luta, de perseverança de visão consciente da realidade brasileira. Brincou dizendo que ia convidar Dona Branca para ser candidata a vereadora. Sorrimos…

Falamos dos grandes líderes da nossa História e ele fundamentou dizendo que na verdade, na verdade, Fidel foi injustiçado pela crítica capitalista. Ele que nasceu em família abastarda e foi devidamente educado, tornou-se revolucionário por convicção e não por necessidade social…

Falamos bastante.

Mas a Rua Pedro Américo teve e tem um papel importante em nossa cidade. De uns tempos para cá tenho notado que o comercio está sorrateiramente se instalando por lá. Como a cidade cresce economicamente, por obra da iniciativa privada, a cidade está mudando a sua feitura original, de outrora, e não há como deter a força do progresso. Ficaram as lembranças, os momentos, as alegrias que não se perdem. As novas gerações se preocupam com outras coisas e algumas sem graça e sem interatividade social, como brincar com o computador, com uma máquina. Talvez seja por isso que as amizades verdadeiras estão se perdendo no congelamento dos sentimentos. Amigo verdadeiro para se guardar no lado esquerdo do peito, como diz a música, está desaparecendo.



Viva Pedro Américo!

Viva Soares Madruga!



PENSE NISSO! MAS PENSE AGORA.

1 comentários:

O Reinollds escreve muito bem. E escreve com propriedade sobre as coisas.
Sempre que leio o que ele escreve é como se estivesse fazendo uma viagem prazerosa!

Um grande abraço, amigo!

Edízio Júnior.

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