quarta-feira, 4 de março de 2009

EU E AS PUTAS


Por João Dehon Fonseca em 04/3/2009

Existe um lugar no centro de Campina Grande que todos conhecem como Rua João Pessoa esquina com a Rua Índios Cariris que se trata de um ambiente onde trabalham diversas garotas de programa geralmente de 18 a 28 anos. No total, uma oferta bastante generosa, para os que buscam o sexo. Quando eu passo por ali a certas horas da noite sinto que todas elas têm a cara de sofredoras e que aquele local até parece um lixo humano. De cinco anos pra cá, aumentou o número daquelas jovens e percebo que cada vez mais a faixa etária diminui. Trabalho com alcoólatras e drogados e ultimamente tenho aproveitado esses momentos para falar também com aquelas jovens prostitutas. Resolvi meter a caneta ou o teclado para falar sobre aquele ambiente e vocês ainda vão me ver muito tocando neste assunto. Nesse meu primeiro momento quero apenas que prestem atenção a esta história que vou lhes relatar e que aconteceu recentemente.

Saí pro meu trabalho voluntário aí pelas 19:30. Passei numa barraca que vende cachaça e tira gosto e dizem que nas horas vagas “craque”. Ví que ali também vendia fitas pornôs para todos os gostos. Comecei a manusear as dezenas de VHS aparentemente péssimos, e vi que a maioria era pornô nacional - que por mais decepcionante que seja nunca me parecerá tão ruim quanto um pornô ruim americano. Eu não tinha intenção de comprar nenhuma uma delas, mas como precisava conversar com o dono da barraca para pedir às informações que precisava, resolvi pegar dois filmes, comecei a escolher e acabei encontrando um livro que me interessou e levei-o no lugar da segunda fita. Era um livro de Williams James, e embora seja muito pouco provável que eu venha mesmo a lê-lo, por ser muito prolixo, “As variedades das experiencias religiosas”, fiquei feliz com a aquisição. Desde os tempos da minha faculdade de Geografia - na qual cursei algumas cadeiras opcionais de psicologia e geografia humana - desenvolvi certo interesse por esses malucos que analisam malucos. Os Freuds, Lacans, James e Jungs do mundo. Carrego comigo uma teoria baseada nos princípios de Alcoólicos Anônimos, que ao longo de 32 anos me dá também o direito de analisar pessoas que são consideradas marginalizadas pela sociedade que poderia expô-la agora, mas não vou fazer. Minha intenção aqui é bem outra.

Com o livro e o filme em mãos, busquei meu primeiro contato com as putas. Resolvi passar em diversos daqueles prostíbulos existentes na Rua Índios Cariris e que eu havia freqüentado nos idos de 70 quando fazia Agronomia na cidade de Areia, portanto, fazia tempo. O primeiro deles foi aquele que fica vizinho a oficina de Jeová Medeiros Tavares em cuja entrada já se sente em que ambiente está se pisando. Ali para se entrar o único atestado que é exigido é o de IRRESPONSAVEL, não tem porteiro, não tem chateação e todos podem IR e VIR. Dirigi-me ao dono da suposta boate, um galegão forte, mal encarado, com duas tatuagens uma cada braços e o disse então exatamente o que estava procurando - deixei alguns pudores pra trás faz anos - mas o filho da puta se fez de desentendido e disse que não poderia me deixar conversar com as meninas sem ter que ir ao quarto com qualquer uma que eu escolhesse. Nesse instante entrou no ambiente um cara, procurando por VILANI e ameaçando que se ela estive com outro ia levar uma surra. O tom era assustador.

Menos de um minuto depois a tal VILANI apareceu e na língua dos que freqüentam o ambiente, ela era a verdadeira Deusa. Na sala de bebedeiras e danças avistei três jovens com talvez 18 anos, que estavam acompanhados e fui obrigado a sair porque não havia outras. Dali fui para o antigo Bar do Sargento que fica em plena Rua João Pessoa que por sinal é muito movimentada por se tratar do Centro de Campina Grande. Assim como no outro, para entrar a gente olha pras bancas cumprimenta os malandros de todas as espécies e, se a barra estiver limpa, tudo pode sair bem. Alguns homens da suposta sociedade, também freqüentam ali e eu pude perceber que quando iam sair parecia que lhes vinha um medo de botar o pé na calçada e dar de cara com alguém conhecido. Alguns podem ver nisso uma hipocrisia, eu, todavia acho que a verdadeira hipocrisia está do outro lado. Não importa, é sempre melhor ser discreto.

Foi aí que conheci uma profissional especialmente simpática que chamava os barbados - não sei se todos - de "meu gatinho". Muito engraçado tudo aquilo, e eu comecei a gostar. Como fazia mais de 30 anos que não freqüentava o ambiente, todas as putas interessadas num programa me chamavam quando eu passava. Apesar de saber meu verdadeiro objetivo, comecei a pensar porque eu estava de volta naquele lugar horrível e comecei a reviver o tempo que eu consumia álcool. Lembrei-me de uma farra que um dia fiz juntamente com Raul Batista naquele mesmo local aí por volta de 73, onde meu colega saiu com uma loira aparentemente interessante parecida com a que ali estava e que voltou com ela com uma perna quebrada, pois brigaram dentro do quarto e ela levou a pior.

Aquelas três meninas que eu vira no outro bar acompanhadas, acabavam de chegar ao Bar do Sargento. Uma delas era uma negra bonita e alegre com uma bunda simplesmente maravilhosa. Eu teria ido pro quarto com ela sem pestanejar se eu não estivesse com outro objetivo ou se fosse à época que bebia álcool. A segunda das três era uma loira muito gostosa, pois quando vi a primeira vez no outro bar, estavam sentadas e acompanhadas e não dava para ver suas formosuras. A terceira eu já tinha visto ela em vários outros lugares de Campina Grande, em campo de futebol, no Shopping etc. O problema é que ela causava uma péssima impressão a primeira vista, pois tinha uma cara muito chata. Existem caras que nos mostra exatamente o contrário que a pessoa é e era o caso daquela menina, mesmo porque puta chata “não pode”. Eu sei que isso é ruim, também não gosto do estilo, mas aprendi como todo homem vulgar aprende ao longo dos anos de boemia duas coisas sobre putas que parecem chatas: às vezes é só aparência, e às vezes, mesmo sendo chata uma mulher muito gostosa vale à pena, afinal, ela é muito gostosa.

Essas pobres coitadas às vezes surpreendem quando estão sozinhas com o "cliente". Na sala, em frente das colegas, elas são uma coisa, fechada a porta do quarto, são outra. Boa parte das chatas age assim por um curioso mecanismo psicológico de proteção e auto-afirmação. Com certeza muitas delas têm problemas pra conciliar a imagem que fazem de si mesmas com o fato trepar com qualquer homem detestável (e são muitos os detestáveis) que pague o preço. Aliás, esse preço é baixíssimo, pois estamos falando de inferninhos de quinta categoria. Ainda assim, alguns caras preferem gastar seu dinheiro em bebida do que em sexo. A bebida é sempre cara nestes lugares, três garrafas de cerveja são o preço de um programa (R$ 12,00).

Mas foi a “chata” que me cumprimentou e se eu bebesse teria pedido uma cerveja, e a chamado para fazer uma farra comigo. Logo chegou um cara e levou-a pro quarto, o cara também aparentava um chato. Geralmente os caras chatos entram e pedem as "informações". Isso consiste em ir até o quarto com a puta e ouvir quase que invariavelmente o seguinte: "15 reais o oral, vinte minutos com oral e penetração é 20, trinta minutos com oral, penetração e massagem relaxante é trinta. Eu não faço anal". Ali no Bar do Sargento tudo é igualzinho e os caras estão carecas de saber valores e todo o esquema, mas insistem em entrar no quarto com a menina pra perguntar como é que funciona. As putas ficam mais putas com isso (com o perdão do trocadilho). O normal é ver os malas entrando nos quartos e saindo.

Quando, a menina “chata” volta sozinha e com o dinheiro na mão, pra acertar no "caixa" o percentual da trepada com o dono. Segundo ele isto não é exploração é o pagamento do kit RELAÇÃO composto por: camisinha, papel higiênico, uma toalha e um sabonetinho.
Enquanto ela estava no quarto, fui conversar com o dono do prostíbulo e notei que ele não estava gostando das minhas perguntas. Ele não explora as meninas, são elas que o exploram e só estão ali porque querem.

Quando a “chata” desocupou totalmente, já era tarde, 23,00 horas, os vagabundos, alguns já estavam totalmente bêbados e lisos, pelo “bêbado” até que elas ficariam com eles, mas pelo “liso” não tem acordo. Mandei que ela chamasse as outras companheiras que eu ia pagar o lanche. Nessa hora percebi duas coisas: a primeira é que elas não ficam bêbadas quando no exercício da profissão e a segunda é que elas sabem perfeitamente quem já está “liso”.
As outras vieram e eu pedi refrigerante e sanduíches e elas começaram a comer enquanto eu me apresentava como um voluntário que fazia uma pesquisa.

A negra gostosa revelou para mim, que quando chega em casa não consegue dormir vendo os fregueses que por ela passaram, disse ela que numa noite que pega seis, geralmente tem um que maltrata, que humilha e que essas cenas fazem ela pedir a Deus para arranjar outra profissão. Concluiu dizendo que tem vergonha de ser ela e acha até que quando chega naquele ambiente, perde completamente a identidade e que hoje está com 19 anos.Meu Deus! Ela se acha velha.

A loira, disse que já foi da sociedade de Campina, que freqüentou restaurantes sofisticados e que “caiu no mundo” para fazer raiva a um irmão que é advogado metido a rico. Disse que tinha 19 anos, mas desde os 14 que perdeu a virgindade com um filho de um político influente e até os 18 se conservou “nisso que vocês chamam de sociedade”. “Faz um ano que freqüento prostíbulos, porque os ricos quando faz programas com agente, não paga e pobre é obrigado a paga se não vai para a cadeia”.

Ela disse que havia sido a melhor aluna das Lourdinas e que hoje se considera uma desajustada, psicologicamente. Disse que tem vergonha dela mesmo: “... acho-me linda, tenho os peitos lindos, tenho umas coxas gostosas, mas não gosto de me olhar no espelho e quando faço, faço de maneira rápida para não enlouquecer.”

A suposta “chata” demonstrou que não é chata e sim inibida, covarde, que foge dela mesmo para praticar a mais velha de todas as profissões. Disse que tinha 20 anos e que desde os 12 que trepa.e se assim não fizesse sua mãe tinha morrido de fome no bairro da Ramadinha. Ela disse que troca a noite pelo dia e quando chega em casa para dormir não consegue. Chora, blasfema, e ver a morte quase todos os dias, dizendo inclusive que seria melhor se já tivesse morrido. Vejam o que disse a “chata”: “Se trepar é um prazer, uma necessidade ou se é o complemento do amor, para mim nunca foi prazer, primeiro porque fui estrupada por um irmão, se bem que eu quis, mas não senti nada; nunca foi necessidade porque não sinto falta de sexo, muito pelo contrário, trepo porque preciso de dinheiro e nunca foi complemento de amor porque nunca amei ninguém, muito pelo contrário eu tenho ódio desses homens que me comem e depois me tão uma merreca como se eu fosse um bagaço.”

Todas foram claras que têm traumas horríveis e afirmaram que não sabe as mulheres casadas, mas a maioria das prostitutas é revoltada e voltam ao prostíbulo por necessidade financeira ou acham que ter relações sexuais como puta é doença.

“Variedades das experiências religiosas” Willams James, esse é o nome do livro que me fez penetrar no mundo das prostitutas, mundo esse que não diz respeito ao conteúdo do livro, mas que muito bem poderia ter, se os homens do meu tempo deixassem de vender Deus nas Igrejas, principalmente nas Petencostais e partissem em busca dessas putas nos cabarés da vida e fizessem delas gente digna. Se os padres deixassem mais de se tornarem estrelas através da mídia e fossem trazer a Morena, a Loira e a Chata, para junto com eles pregarem a verdadeira vida.

Agora vou colocar um dos princípios que norteiam o A.A.: “Depois de experimentar os princípios espirituais da irmandade, resolvemos colocar em prática, os passos em todas nossas atividades.” Por isso faço o meu trabalho de graça, porque um dia recebi de graça o milagre de viver dignamente.

Mulheres Anônimas, já existe no mundo inteiro e já tem tirado milhares de putas da vida que elas nunca pediram para ter.

3 comentários:

Meu amor vc tá muito mal informado sobre o Bar do Sargento, sou neta do sargento e ele nunca adimitiu esse tipo de coisa no seu estabelecimento, por sinal as pessoas que frequentavam eram diversificadas, mais nunca teve qualquer tipo de falta de respeito ou vergonha por parte dos clientes.

li por curiosidade, e depois vi que perdi meu tempo,o texto é fraço e mau escrito, nao corcordo com o tratamento dado pelo escritor ao chamar aquelas mulheres de putas, ele demostra ter um vocabulario muito baixo, e nao sabe respeitar o ser humano, as vezes olhamos muito o rabo dos outro e esquecemos de olhar o nosso. e vindo de quem se diz ser ex alcolatra, olha mais pro teu rabo idiota, vai aprender a escrever.

O texto é bom. Acho que o "anônimo" de 29.09.2010 não teve capacidade intelectual para captar isso. Quem já frequentou tais ambientes sabe dessas coisas. Acho que esse "anônimo curioso" deve ser uma bicha afetada e agressiva. E quanto a chamar as meninas de "putas", a conotação de sentidos pejorativos quem deu foi a própria biba. Acho que deve ter se lembrado da própria mãe.

Postar um comentário