COLUNAS
Onde estava Jaspion?
Rossandro Klinjey
Ultraseven, Speed Racer, Jaspion, Digimon, Pokémon, Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco, são alguns heróis dos animes japoneses que nada puderam fazer para socorrer o Japão, mas que ajudaram a preparar o espírito daquele povo para uma catástrofe como esta, cuja magnitude ainda não se pode calcular.
Certamente que a cena de aviões, barcos, casas e carros movidos como se fossem brinquedos nos deixa atônitos, cujas imagens podemos ver no vídeo da rede de TV japonesa NHK no endereço que segue http://www.youtube.com/watch?v=iQD-2tlppdY&feature=player_embedded. Fica também a impressão de que Sendai, a cidade mais atingida pelos tremores, lamentavelmente venha a fazer parte de uma página triste da história do Japão, ao lado de Hiroxima e Nagasaki, que foram destruídas por bombas atômicas no fim da segunda guerra mundial. A grande diferença é que as duas últimas foram destruídas como resultado da ação humana. As estimativas, do que foi o primeiro ataque por armas nucleares sobre uma população civil, apontam para um número total de mortos a variar entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki, ao passo em que o número de mortos em todo o Japão após este último terremoto ficará longe dos 220 mil mortos de agosto de 1945. Isso tudo se levarmos em consideração que a energia liberada pelo terremoto de sexta-feira, no Japão, foi equivalente à explosão simultânea de mais de 15 mil bombas atômicas como a "Little Boy" jogada sobre Hiroshima numa segunda-feira, em 6 de agosto, de 1945.
O japoneses ainda têm que lidar com os eventos que se sucedem à essa catástrofe, tentando evitar um colapso de três reatores atingidos na usina de Fukushima, no pior acidente nuclear desde o desastre de Chernobyl de 1986, desencadeado pelo tsunami de sexta-feira, como podemos ver no vídeo através do link a seguir http://www.youtube.com/watch?v=nQxW0Cq9E6I.
O Brasil, como todos sabem, localiza-se em área estável, no interior da Placa Tectônica Sul-Americana, o que torna os terremotos que aqui ocorrem de uma magnitude muito menor. Em compensação a ação humana em nosso país é que provoca catástrofes bem maiores que as ocorridas no Japão, senão vejamos os números: O estudo "Morte no Trânsito: Tragédia Rodoviária", realizado pelo SOS Estradas, programa de redução de acidentes, apontou que 42 mil pessoas morrem por ano vítimas de acidente de trânsito no Brasil.
Será que podemos calcular quantas pessoas morrem por falta de assistência médica no país, ou quantas morrem por assistência ineficiente? Quantas morrem por não conseguir comprar o remédio de que necessitam ou quantas morrem ao tomar medicamentos cujo princípio ativo não funciona? Talvez você que lê esse artigo agora não tenha precisado tomar um comprimido de venopril, também conhecido como captopril, conseguido num posto de saúde, para tratamento da hipertensão, mas que não baixa a pressão, tome você quantos pílulas tomar, simplesmente por que não funciona, ou precisou tomar um Fenobarbital ou fenobarbitona, uma substância barbitúrica usada como medicamento anticonvulsivante, hipnótico e sedativo, também conhecido sob o nome comercial de Gardenal®, e que também não tem efeito eficiente pelo mesmo motivo. Quem os fabrica? Quem os compra? Precisamos esperar por um tsunami no mar quando vários tsunamis morais varrem nosso país todos os dias?
Oremos pelos japoneses, irmãos nossos nessa hora de angústia de dor, mas também por nós nesses séculos de corrupção, desrespeito e falta de cidadania que nos destrói todos os dias.
* Psicólogo Clínico, mestre em Saúde Coletiva, professor das FACISA, FCM e Faculdade Boa Viagem.
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