Por Misael Nóbrega de Sousa*
Elvandro, sanfoneiro; amigo, companheiro; cantor, compositor; assim, como todo poeta, um fingidor... – “finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”. Elvandro, inerte – deitado para sempre – de pernas, alinhadas; e, mãos entrelaçadas, sobre o peito – onde tantas vezes repousara a sanfona - dedos inativos, sem ação; acordes... – acorda – acordeom – harmônica – sanfona... - fazes a tua homenagem derradeira a quem tanto te prezou.
Abram o fole; executem os mecanismos do baixo; os favos da melodia, os registros da melodia; façam vibrar as caixas harmônicas; ditem pelo teclado cantável, em ponto e piano, o acompanhamento à sepultura – é hino de amor e glória. A vida se basta – enterremos, não apenas o corpo, mas também os erros de quem fora humano. O fole é o pulmão do acordeom. Ele é responsável pela inspiração ou aspiração do ar. Foi-se o ar de Elvandro – expirou-se o seu tempo; findou-se a ternura, pelas melodias incansáveis dos palcos da vida.
Não era assim um “Rei do baião” (por que haveria de ser?); era um aprendiz; um trabalhador; um propagandista da cultura; um de nós. Dedilhe, por favor, alguém de fino trato – alguém como Elvandro, identificado... – Alguém, alguém. Insisto em nome dos músicos. Alguém... – Faça-me esse favor – dê-lhe à cova a última distração – uma concertina - e que este prazer fique aqui – como exemplo. O timbre - afinando as vozes centrais: uma um pouco mais alta e outra um pouco mais baixa - para que se alcance a entonação justa. Ao morrer não se vira Santo – ao morrer se exime o morto de qualquer culpa – Ao morrer se nasce além... A semente é que fica. E ela é de ninguém. Poupemos o morto – não dêem a ele a dúvida – a incúria – respeitem o morrer – “O pior naufrágio é não partir”.
*Jornalista e professor
Abram o fole; executem os mecanismos do baixo; os favos da melodia, os registros da melodia; façam vibrar as caixas harmônicas; ditem pelo teclado cantável, em ponto e piano, o acompanhamento à sepultura – é hino de amor e glória. A vida se basta – enterremos, não apenas o corpo, mas também os erros de quem fora humano. O fole é o pulmão do acordeom. Ele é responsável pela inspiração ou aspiração do ar. Foi-se o ar de Elvandro – expirou-se o seu tempo; findou-se a ternura, pelas melodias incansáveis dos palcos da vida.
Não era assim um “Rei do baião” (por que haveria de ser?); era um aprendiz; um trabalhador; um propagandista da cultura; um de nós. Dedilhe, por favor, alguém de fino trato – alguém como Elvandro, identificado... – Alguém, alguém. Insisto em nome dos músicos. Alguém... – Faça-me esse favor – dê-lhe à cova a última distração – uma concertina - e que este prazer fique aqui – como exemplo. O timbre - afinando as vozes centrais: uma um pouco mais alta e outra um pouco mais baixa - para que se alcance a entonação justa. Ao morrer não se vira Santo – ao morrer se exime o morto de qualquer culpa – Ao morrer se nasce além... A semente é que fica. E ela é de ninguém. Poupemos o morto – não dêem a ele a dúvida – a incúria – respeitem o morrer – “O pior naufrágio é não partir”.
*Jornalista e professor
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