sábado, 3 de maio de 2008

Isaías Teixeira - 30/04/2008

Um aviso dos Céus

O relógio marcava pouco mais das 17h de 1º de janeiro de 2005. A Praça João Pessoa, enfrente à Prefeitura Municipal de Itaporanga, estava tomada de populares que assistiam à transição de governo. Diversas autoridades presentes, o já eleito presidente da Câmara Lula da Farmácia, vereadores empossados e secretários do novo governo que se iniciava, o exprefeito Will Rodrigues. No discurso, a nova esperança de Itaporanga. Porém, segundos antes de iniciar suas aguardadas palavras, Antônio Porcino Sobrinho, que chegara ao poder com uma vitória esmagadora nas urnas, foi interrompido, como forma de homenageá-lo, por um som de uma música que embalou sua campanha, cuja letra se iniciava “Vem cuidar de Itaporanga, Antônio Porcino. Vem cuidar do teu povão”. E ele, envaidecido, começou a acompanhar a letra da música. Com o microfone segurado pela mão direita, às vezes com as duas, cantou... cantou, e no final até que foi aplaudido pelos presentes. Toda a alegria tinha uma razão: o povo do seu lado e a expectativa da sociedade por um bom governo aliada à maneira com a qual tomou o poder, um verdadeiro massacre de votos sobre o adversário. Afinal não é todo dia que um candidato em Itaporanga é eleito com 1.763 votos de maioria sobre o concorrente. Iniciado, efetivamente, o discurso, Porcino reforçou a promessa de uma administração diferente, próspera. Fez juras de amor a Itaporanga e de honestidade a si mesmo. Também se emocionou ao falar da mãe, que não estava viva para ver a ascensão do filho, de origem humilde, ao cargo mais importante do município no qual nasceu. Num determinado momento, perto de concluir o discurso, Porcino frisou que jamais iria trair os seus conterrâneos. Como garantia de suas palavras, o prefeito fez um pacto com Deus em plena praça pública e talvez em um dos dias mais importantes de sua vida. “Prefiro que Deus me tire com um infarto se for pra levar um centavo de Itaporanga que não seja meu”. O pedido do prefeito foi forte. A solenidade terminou, todos foram embora. A cidade ainda estava de ressaca do reveillon. Três anos e quatro meses depois, o surpreendente aconteceu. Recebíamos a notícia, há duas semanas, de que Porcino tinha sido vítima de uma parada cardíaca em São Paulo, onde ainda permanece se recuperando do susto que passou, e deve voltar ao município ainda esta semana. Mas, e a parada cardíaca, será que tem alguma ligação com o pacto do prefeito com o Divino? Para Flaviano Silva, assessor de comunicação da prefeitura, a parada cardíaca não chegou a ser caracterizada como infarto. Foi um aviso dos Céus? Acreditemos na honestidade do prefeito, até porque um suposto castigo sobre qualquer desvio de conduta dele só viria em forma de infarto, o que não aconteceu. E Deus castiga mesmo, ou como dizem os líderes religiosos, nós é que afastamos Dele? Indagações à parte, tenhamos o incidente como um puxão de orelha de Deus em Porcino, um lembrete para ele, como fumante compulsivo, muito atarefado e sedentário, cuidar mais de sua vida e de verdade de seu povão.

O Poeirão

Após um início de primeiro semestre concentrado na segunda participação do Cruzeiro na 1ª divisão do Campeonato Paraibano, que culminou, lamentavelmente, com o seu rebaixamento, o futebol em Itaporanga volta a se movimentar com o badalado Poeirão a partir do feriado de amanhã, dia 1º de maio. A 33ª edição deste que é um dos maiores torneios futebolísticos do país e consolidou-se como um dos principais eventos turísticos do Vale, fará encontrar equipes de futebol amador da cidade e da zona rural de Itaporanga e de outros municípios da região. Além do futebol, o Poeirão também reúne outras atrações, tais quais música ao vivo, escolha da rainha e do melhor dançarino. É uma festa. Com o crescimento a cada ano do evento, o Atlântida Esporte Clube, criador do torneio, e o promove em parceria com a prefeitura, tem buscado arrecadar dinheiro para os custos do evento, mas são os atletas quem têm sido penalizados. As equipes estão reclamando o preço de R$ 100,00 pela inscrição. Tomara que esse valor não reduza o número de equipes inscritas - eis outro importante atrativo do torneio.

Promessas

Como tradicionalmente acontece no Poeirão, a classe política local, regional e do estado estará disputando espaço no estádio O Zezão neste 1º de maio. Os políticos aproveitam o evento para lançar candidaturas e usam a multidão para fazer o que eles mais gostam: promessas. E não é à toa que o Dia do Trabalhador em Itaporanga caracteriza-se como um verdadeiro palanque eleitoral. E para este ano, qual é a jogada dos políticos? O que irão prometer? O certo é que as promessas deles só se materializam após décadas. É o caso das arquibancadas que só agora no governo do prefeito Antônio Porcino serão efetivamente construídas.

Dia do Trabalhador

Segundo estatísticas, uma pessoa precisa de pouco mais de 1.200 reais para provê suas necessidades básicas. No entanto, ganhar esse salário no Brasil é privilégio de poucos, uma vergonha para um país que possui a 7ª economia do mundo e é projetado por economistas para ser o quinto mais rico do planeta em menos de duas décadas. Mas das riquezas do Brasil poucos as usufrui. Da corrupção à concentração de renda, eis os nossos maiores cânceres. O dinheiro não circula e culmina, por exemplo, com um engessamento na criação de empregos. Pelo outro lado, com medo dos tributos, os empresários temem investir e quando o fazem sacrificam a mão-de-obra. Por esta razão o país não consegue produzir para os seus filhos. Sem investimento pesado em educação e tecnologia, a mão-de-obra continua desqualificada e presa a baixos salários. O mínimo no Brasil é de R$ 415,00, e nem todos os trabalhadores ganham sequer esse irrisório valor, motivo pelo qual conclui-se que neste 1º de maio o trabalhador brasileiro não tem muito a comemorar.

Quem matou João, José e Maria?

O Brasil inteiro tem acompanhado pela televisão as investigações sobre o caso da menina Isabela Nardoni, de apenas 5 anos, jogada de um edifício em São Paulo há mais de um mês. O assassinato que chocou o país despertou a atenção até da imprensa internacional, atraídos principalmente pelo mistério que envolve a morte da criança. O caso é um prato cheio para a imprensa que tem feito sensacionalismo descarado da situação. Bem pudera, Isabela é da classe média e os acusados do crime envolvem gente da família, como o próprio pai de Isabela, Alexandre Nardoni, e a madrasta Ana Jatobá. No meio de tudo a sofrida e bela Ana Carolina, mãe da menina. Com todos esses ingredientes, só podiam mesmo dar ao caso Isabela cobertura cinematográfica. Seria muito bom se todos os crimes de morte no país tivessem o mesmo empenho da polícia, do Ministério Público e da mídia como o que vitimou Isabela Nardoni. Quem sabe assim poderíamos olhar dentro dos olhos dos que mataram os Joãos, Josés, e Marias, marcados pela miséria e sofrimento. Poderíamos assim, quem sabe, ver atrás das grades políticos que “consomem” o povo quando desviam o seu dinheiro. Poderíamos ao menos chamá-los de assassinos. Quem matou Isabela? Cadê os assassinos intelectuais da ex-vereadora Aíla Lacerda? Como o patrimônio do senador Maranhão subiu de quase um milhão de reais para 23 milhões? No dia em que a consciência crítica acobertar a todos sem distinção e o direito do povo ser respeitado, poderemos enfim dizer que vivemos em uma sociedade que não olha para o poder aquisitivo das pessoas e assiste igualitariamente a cada um sem distinção.

Refletindo

“O trabalho é uma balança com dois pesos proporcionalmente iguais, sendo um o dever e o outro o direito”.
(Silvestre Cândido Cabral)

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