quinta-feira, 23 de abril de 2009

De omni re scibili


Por Lucas em 23/4/2009

Meu caro Saulo,

Às vezes, custa-me a crer em premonição, outras tantas em telepatia, entretanto, vejo-me obrigado, em várias circunstâncias, a acreditar em ambas, como no presente momento em que leio tua mensagem, pois ela já estava pronta em meu computador, não digo ipsis litteris, para ser enviada ao Itaporanga-net ou ao blog de Rainério. Salvo alguns outros itens, o enredo é o mesmo o que me deixa a cavaleiro para fazer minhas, tuas frases. Na tua magnífica exposição sobre os grandes prefeitos de nossa Itaporanga, esquecestes, quiçá, o maior deles, Brunet Ramalho.

Aquele Moço, lá pela década de 20 fez uma das melhores administrações que se tem notícia, até então. Quando as ruas de Itaporanga enchiam-se com o odor irritante dos fachos de carbureto, acesos todos os fins de tarde até os prenúncios da madrugada, para iluminar a cidade, Brunet, num esforço hercúleo conseguiu a compra de um motor alemão movedor de um potente dínamo que fornecia luz ao nosso município. Este sistema perdurou até quando outro gigante da administração de Itaporanga, Francisco Clementino de Carvalho, Doutor Paizinho, trouxe a benéfica energia do sistema hidrelétrico de Mãe d’água, em Coremas, uma vez que o velho motor não atendia a contento, face ao crescimento de nossa Comuna, desde sua implantação.

Tentando ilustrar a história deste motor, conto alguns fatos e ditos folclóricos do imaginário itaporanguense. A princípio o motor foi instalado à Praça Frei Martinho, esquina com a Santos Dumont, ao lado direito de quem sai para Piancó, onde mais tarde, salvo engano, foi instalado um posto telefônico ou escritório da TELPA. Nos idos de 50 a responsabilidade de gerar a energia para a cidade ficou a cargo de Lô Soares, honrado cidadão de Itaporanga.

Pois bem! Quando a noite começava a se fazer presente, Lô virava o motor. Como o sistema era um tanto precário, não havia a Chave Geral de Energia, em conseqüência, à proporção que o motor ganhava velocidade, o dínamo ligado a ele por uma grande e grossa polia, conhecida como CIA, passava, gradativamente, a fornecer energia, acontecendo, então, um fenômeno especial, as lâmpadas iam se acendendo vagarosamente até atingir seu brilho total. Neste ínterim, à medida que as Lâmpadas se acendiam, surgiam os ditos folclóricos da população com sons onomatopéicos: Lô-motor....lô-motor.....lô-motor, até haver o brilho completo da iluminação. Posteriormente, aquele sistema elétrico de iluminação foi deslocado para o prédio aonde, antes, funcionara o açougue, na Argemiro de Figueiredo, hoje talvez, esquina com a Horácio Gomes, pois na época, ficava em frente às casas, ainda não demolidas, da zona do meretrício.

Meu prezado Saulo, feliz do vivente que no começo do século tinha possibilidade de chegar aos estudos aos nove anos de idade, por aquelas paragens! Não só a precariedade das escolas como a ignorância do lar fazia com que os jovens começassem tarde as primeiras letras, aliás, tarde em relação aos dias de hoje, pois na época era coisa corriqueira. Portanto, não vejo mérito nem demérito em ter-se que iniciar as primeiras letras um pouco tarde, em relação aos dias hodiernos!

Outrossim, é sabido que no começo do século XX, as querelas políticas faziam parte do cotidiano das vilas e povoados do interior do Brasil. Na ânsia pelo Poder, famílias se digladiavam em lutas, muitas vezes injustas, acarretando verdadeiros banhos de sangue, com perdas de vida, até de inocentes, arrastados pela sanha egoística daqueles que queriam galgar o Poder a todo custo.

Em Misericórdia não era diferente. Na década de 10, Nitão, um dos influentes políticos de nossa Comuna, adversário político de outro não menos influente, João Conserva, foi assassinado quando se dirigia ao seu sítio, numa vereda que ficava, mais ou menos aonde se situa hoje a Rua São José. No ano seguinte, era morto João Conserva, na calçada de sua própria casa situada à praça João Pessoa, quando se preparava para o bate-papo costumeiro que fazia todas as tardes com seus correligionários e parentes, com tiros advindos de uma casinha esquina com a rua Santa Teresinha(Beco Estreito), com a Praça, onde mais tarde seria demolida para soerguimento da Farmácia de Tenente Augusto. Por ironia do destino, a cabana de onde saíram os tiros que vitimaria Nitão era a moradia de Zé Môco, enquanto que aquela casinha que servira de abrigo aos assassinos de João Conserva, era a moradia de Mané Môco, irmão de Zé Môco.

Na época, Misericórdia não tinha comarca, razão porque muitos correligionários de João Conserva, acusados da morte de Nitão, foram obrigados a se deslocar até João Pessoa, a cavalo, pois não havia outro meio de transporte, naqueles idos. Muitos decidiram fugir e se refugiarem em cidades circunvizinhas. A facção política no Estado era favorável a mesma do líder morto, Nitão, em nossa cidade, razão, talvez, daquela fuga de muitos oponentes à família Nitão para outras cidades. Quero frisar que Pernambuco era um estado próspero e pouco se importaria com querelas paraibanas, ainda mais no interior do Estado, para praticar perseguições políticas em nosso Estado.

O Ser Humano, muitas vezes, por vaidade ou por outro sentimento qualquer, costuma desviar a atenção de fatos que pertencem ou são de competência de uma gleba, de uma comunidade, em detrimento de um só indivíduo. Vimos um exemplo desta faceta, em 1994 quando o Brasil se sagrou tetra campeão, e a imprensa carioca, num bairrismo exacerbado, fez crer ou quis fazer ao Brasil, que os méritos da conquista pertenciam a uma só pessoa, Romário. É bem verdade que os seus gols foram o epicentro da conquista, mas, é mais verdade ainda, que sem a cooperação dos outros componentes do time, não haveria Tetra. Logo, a glória é de todos.

Em Itaporanga, de uns tempos para cá, estamos vendo, vez por outra, o surgimento de heróis naquela tentativa má sucedida dos perrepistas de invadir Misericórdia. Se não se perpetrou o intento das tropas de Zé Pereira foi graças às ações destemidas da população, na época, dos homens misericordienses que se alojaram em piquetes em defesa da cidade. Logo o mérito não pode ser dado a um só indivíduo, como forma de heroísmo.

Ninguém de sã consciência irá negar que Pitanga era uma pessoa inteligente. Eu que o conheci pessoalmente achava-o, não só inteligente, mas possuidor de uma sagacidade invejável, tanto que conseguiu atrair para si a admiração de muitos, mais parentes do Ilustre Dr. José Gomes da Silva do que dele mesmo, fazendo-os esquecer Aquele.

Aqui faço uma adenda para falar deste ilustre Itaporanguense. Segundo o que ouvia de meus Pais, Dr. José Gomes da Silva era um homem de critério, honesto, inteligente e, como dizia meu Pai, um Homem de Vergonha. Foi Deputado Federal através do voto livre do cidadão, sem necessidade de certas escamoteações que costumeiramente aconteciam nas eleições pelo interior do Brasil. Como honrado político que era, foi escolhido para dirigir o estado da Paraíba, como um dos seus Interventores. Decepcionado com a politicagem itaporanguense, deixou a Política e fixou residência no Rio de Janeiro até o ano de seu falecimento.

Foi casado com Dona Judith Gomes, mulher de fino trato, educada por natureza, que o ajudou com garbo, nos momentos difíceis de sua vida política. Esteve muitas vezes em Misericórdia, aonde fez várias amigas e segundo o que diziam os meus parentes, tratava-se de uma pessoa simples, apesar de ser a Esposa de um grande político e ser criada em meios mais adiantados, como o Rio de Janeiro. É necessário, pois, que a Sociedade Itaporanguense, em particular, os mais jovens, saiba da existência de Homens honrados, verdadeiros baluartes na vida de nossa Comuna. Políticos como Dr. José Gomes da Silva não podem e não devem ser esquecidos jamais por nenhum itaporanguense de sã consciência.

E mais, Dr. José Gomes da Silva é descendente direto de um dos fundadores de Misericórdia, Alexandre Gomes, cuja família deu origem não só aos Gomes, mas a outras distintas famílias de Itaporanga, como os Alexandria, os Conserva, os Pinto, os Figueiredo e muitos outros ramos destas famílias, como os Domas, os Dozinhos subramo dos Alexandria que ganharam estes nomes em virtude do epíteto de seus ancestrais.

Não vou falar aqui do que foi feito e do que não foi, e por quem, uma vez que outros escribas, abaixo, já o fizeram, alguns com muito garbo, até. Entretanto, é de bom alvitre que a história de nossa terra não seja passada aos mais jovens, muitas vezes, com paixões exacerbadas, outras tantas, tentando negar ou que caia no esquecimento, verdades que venham enaltecer verdadeiros homens que fizeram a vida política do município, para que alguns venham ganhar os loiros, isoladamente!

Quero, apenas, acrescentar, finalizando esta matéria, que Itaporanga, como outros municípios brasileiros, usou de estratagemas deveras interessante para a mochila política de alguns. Até a eleição para prefeito de Itaporanga, ocasião em que foi eleito Dr. Paizinho, quando não havia fotografia no título eleitoral, nosso município tinha 23.000 eleitores, e há quem diga 30.000. Com a aposição da foto no título de eleitor, nestas eleições, a que elegeu Dr.Paizinho, o nosso colégio eleitoral caiu, assustadoramente, para 4.300 eleitores.

Apenas, isto! Reflitam!
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