
SOPAS DE LETRAS – Incontáveis siglas partidárias cujos ideários são totalmente desconhecidos do homem ou da mulher comum confundem ainda mais esses “deserdados da sorte” que aprenderam a depositar seu valioso voto em troca de alguma coisa.: seja um botijão de gás, uma feirinha na bodega do “Coronel Justino” ou ainda um medicamento na farmácia ardilosamente “conveniada”, de conformidade com um código não escrito embora verbalmente formalizado entre o (s) candidato (s) e respectivos comerciantes preocupados com gordas faturas. Se os partidos políticos dispõem de uma verba especial de campanha, para os candidatos a sua quota, por quê não se superfaturar as notas fiscais, isto quando estas existem? E assim vaga o eleitorado sertanejo como que anestesiado nessa imoral subasta pública do sagrado voto, à cata de quem dá mais, uma vez convencido da necessidade de aproveitar o momento político, pois outras eleições somente ocorrerão daqui a dois anos. Constrangido, confesso ter tido um dissabor profundo quando uma senhora enferma que periodicamente faz tratamento médico em João Pessoa pediu-me para pagar sua passagem até a Capital. Subitamente, para demonstrar que não mentia, mostrou-me um dos flácidos seios chagado e, enquanto a reprochava pelo seu brusco gesto, disse-me ela ter seis votos em sua casa.
- Senhora, acabou nossa conversa. Já estava disposto a lhe ajudar como sempre o faço, desinteressadamente.
- Cuma que vô pagá u sinhô si num tenho dinheiro. Lá em casa tem seis votos e como o sinhô num é candidato pode dizê o nome pruquê lá em casa tem seis voto... – novamente agrediu-me sem querê-lo. Pobre mulher sertaneja, sem maldade, ingênua, até aqui explorada pelos “salvadores da pátria, com p minúsculo mesmo”! Letícia entrou na conversa, deu-lhe pequena ajuda e disse àquela humilde senhora que não falasse assim “com Paulo, pois ele tem nojo dessas coisas”.
- Do meu câncer, muié?
- Não, dona... de quem compra e vende votos... – e sorriram as duas. E foi precisamente porque compreendi a pobre velhinha doente que passei a noite com aquilo martelando a minha cabeça, com náuseas dessas imundas práticas políticas.
FRASE – “Se o voto vale cimento, feijão, pão, favor e emprego, não vale nada. Se for pela consciência, pode ainda valer a salvação do povo”. (Frase de pára-choque de caminhão).
Texto: reedição. Foto: autor.
0 comentários:
Postar um comentário