Dizem que na volta para casa ninguém se perde, mas não é bem isso o que mostra a verdade das estatísticas sobre os acidentes de trânsito, ou seja, as ocorrências são mais frequentes em locais que o motorista conhece do que em zonas desconhecidas por ele.
“Isso é provado estatisticamente e ocorre porque quando o motorista entra em uma área que ele já conhece, fica mais tranquilo e menos atento, exatamente por conhecer o local onde está circulando, o que aumenta a probabilidade de um acidente em função de obstáculos que podem aparecer na estrada”, comenta o delegado Joáis Marques, plantonista da delegacia de Itaporanga.
Radegundis Feitosa Nunes, acostumado a correr o mundo inteiro, achou de perder a vida na sua própria terra, vitimado pelo carro que ele mesmo conduzia, levando consigo duas gerações de nossa música e metade do sexteto de trombone da Paraíba (Brazilian Trombone Ensemble), o grupo de metais brasileiro mais conhecido no mundo.
Mas o que as estatísticas não podem medir nem precisar é o tamanho da perda humana: a dor de quatro famílias e as lágrimas de um estado inteiro. A música de Itaporanga e da Paraíba está coberta por um luto interminável desde às 10h do dia primeiro deste mês, quando os acordes do maestro Radegundis, o primeiro doutor em trombone do Brasil e um dos melhores instrumentistas do planeta, calaram-se para sempre. Calaram-se também a voz de Luiz Benedito, cantor e compositor da velha guarda, e os sopros talentosos dos também trombonistas Roberto Ângelo Sabino e Adenilton Soares de França, o único não itaporanguense, mas filho do Vale, com raízes familiares em Igaracy.
Radegundis, Roberto e Adenilton viriam a Itaporanga fazer uma apresentação do sexteto de trombone na abertura das festividades de aniversário da paróquia, marcada para a noite. O restante do grupo veio na frente e, minutos depois que chegou à cidade, recebeu a notícia que seus companheiros haviam ficado no caminho. Luiz Benedito também viria à sua terra por um compromisso musical. Trazia orgulhoso a concretização de um sonho: iria apresentar ao público quatro faixas do CD que pretendia lançar em breve. Mas nada, sonhos, planos e alegrias, nada resistiu ao fogo oriundo da explosão do tanque de combustível do carro, possivelmente em razão do choque do veículo com uma pedra, depois de capotar violentamente. Foi a maior tragédia da BR-361 e a maior perda da música instrumental do Brasil nos últimos tempos.
O silêncio e o luto tomaram lugar no palco armado ao lado da igreja para a festa dos 150 anos da paróquia Nossa Senhora da Conceição, e uma missa de músicas tristes, choros contidos e lamentos do padre Cláudio Barros Praxedes foi a única celebração da noite de primeiro de julho. A festa há meses programada transformou-se em uma tragédia inimaginável. Um aniversário que será lembrado como uma das páginas mais horríveis de nossa história.
O fato
Radegundis e seus companheiros de sexteto saíram de João Pessoa, onde residiam, para abrilhantar a festa da paróquia de Itaporanga com um show do sexteto de trombone, o grupo com o qual o instrumentista itaporanguense se apresentava nos mais importantes palcos do mundo.
Traria para sua terra o melhor e lançaria aqui mais um CD: acostumado aos aplausos das mais seletas platéias do planeta, queria também os aplausos de seus conterrâneos e ser grato à Igreja da qual ele e a maior parte do seu grupo eram frutos. Nasceram da filarmônica Cônego Manoel Firmino, uma das obras culturais mais importantes do padre José Sinfrônio de Assis Filho.
Os seis músicos dividiramse em dois carros: Radegundis seguia na frente e com ele viajavam Roberto, Adenilton e Luiz Benedito, que já saiu de João Pessoa com o grupo. Ao passarem por Piancó, os músicos decidiram visitar um companheiro (o conhecido maestro Nêgo Lula) e nesse ínterim, o carro com a outra parte do sexteto passou: Sandoval, Rogério e Gilvando chegaram primeiro a Itaporanga e ficaram aguardando os colegas, mas o que chegou foi a notícia da tragédia. “Nós chegamos em Itaporanga e ficamos esperando, foi quando soubemos que tinha havido o acidente, mas eu pensava que não era nada grave, e só quando cheguei no local foi que me deparei com a tragédia, uma coisa que ninguém imaginava e até hoje eu custo em acreditar”, comenta Gilvando Pereira da Silva. Um outro integrante do sexteto, conterrâneo e amigo de Radegundis desde o Ginásio Diocesano, Sandoval Moreno de Oliveira, além do tio Luiz, perdeu um companheiro da vida inteira e permanece profundamente abalado.
Ao passar pelo trecho da BR-361, que corta o sítio Roça de Cima, município de Piancó, já próximo ao limite com Itaporanga, Radegundis perdeu o controle do seu carro, um Citröen c4, placa NPT 5510, que saiu da pista e capotou violentamente, indo parar às margens da estrada, onde, em poucos minutos, foi consumido pelo fogo. Não houve sobrevivente: seus quatro ocupantes morreram carbonizados. Um deles, Luiz, foi arremessado para fora do veículo durante a capotagem, mas caiu próximo ao carro e também foi queimado.
A principal testemunha do acidente, um comerciante de Itaporanga, foi ouvido pelo delegado de Piancó, José Pereira, um dia após o acidente. Conforme o delegado, o homem disse que trafegava a 130 quilômetros quando foi ultrapassado pelo carro dos músicos e, minutos depois, deparou-se com a tragédia: o veículo sendo consumido pelo fogo e fora dele um corpo também tomado pelas chamas. Populares ainda tentaram socorrer o homem com extintores de incêndio, mas ele não resistiu.
De acordo com o delegado, outras pessoas que passaram pelo local minutos depois do acidente disseram ter visto jumentos nos arredores, o que reforça a hipótese, segundo dr. Pereira, de que o músico perdeu o controle do carro ao tentar desviar de um animal.
A testemunha também disse ter ouvido gemidos provenientes de dentro do veículo, mas não havia como prestar socorro às demais vítimas por causa, segundo ele, da grande intensidade do fogo e da rapidez com que as chamas se propagaram, destruindo o carro e tudo que estava dentro dele em poucos minutos. Mas alguns objetos dos músicos, que caíram do carro antes da combustão, foram recuperados: um laptop de Radegundis, um trombone do grupo e uma quantia em dinheiro de Luiz foram recuperados. E tudo mais terminou em cinzas.
Os corpos dos músicos ficaram desmontados e ficaram irreconhecíveis. Levados para o Instituto de Medicina Legal de João Pessoa, precisaram passar por exame de arcada dentária para serem identificados e depois entregues às famílias. Dos três itaporanguenses, dois, Luiz e Roberto, foram sepultados em Itaporanga. Radegundis foi cremado em um crematório de Cabedelo e as cinzas jogadas ao mar. Já Adenilton foi sepultado em Igaracy, sua terra.
Radegundis: o melhor do país
O primeiro doutor em trombone do Brasil era também um dos três melhores do mundo. Mestrado na The Juilliard School de Nova York em 87 e doutorado na The Catholic University of American de Washignton em 91, Radegundis era atualmente chefe do Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Comandava a escola onde um dia foi aluno.
Como professor de música da UFPB por 25 anos, Radegundis formou uma geração de músicos, mas foi além da sala de aula: montou grupos de metais que ganharam destaque no país e no mundo, a exemplo do quinteto Brassil e do sexteto Brazilian Trombrone Ensemble, com o qual realizou apresentações marcantes na Europa e nos Estados Unidos. Também construiu uma carreira solo, com apresentações por todo o país e fora dele, conquistando prêmios nacionais e internacionais.
Trombone principal da orquestra sinfônica da Paraíba e com participação marcante na Sinfônica da Bahia, o maestro também criou e integrava a sinfônica Norte/Nordeste.
Gravou importantes trabalhos com o quinteto e sexteto de trombone e também como solista, entre os quais Trombone Brasileiro em parceria com a pianista Maria Teresa Madeira, e o disco Radegundis Feitosa & Camerata Brasílica, onde demonstra toda sua genialidade musical. “Gravamos também com a sinfônica Norte/Nordeste e, uma coisa da qual eu me orgulho muito, foi o disco da sinfônica da Paraíba, uma coisa marcante na minha carreira, porque o primeiro CD com a orquestra sinfônica do Brasil foi gravado na Paraíba”, disse Radegundis em entrevista para um documentário radiofônico produzido pela Fundação José Francisco de Sousa em 2008.
Um dos grandes defensores da música, criou e presidiu a Associação Brasileira de Trombone, surgida em 1995 em Brasília para defender não apenas a classe, mas a música como um todo. Foi destaque em algumas das principais mídias mundiais, entre elas a TV Globo (Programa do Jô) e BBC de Londres, além de sua constante presença nas mais variadas publicações musicais aqui e no exterior.
E pensar que Radegundis saiu de Itaporanga no final da década de 70 com o propósito de ser engenheiro civil, seguindo os passos profissionais do pai, Heleno Feitosa Costa (já falecido), um construtor regional, mas que também sabia edificar boas notas musicais.
E ao chegar em João Pessoa, o filho de Costa descobriu uma escola musical e não pensou duas vezes: a paixão pela música falou mais alto e ele seguiu a carreira do coração. Teve receio de contar ao pai sua escolha, já que na época a música não era uma atividade muito valorizada profissionalmente, mas encontrou apoio em Heleno Feitosa, que, no fundo, era o principal responsável pelo apego de Radegundis ao trombone.
Na infância, a brincadeira dele era com um velho piston do pai. Trombonista autodidata, Costa tinha uma orquestra de carnaval chamada Unidos do Vale, que brilhou na década 60 em Itaporanga e região, e vendo o interesse do filho pela música, contratou o maestro de sua orquestra, Edmilson Pinto, para dar aula a Radego, como carinhosamente era chamado pela família.
“Eu tive uma base muito boa, que é o que falta a muita gente, e isso graças, primeiramente, ao professor Edmilson Pinto, e depois à filarmônica Cônego Manoel Firmino”, diz Radegundis no documentário.
O músico desaparece aos 48 anos: uma morte violenta e precosse, mas seu legado é imorredouro. Os grupos que criou, os discos que gravou, as dezenas de músicos que formou e toda luta em defesa da música erudita resultaram em valiosos frutos para o presente e para o futuro.
E Radegundis ainda tinha muitos projetos, e quase todos passavam pelo departamento de música da universidade federal, que ficou arrasado emocionalmente com a morte do seu líder maior: alunos e professores foram às lágrimas. O próprio reitor da universidade, Rômulo Pollary, disse que será muito difícil substituir Radegundis no departamento de música e que a UFPB perdeu um dos seus melhores quadros.
Radegundis, que embarcaria no dia 2 de julho, depois de retornar de Itaporanga, para Campos do Jordão, em São Paulo, onde participaria do festival internacional de música erudita, evento que se realiza há 40 anos, deixou esposa e dois filhos, um com 16 (Ramon) e o outro com 22 anos. Radegundis Filho, o mais velho, já é professor de música e atua no Rio Grande do Norte. O músico também deixou duas filhas de um outro relacionamento.
Se toda Paraíba comoveuse com o fim trágico do grande maestro, imaginem sua família: Zacarias Feitosa é o único irmão biológico de Radegundis residente em Itaporanga e foi o primeiro a chegar no local do acidente. Diante da cena, uma dor para toda a vida. Dor também para sua esposa e filhos, para seus irmãos, dois dos quais Costinha e Bobó, também são músicos, e, principalmente, para sua mãe, dona Joanita Feitosa, hoje também residindo em João Pessoa e já com uma idade avançada.
A família decidiu pela cremação do corpo de Radegundis atendendo um pedido dele próprio manifestado anos atrás durante os funerais de um professor do trombonista. “Ele falou que um dia quando morresse também queria que seu corpo fosse cremado e as cinzas jogadas no mar”, disse emocionado Zacarias à reportagem da Folha.
Mas em Itaporanga muita gente lamentou: queria que, pelo menos, parte do velório tivesse sido realizado na cidade, da qual o músico era filho e onde está sepultado o seu pai, para despedir-se do conterrâneo ilustre. “Eu disse por todo canto, se o velho Costa fosse vivo, o corpo de Radegundis tinha vindo para cá”, disse Edmilson Pinto, primeiro professor do músico.
Luiz Benedito: meio século de música
Cantor e compositor, Luiz Benedito de Oliveira completou 75 anos no dia 20 de março passado, mas tinha outro motivo para comemorar: este ano conseguiu concretizar um projeto há muito tempo desejado. O CD gravado não era o primeiro, mas, certamente, o melhor dos seus 50 anos de música.
Com arranjos de Radegundis e sua equipe, o CD seria o coroamento da vida musical de Luiz, que estava ansioso para apresentá-lo ao público de Itaporanga no aniversário da paróquia, o que não foi possível. Mas a morte não significou o fim de sua obra: a família do cantor pretende lançar o disco no final do ano.
E uma outra herança promissora que ele deixa para a música carrega o seu nome e sangue: Luiz Benedito Júnior, um dos seus cinco filhos, já ensaia passos firmes no caminho do estrelado musical.
Luiz Benedito nasceu em Itaporanga, mas viveu todo sua adolescência em Bonito de Santa Fé, onde aprendeu o ofício de alfaiate e deu os primeiros passos musicais. A música estava no sangue: quatro dos seus cinco irmãos também dedicaramse à arte musical, entre os quais sargento Antônio Benedito (também já falecido e pai de Sandoval), regente da banda de música criada pelo prefeito de Itaporanga, Abraão Diniz, uma das primeiras do município.
“Na década de 50, entre 55 e 56, Luiz foi para o Rio de Janeiro, e lá trabalhou como alfaiate e também na música, se apresentou em várias rádios e fez muito sucesso lá”, comenta Sebastião Benedito, irmão de Luiz e também músico: “nesse CD que iria lançar tem uma marcha minha, e também tem música de Edmilson Pinto e Pedro Môco, e música dele próprio também”, completa Doba, como popularmente é conhecido, ao lembrar a genética musical da família, de onde saiu muita gente talentosa, e entre os mais famosos, ele cita o primo, que morou durante muito tempo em Itaporanga, Alventino Cavalcante, compositor do “Canto da Ema”, gravado por Jackson do Pandeiro.
Luiz Benedito é egresso do tempo das serestas românticas, das bandas de bailes e das orquestras de carnaval, que embalavam as ruas de Itaporanga. “Eu cantei com Luiz mais de 30 anos, e o que aconteceu só os desígnios de Deus pode explicar”, comenta o cantor e carteiro Nilton Mendes.
A geração musical de Luiz e Edmilson Pinto precede a de Radegundis, que é o grande divisor de águas. Com este, a música de Itaporanga deixa os limites do município e o autodidatismo, conquistando valiosos espaços na academia e nos palcos do país inteiro: é o tempo de Sandoval, Gilvando, Roberto e muitos outros que permanecem brilhando, mas, ao mesmo tempo, abrindo espaço para uma nova safra.
Luiz Benedito foi sepultado em Itaporanga em meio a muita comoção: familiares, amigos e conhecidos despediram-se emocionados do músico e alfaiate.
Roberto Ângelo: mais um talento nosso
A exemplo de Radegundis, Sandoval e Gilvando, Roberto Ângelo também nasceu para a música na filarmônica Cônego Manoel Firmino de Itaporanga e, como os demais, integrava a sinfônica da Paraíba, além do quarteto, quinteto e sexteto de trombone.
Roberto, que tinha 42 anos, também atuava na banda da Prefeitura de JoãoPessoa e dava aula de música na escola Toque de Vida em João Pessoa.
Casado com uma itaporanguense do sítio Jenipapo, Damiana Figueiredo, Roberto deixou um casal de filhos menores, Lucas e Luana, que ficaram muito abalados, assim como toda a sua família. “Tive uma infância, adolescência e toda uma história de vida com Roberto: nossa história tem a mesma trajetória e sempre tivemos o mesmo objetivo de estudar música, mas não pensávamos em fazer carreira na música e só mais tarde, em 1986, quando fomos para a capital é que isso se concretizou”, comenta Gilvando.
Considerado uma das grandes revelações da música de Itaporanga, Roberto Ângelo não era graduado em música, mas seu talento era inegável, tanto que integrava os dois mais importantes grupos de trombone do estado, além da sinfônica da Paraíba, e mais recentemente passou a integrar a banda da Prefeitura pessoense por meio de concurso público.
Roberto Ângelo residia na capital com a família, mas, a exemplo de Luiz Benedito, foi sepultado em Itaporanga. Um grande número de pessoas sob os acordes tristes da filarmônica Cônego Manoel Firmino levaram o corpo do músico até o cemitério local, onde ele foi sepultado.
Adenilton: uma grande revelação
O jovem Adenilton França tinha apenas 26 anos, mas já era considerado um dos grandes trombonistas do estado. Ele substituía Renato Farias, de São Paulo, no sexteto de trombone.
Adenilton era natural de Igaracy, mas morou durante muito tempo em Patos, onde enveredou pelo caminho musical. Integrou a banda do município e seguiu para João Pessoa, onde se dedicou aos estudos de música. Na Universidade Federal da Paraíba, graduou-se em trombone. Foi um dos mais brilhantes alunos de Radegundis e acompanhava o mestre e maestro em algumas apresentações do sexteto.
O jovem músico tinha uma trajetória marcada por dificuldades, o que é comum à vida da maior parte dos estudantes sertanejos que buscam a capital. Morou na residência universitária e nunca se distanciou dos seus objetivos. E no momento em que os frutos do seu esforço começam a dar bons resultados, não houve mais tempo para usufruí-los.
Reconhecidamente talentoso, Adenilton também integrava o quarteto de trombone, a orquestra sinfônica jovem da Paraíba, a orquestra sinfônica da Prefeitura de João Pessoa e o quinteto de metais Jampa Brass.
Adenilton tinha um longo e promissor caminho na música erudita do Brasil, mas sua trajetória foi dolorosamente interrompida. O Vale e a Paraíba perderam um dos seus grandes valores musicais.
Seu corpo foi sepultado em Igaracy em clima de muita comoção, marcada, principalmente, pela dor de um pai e de uma mãe que perdem um filho precocemente e de maneira tão trágica.
Quinteto e sexteto não vão morrer
A morte do mestre e maestro Radegundis Feitosa não significa o fim de sua obra. Seu legado para a música erudita brasileira é um dos mais importantes de todos os tempos. O trombone levou-o às alturas do estrelado musical e fixoulhe na história cultural deste país para sempre, com grande contributo para que a música instrumental brasileira conquistasse o espaço e o respeito que hoje desfruta nos Estados Unidos e Europa, pulmões financeiro e cultural do mundo.
Durante mais de 30 anos, formou centenas de alunos, criou e executou dezenas de projetos musicais e emocionou plateias pelo mundo afora: Radegundis alcançou um lugar na música erudita onde poucos até hoje chegaram. Mas conquistar as glórias e vitórias que Radegundis conquistou ao longo de sua carreira não foi nada fácil, principalmente pelas suas origens: um músico sem muitos recursos financeiros e oriundo de uma pequena cidade do interior paraibano.
A morte dos três músicos eruditos abalou toda classe artística estadual, principalmente seus companheiros, mas os trombones não vão se calar: “A tarefa não é fácil, mas nós, Sandoval, eu e demais companheiros, vamos nos reunir para definir os substitutos, e já temos, inclusive, alguns nomes em mente, e vamos dar continuidade ao trabalho ”, comenta Gilvando.
O quinteto, assim como o sexteto, eram constituídos predominantemente por itaporanguenses, quatro ao todo: Sandoval, Gilvando, Roberto e Radegundis, mas agora restam apenas dois.
Missa lembra o 30° dia da tragédia
Uma missa em memória das vítimas está programada para a noite do sábado, 31 de julho, na Igreja Matriz de Itaporanga.
Famílias, amigos dos músicos e o público em geral estão sendo convidados para a celebração, que será conduzida pelo padre Cláudio Barros.
Um grande número de pessoas é esperado na missa.
“Isso é provado estatisticamente e ocorre porque quando o motorista entra em uma área que ele já conhece, fica mais tranquilo e menos atento, exatamente por conhecer o local onde está circulando, o que aumenta a probabilidade de um acidente em função de obstáculos que podem aparecer na estrada”, comenta o delegado Joáis Marques, plantonista da delegacia de Itaporanga.
Radegundis Feitosa Nunes, acostumado a correr o mundo inteiro, achou de perder a vida na sua própria terra, vitimado pelo carro que ele mesmo conduzia, levando consigo duas gerações de nossa música e metade do sexteto de trombone da Paraíba (Brazilian Trombone Ensemble), o grupo de metais brasileiro mais conhecido no mundo.
Mas o que as estatísticas não podem medir nem precisar é o tamanho da perda humana: a dor de quatro famílias e as lágrimas de um estado inteiro. A música de Itaporanga e da Paraíba está coberta por um luto interminável desde às 10h do dia primeiro deste mês, quando os acordes do maestro Radegundis, o primeiro doutor em trombone do Brasil e um dos melhores instrumentistas do planeta, calaram-se para sempre. Calaram-se também a voz de Luiz Benedito, cantor e compositor da velha guarda, e os sopros talentosos dos também trombonistas Roberto Ângelo Sabino e Adenilton Soares de França, o único não itaporanguense, mas filho do Vale, com raízes familiares em Igaracy.
Radegundis, Roberto e Adenilton viriam a Itaporanga fazer uma apresentação do sexteto de trombone na abertura das festividades de aniversário da paróquia, marcada para a noite. O restante do grupo veio na frente e, minutos depois que chegou à cidade, recebeu a notícia que seus companheiros haviam ficado no caminho. Luiz Benedito também viria à sua terra por um compromisso musical. Trazia orgulhoso a concretização de um sonho: iria apresentar ao público quatro faixas do CD que pretendia lançar em breve. Mas nada, sonhos, planos e alegrias, nada resistiu ao fogo oriundo da explosão do tanque de combustível do carro, possivelmente em razão do choque do veículo com uma pedra, depois de capotar violentamente. Foi a maior tragédia da BR-361 e a maior perda da música instrumental do Brasil nos últimos tempos.
O silêncio e o luto tomaram lugar no palco armado ao lado da igreja para a festa dos 150 anos da paróquia Nossa Senhora da Conceição, e uma missa de músicas tristes, choros contidos e lamentos do padre Cláudio Barros Praxedes foi a única celebração da noite de primeiro de julho. A festa há meses programada transformou-se em uma tragédia inimaginável. Um aniversário que será lembrado como uma das páginas mais horríveis de nossa história.
O fato
Radegundis e seus companheiros de sexteto saíram de João Pessoa, onde residiam, para abrilhantar a festa da paróquia de Itaporanga com um show do sexteto de trombone, o grupo com o qual o instrumentista itaporanguense se apresentava nos mais importantes palcos do mundo.
Traria para sua terra o melhor e lançaria aqui mais um CD: acostumado aos aplausos das mais seletas platéias do planeta, queria também os aplausos de seus conterrâneos e ser grato à Igreja da qual ele e a maior parte do seu grupo eram frutos. Nasceram da filarmônica Cônego Manoel Firmino, uma das obras culturais mais importantes do padre José Sinfrônio de Assis Filho.
Os seis músicos dividiramse em dois carros: Radegundis seguia na frente e com ele viajavam Roberto, Adenilton e Luiz Benedito, que já saiu de João Pessoa com o grupo. Ao passarem por Piancó, os músicos decidiram visitar um companheiro (o conhecido maestro Nêgo Lula) e nesse ínterim, o carro com a outra parte do sexteto passou: Sandoval, Rogério e Gilvando chegaram primeiro a Itaporanga e ficaram aguardando os colegas, mas o que chegou foi a notícia da tragédia. “Nós chegamos em Itaporanga e ficamos esperando, foi quando soubemos que tinha havido o acidente, mas eu pensava que não era nada grave, e só quando cheguei no local foi que me deparei com a tragédia, uma coisa que ninguém imaginava e até hoje eu custo em acreditar”, comenta Gilvando Pereira da Silva. Um outro integrante do sexteto, conterrâneo e amigo de Radegundis desde o Ginásio Diocesano, Sandoval Moreno de Oliveira, além do tio Luiz, perdeu um companheiro da vida inteira e permanece profundamente abalado.
Ao passar pelo trecho da BR-361, que corta o sítio Roça de Cima, município de Piancó, já próximo ao limite com Itaporanga, Radegundis perdeu o controle do seu carro, um Citröen c4, placa NPT 5510, que saiu da pista e capotou violentamente, indo parar às margens da estrada, onde, em poucos minutos, foi consumido pelo fogo. Não houve sobrevivente: seus quatro ocupantes morreram carbonizados. Um deles, Luiz, foi arremessado para fora do veículo durante a capotagem, mas caiu próximo ao carro e também foi queimado.
A principal testemunha do acidente, um comerciante de Itaporanga, foi ouvido pelo delegado de Piancó, José Pereira, um dia após o acidente. Conforme o delegado, o homem disse que trafegava a 130 quilômetros quando foi ultrapassado pelo carro dos músicos e, minutos depois, deparou-se com a tragédia: o veículo sendo consumido pelo fogo e fora dele um corpo também tomado pelas chamas. Populares ainda tentaram socorrer o homem com extintores de incêndio, mas ele não resistiu.
De acordo com o delegado, outras pessoas que passaram pelo local minutos depois do acidente disseram ter visto jumentos nos arredores, o que reforça a hipótese, segundo dr. Pereira, de que o músico perdeu o controle do carro ao tentar desviar de um animal.
A testemunha também disse ter ouvido gemidos provenientes de dentro do veículo, mas não havia como prestar socorro às demais vítimas por causa, segundo ele, da grande intensidade do fogo e da rapidez com que as chamas se propagaram, destruindo o carro e tudo que estava dentro dele em poucos minutos. Mas alguns objetos dos músicos, que caíram do carro antes da combustão, foram recuperados: um laptop de Radegundis, um trombone do grupo e uma quantia em dinheiro de Luiz foram recuperados. E tudo mais terminou em cinzas.
Os corpos dos músicos ficaram desmontados e ficaram irreconhecíveis. Levados para o Instituto de Medicina Legal de João Pessoa, precisaram passar por exame de arcada dentária para serem identificados e depois entregues às famílias. Dos três itaporanguenses, dois, Luiz e Roberto, foram sepultados em Itaporanga. Radegundis foi cremado em um crematório de Cabedelo e as cinzas jogadas ao mar. Já Adenilton foi sepultado em Igaracy, sua terra.
Radegundis: o melhor do país
O primeiro doutor em trombone do Brasil era também um dos três melhores do mundo. Mestrado na The Juilliard School de Nova York em 87 e doutorado na The Catholic University of American de Washignton em 91, Radegundis era atualmente chefe do Departamento de Música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Comandava a escola onde um dia foi aluno.
Como professor de música da UFPB por 25 anos, Radegundis formou uma geração de músicos, mas foi além da sala de aula: montou grupos de metais que ganharam destaque no país e no mundo, a exemplo do quinteto Brassil e do sexteto Brazilian Trombrone Ensemble, com o qual realizou apresentações marcantes na Europa e nos Estados Unidos. Também construiu uma carreira solo, com apresentações por todo o país e fora dele, conquistando prêmios nacionais e internacionais.
Trombone principal da orquestra sinfônica da Paraíba e com participação marcante na Sinfônica da Bahia, o maestro também criou e integrava a sinfônica Norte/Nordeste.
Gravou importantes trabalhos com o quinteto e sexteto de trombone e também como solista, entre os quais Trombone Brasileiro em parceria com a pianista Maria Teresa Madeira, e o disco Radegundis Feitosa & Camerata Brasílica, onde demonstra toda sua genialidade musical. “Gravamos também com a sinfônica Norte/Nordeste e, uma coisa da qual eu me orgulho muito, foi o disco da sinfônica da Paraíba, uma coisa marcante na minha carreira, porque o primeiro CD com a orquestra sinfônica do Brasil foi gravado na Paraíba”, disse Radegundis em entrevista para um documentário radiofônico produzido pela Fundação José Francisco de Sousa em 2008.
Um dos grandes defensores da música, criou e presidiu a Associação Brasileira de Trombone, surgida em 1995 em Brasília para defender não apenas a classe, mas a música como um todo. Foi destaque em algumas das principais mídias mundiais, entre elas a TV Globo (Programa do Jô) e BBC de Londres, além de sua constante presença nas mais variadas publicações musicais aqui e no exterior.
E pensar que Radegundis saiu de Itaporanga no final da década de 70 com o propósito de ser engenheiro civil, seguindo os passos profissionais do pai, Heleno Feitosa Costa (já falecido), um construtor regional, mas que também sabia edificar boas notas musicais.
E ao chegar em João Pessoa, o filho de Costa descobriu uma escola musical e não pensou duas vezes: a paixão pela música falou mais alto e ele seguiu a carreira do coração. Teve receio de contar ao pai sua escolha, já que na época a música não era uma atividade muito valorizada profissionalmente, mas encontrou apoio em Heleno Feitosa, que, no fundo, era o principal responsável pelo apego de Radegundis ao trombone.
Na infância, a brincadeira dele era com um velho piston do pai. Trombonista autodidata, Costa tinha uma orquestra de carnaval chamada Unidos do Vale, que brilhou na década 60 em Itaporanga e região, e vendo o interesse do filho pela música, contratou o maestro de sua orquestra, Edmilson Pinto, para dar aula a Radego, como carinhosamente era chamado pela família.
“Eu tive uma base muito boa, que é o que falta a muita gente, e isso graças, primeiramente, ao professor Edmilson Pinto, e depois à filarmônica Cônego Manoel Firmino”, diz Radegundis no documentário.
O músico desaparece aos 48 anos: uma morte violenta e precosse, mas seu legado é imorredouro. Os grupos que criou, os discos que gravou, as dezenas de músicos que formou e toda luta em defesa da música erudita resultaram em valiosos frutos para o presente e para o futuro.
E Radegundis ainda tinha muitos projetos, e quase todos passavam pelo departamento de música da universidade federal, que ficou arrasado emocionalmente com a morte do seu líder maior: alunos e professores foram às lágrimas. O próprio reitor da universidade, Rômulo Pollary, disse que será muito difícil substituir Radegundis no departamento de música e que a UFPB perdeu um dos seus melhores quadros.
Radegundis, que embarcaria no dia 2 de julho, depois de retornar de Itaporanga, para Campos do Jordão, em São Paulo, onde participaria do festival internacional de música erudita, evento que se realiza há 40 anos, deixou esposa e dois filhos, um com 16 (Ramon) e o outro com 22 anos. Radegundis Filho, o mais velho, já é professor de música e atua no Rio Grande do Norte. O músico também deixou duas filhas de um outro relacionamento.
Se toda Paraíba comoveuse com o fim trágico do grande maestro, imaginem sua família: Zacarias Feitosa é o único irmão biológico de Radegundis residente em Itaporanga e foi o primeiro a chegar no local do acidente. Diante da cena, uma dor para toda a vida. Dor também para sua esposa e filhos, para seus irmãos, dois dos quais Costinha e Bobó, também são músicos, e, principalmente, para sua mãe, dona Joanita Feitosa, hoje também residindo em João Pessoa e já com uma idade avançada.
A família decidiu pela cremação do corpo de Radegundis atendendo um pedido dele próprio manifestado anos atrás durante os funerais de um professor do trombonista. “Ele falou que um dia quando morresse também queria que seu corpo fosse cremado e as cinzas jogadas no mar”, disse emocionado Zacarias à reportagem da Folha.
Mas em Itaporanga muita gente lamentou: queria que, pelo menos, parte do velório tivesse sido realizado na cidade, da qual o músico era filho e onde está sepultado o seu pai, para despedir-se do conterrâneo ilustre. “Eu disse por todo canto, se o velho Costa fosse vivo, o corpo de Radegundis tinha vindo para cá”, disse Edmilson Pinto, primeiro professor do músico.
Luiz Benedito: meio século de música
Cantor e compositor, Luiz Benedito de Oliveira completou 75 anos no dia 20 de março passado, mas tinha outro motivo para comemorar: este ano conseguiu concretizar um projeto há muito tempo desejado. O CD gravado não era o primeiro, mas, certamente, o melhor dos seus 50 anos de música.
Com arranjos de Radegundis e sua equipe, o CD seria o coroamento da vida musical de Luiz, que estava ansioso para apresentá-lo ao público de Itaporanga no aniversário da paróquia, o que não foi possível. Mas a morte não significou o fim de sua obra: a família do cantor pretende lançar o disco no final do ano.
E uma outra herança promissora que ele deixa para a música carrega o seu nome e sangue: Luiz Benedito Júnior, um dos seus cinco filhos, já ensaia passos firmes no caminho do estrelado musical.
Luiz Benedito nasceu em Itaporanga, mas viveu todo sua adolescência em Bonito de Santa Fé, onde aprendeu o ofício de alfaiate e deu os primeiros passos musicais. A música estava no sangue: quatro dos seus cinco irmãos também dedicaramse à arte musical, entre os quais sargento Antônio Benedito (também já falecido e pai de Sandoval), regente da banda de música criada pelo prefeito de Itaporanga, Abraão Diniz, uma das primeiras do município.
“Na década de 50, entre 55 e 56, Luiz foi para o Rio de Janeiro, e lá trabalhou como alfaiate e também na música, se apresentou em várias rádios e fez muito sucesso lá”, comenta Sebastião Benedito, irmão de Luiz e também músico: “nesse CD que iria lançar tem uma marcha minha, e também tem música de Edmilson Pinto e Pedro Môco, e música dele próprio também”, completa Doba, como popularmente é conhecido, ao lembrar a genética musical da família, de onde saiu muita gente talentosa, e entre os mais famosos, ele cita o primo, que morou durante muito tempo em Itaporanga, Alventino Cavalcante, compositor do “Canto da Ema”, gravado por Jackson do Pandeiro.
Luiz Benedito é egresso do tempo das serestas românticas, das bandas de bailes e das orquestras de carnaval, que embalavam as ruas de Itaporanga. “Eu cantei com Luiz mais de 30 anos, e o que aconteceu só os desígnios de Deus pode explicar”, comenta o cantor e carteiro Nilton Mendes.
A geração musical de Luiz e Edmilson Pinto precede a de Radegundis, que é o grande divisor de águas. Com este, a música de Itaporanga deixa os limites do município e o autodidatismo, conquistando valiosos espaços na academia e nos palcos do país inteiro: é o tempo de Sandoval, Gilvando, Roberto e muitos outros que permanecem brilhando, mas, ao mesmo tempo, abrindo espaço para uma nova safra.
Luiz Benedito foi sepultado em Itaporanga em meio a muita comoção: familiares, amigos e conhecidos despediram-se emocionados do músico e alfaiate.
Roberto Ângelo: mais um talento nosso
A exemplo de Radegundis, Sandoval e Gilvando, Roberto Ângelo também nasceu para a música na filarmônica Cônego Manoel Firmino de Itaporanga e, como os demais, integrava a sinfônica da Paraíba, além do quarteto, quinteto e sexteto de trombone.
Roberto, que tinha 42 anos, também atuava na banda da Prefeitura de JoãoPessoa e dava aula de música na escola Toque de Vida em João Pessoa.
Casado com uma itaporanguense do sítio Jenipapo, Damiana Figueiredo, Roberto deixou um casal de filhos menores, Lucas e Luana, que ficaram muito abalados, assim como toda a sua família. “Tive uma infância, adolescência e toda uma história de vida com Roberto: nossa história tem a mesma trajetória e sempre tivemos o mesmo objetivo de estudar música, mas não pensávamos em fazer carreira na música e só mais tarde, em 1986, quando fomos para a capital é que isso se concretizou”, comenta Gilvando.
Considerado uma das grandes revelações da música de Itaporanga, Roberto Ângelo não era graduado em música, mas seu talento era inegável, tanto que integrava os dois mais importantes grupos de trombone do estado, além da sinfônica da Paraíba, e mais recentemente passou a integrar a banda da Prefeitura pessoense por meio de concurso público.
Roberto Ângelo residia na capital com a família, mas, a exemplo de Luiz Benedito, foi sepultado em Itaporanga. Um grande número de pessoas sob os acordes tristes da filarmônica Cônego Manoel Firmino levaram o corpo do músico até o cemitério local, onde ele foi sepultado.
Adenilton: uma grande revelação
O jovem Adenilton França tinha apenas 26 anos, mas já era considerado um dos grandes trombonistas do estado. Ele substituía Renato Farias, de São Paulo, no sexteto de trombone.
Adenilton era natural de Igaracy, mas morou durante muito tempo em Patos, onde enveredou pelo caminho musical. Integrou a banda do município e seguiu para João Pessoa, onde se dedicou aos estudos de música. Na Universidade Federal da Paraíba, graduou-se em trombone. Foi um dos mais brilhantes alunos de Radegundis e acompanhava o mestre e maestro em algumas apresentações do sexteto.
O jovem músico tinha uma trajetória marcada por dificuldades, o que é comum à vida da maior parte dos estudantes sertanejos que buscam a capital. Morou na residência universitária e nunca se distanciou dos seus objetivos. E no momento em que os frutos do seu esforço começam a dar bons resultados, não houve mais tempo para usufruí-los.
Reconhecidamente talentoso, Adenilton também integrava o quarteto de trombone, a orquestra sinfônica jovem da Paraíba, a orquestra sinfônica da Prefeitura de João Pessoa e o quinteto de metais Jampa Brass.
Adenilton tinha um longo e promissor caminho na música erudita do Brasil, mas sua trajetória foi dolorosamente interrompida. O Vale e a Paraíba perderam um dos seus grandes valores musicais.
Seu corpo foi sepultado em Igaracy em clima de muita comoção, marcada, principalmente, pela dor de um pai e de uma mãe que perdem um filho precocemente e de maneira tão trágica.
Quinteto e sexteto não vão morrer
A morte do mestre e maestro Radegundis Feitosa não significa o fim de sua obra. Seu legado para a música erudita brasileira é um dos mais importantes de todos os tempos. O trombone levou-o às alturas do estrelado musical e fixoulhe na história cultural deste país para sempre, com grande contributo para que a música instrumental brasileira conquistasse o espaço e o respeito que hoje desfruta nos Estados Unidos e Europa, pulmões financeiro e cultural do mundo.
Durante mais de 30 anos, formou centenas de alunos, criou e executou dezenas de projetos musicais e emocionou plateias pelo mundo afora: Radegundis alcançou um lugar na música erudita onde poucos até hoje chegaram. Mas conquistar as glórias e vitórias que Radegundis conquistou ao longo de sua carreira não foi nada fácil, principalmente pelas suas origens: um músico sem muitos recursos financeiros e oriundo de uma pequena cidade do interior paraibano.
A morte dos três músicos eruditos abalou toda classe artística estadual, principalmente seus companheiros, mas os trombones não vão se calar: “A tarefa não é fácil, mas nós, Sandoval, eu e demais companheiros, vamos nos reunir para definir os substitutos, e já temos, inclusive, alguns nomes em mente, e vamos dar continuidade ao trabalho ”, comenta Gilvando.
O quinteto, assim como o sexteto, eram constituídos predominantemente por itaporanguenses, quatro ao todo: Sandoval, Gilvando, Roberto e Radegundis, mas agora restam apenas dois.
Missa lembra o 30° dia da tragédia
Uma missa em memória das vítimas está programada para a noite do sábado, 31 de julho, na Igreja Matriz de Itaporanga.
Famílias, amigos dos músicos e o público em geral estão sendo convidados para a celebração, que será conduzida pelo padre Cláudio Barros.
Um grande número de pessoas é esperado na missa.
Folha do Vale - Ed. 170
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