segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Quer chegar aos 100 anos?

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Esqueça a genética. Segundo os especialistas, viver muito depende principalmente de viver bem. A boa notícia: pode-se mudar hábitos e começar a se cuidar em qualquer idade

por Constança Tatsch
Foto Marcio Scavone

Aos 94 anos,
José Mindlin não arrisca uma receita
para como envelhecer bem.
Mas diz que manter uma
perspectiva positiva,
no seu caso, foi essencial.

"Eu não tomo conhecimento da idade e vou tocando as coisas." É assim que José Mindlin leva a vida. Aos 94 anos, o ex-presidente da Metal Leve e mais famoso bibliófilo do país – dono de uma coleção com mais de 35 mil livros – é um homem ativo. Integra a Academia Brasileira de Letras, participa de conselhos na área empresarial e cultural, faz ginástica e fisioterapia. Encontrar espaço em sua agenda para uma entrevista não é fácil. Mindlin, além de ativo, é saudável – e fez por merecer a saúde que tem. Nunca fumou, sempre praticou atividades físicas e dorme oito horas por noite. Com o passar dos anos, passou a fazer refeições mais leves – especialmente à noite, o que faz com que evite jantar fora. "Não me sinto um ancião. Tenho muitas atividades, sou interessado pelas coisas", disse a Época NEGÓCIOS. "Minha idade mental é de 70 anos."

O número de centenários no mundo deve saltar de 145 mil para 2,2 milhões em 50 anos

Na última década, a expectativa de vida do brasileiro aumentou de 69,3 para 72,7 anos. E o número de pessoas que ultrapassa esse marco, como Mindlin, vem crescendo. "A população idosa hoje aumenta a taxas bem mais elevadas do que a população total", afirma o demógrafo Carlos Eugenio Ferreira, pesquisador da Fundação Seade. "Há duas razões para isso. A primeira é demográfica: são pessoas que pertencem a uma época em que a fecundidade no país era alta. A outra é a evolução da medicina, que melhora a saúde das pessoas e influencia a longevidade." Em 2000, havia 25.787 brasileiros com 100 anos ou mais. Quando um novo censo for realizado, em 2010, é provável que esse número aumente consideravelmente. No mundo todo, espera-se que o número de centenários salte de 145 mil pessoas em 1999 para 2,2 milhões em 2050, um aumento de quase 15 vezes.

Chegar aos 100 anos com saúde, dizem os especialistas, é um sonho possível. "Existe um consenso entre os cientistas de que o peso da genética na longevidade é de 25%", afirma o geriatra Clineu de Mello Almada Filho, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Já os fatores ambientais e os hábitos respondem por 75% de suas chances de ter uma vida mais longa." Entretanto, nas famílias de longevos, a genética parece ter papel mais determinante. Pessoas que vivem mais de 90 anos provavelmente têm parentes nesta geração ou nas anteriores que também chegaram lá.

A questão central, porém, é esta: viver muito depende principalmente de como você vive. Uma pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade de Cambridge acompanhou, durante 11 anos, 20 mil pessoas com idades entre 45 e 79 anos, sem histórico de doenças. Cada participante recebeu uma pontuação de 0 a 4, na qual cada ponto correspondia a um dos seguintes comportamentos: não fumar, praticar atividades físicas regularmente, beber moderadamente e ter um bom nível de vitamina C no sangue (obtida de frutas e verduras). No final do levantamento, os pesquisadores concluíram que pessoas com 0 ponto tiveram quatro vezes mais chances de morrer do que aquelas com 4 pontos. Outro estudo, realizado pelo Pacific Health Research Institute com 5.820 homens de meia-idade, identificou outra relação entre fatores de risco – como fumo, obesidade e ingestão de bebidas alcoólicas em excesso – e a longevidade. Segundo os pesquisadores, a chance de viver até os 85 anos era de 69% entre aqueles que não apresentavam nenhum fator de risco e de 22% para os que apresentavam seis fatores ou mais.

"O que você fizer errado hoje será debitado na sua conta amanhã", afirma Wilson Jacob Filho, professor de geriatria da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Tabaco é um mau negócio, assim como bebidas, droga e sedentarismo. Se você carrega uma barriga há 30 anos, sua coluna vai cobrar. Se fuma, seu pulmão vai cobrar." A boa notícia é que sempre é tempo de incorporar bons hábitos. "Já que não foi antes, que seja agora", afirma Almada Filho. "Quem começar a praticar uma atividade física aos 80 anos chegará melhor aos 81. A mudança de hábitos é o melhor caminho para promover o envelhecimento saudável."

O empresário Sergio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, decidiu se cuidar desde cedo. Aos 54 anos, procura manter uma rotina saudável. Zela por suas noites de sono, não fuma, joga tênis três vezes por semana e futebol aos finais de semana. "Meu projeto é chegar aos 120 e morrer assassinado por um marido ciumento", diz, em tom brincalhão. Recentemente incorporou novos hábitos: substituiu o uísque e a vodca pelo vinho e passou a comer menos. "Também eliminei sal, açúcar e farinhas", afirma. Há sete anos Amoroso é monitorado por uma empresa especializada em longevidade. "Eles fazem raios X do seu organismo, observam o que está começando a cair, os órgãos que podem vir a ter problemas e você se antecipa tomando complementos", afirma. Os resultados, segundo ele, são visíveis. "Não percebi nos últimos anos mudanças drásticas no meu corpo. Continuo correndo uma hora e meia durante a partida de tênis e jogo os dois tempos no futebol. Percebo que a minha performance física é bem melhor do que a de outras pessoas da minha idade."
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