quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Geração Ctrl C e Ctrl V

Rossandro Klinjey
* Psicólogo Clínico, mestre em Saúde Coletiva, professor das FACISA, FCM e Faculdade Boa Viagem.

Geração Ctrl C Ctrl V
Fato da vida real para análise. Um professor da Universidade Federal da Paraíba, Leonardo Rosa Rhode, afirmou ter sido agredido pelo companheiro de uma aluna dentro de sala de aula, por tê-la reprovado ao identificar que trechos de sua monografia foram plagiados da internet. O docente fazia parte da banca de avaliação do trabalho de curso com outros dois professores.

Como professor já lidei com situações de plágio. A aluna foi reprovada, fez parte dos eventos de formatura que já estavam programados, mas sem ter concluído o curso. Ela teve que retornar mais um semestre para apresentar sua monografia. Como professor homenageado da turma fui convidado para ministrar a aula da saudade. Lembro-me até hoje os semblantes de ódio dela e de seus pais durante toda a noite, sempre que meu olhar se cruzava com o deles. Fiquei constrangido como se fora eu que tivesse feito algo errado, mas depois da história do professor Leanardo, acho que ainda saí na vantagem.

Um aluno certa vez me entregou um trabalho correspondente à nota do 3º estágio que superou tudo que eu já havia visto de cola da internet. Ele simplesmente usou o Ctrl C e Ctrl V e nem se deu ao trabalho de alterar a cor da fonte dos textos em que havia colado. Parte do texto era azul com tipologia Times New Roman, outra vermelha com tipologia Arial, e quando olhei, disse pra ele: - você está curtindo com a minha cara? Ele deu uma risadinha e me respondeu que o cartucho de tinta preta estava vazio, foi quando eu disse que minha caneta azul estava sem tinta, mas usaria a vermelha para dar um redondo zero!

Eu pude perceber que muitos alunos partem da mítica idéia de que só eles têm acesso à internet. Que o novo oráculo da humanidade, o Google, seria um mistério para iniciados e que só eles teriam acesso, e que certamente professores, pessoas antigas e anacrônicas na visão deles, não usam computador. Ou ainda, que pegar um texto em inglês ou espanhol, jogar no tradutor do Google e de depois nos entregar, seria suficiente para burlar nossa capacidade de identificar plágio.

O que chama atenção, tanto no meu caso, como no do professor Leonardo, é a posição dos parentes das... deixe eu ver como me refiro a elas... já sei, “vítimas”, sim, porque é assim que muitos alunos se sentem. Se não vejamos. Um companheiro que agride um professor por ter identificado plágio por parte de sua namorada se esquece de que esse comportamento, burla a regra e a tentativa de engano, revela traços de sua conduta que depois podem se voltar contra ele mesmo no relacionamento com ela. Fiquem livres para imaginar o que eu estou querendo dizer com isso.

Do mesmo modo os pais de minha aluna, que deveriam ter ficado com vergonha da filha ao apoiarem a atitude dela e demonstrar raiva do professor, terminam por reforçar uma deficiência de caráter de uma filha que deveriam educar moralmente.

Esses exemplos são só a ponta do iceberg. A incapacidade que muitos pais têm de educar e impor limites aos seus filhos culmina numa tragédia da educação brasileira, e do mundo ocidental como um todo, o desrespeito dos alunos com professores e conseqüentemente com o conhecimento. Não é toa que os países orientais, como China, Japão, Coréia do Sul e Índia, onde há um forte respeito dos filhos para com os pais e, conseqüentemente, para com os professores, têm assumindo a liderança econômica mundial, bem como a liderança nos testes de avaliação internacional como Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).

Para os pais um recado. Não se pode colar condutas, elas são construídas única e exclusivamente pelo exemplo.

Para os meus colegas professores, um consolo. Quando um pai e uma mãe lhes hostilizar por tentar educar um filho que eles não souberam formar, lembre-se que aquele filho é deles e não seu, e que serão eles que terão que colher a amarga conseqüência do que estão plantando.


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