domingo, 1 de setembro de 2013

O Palhaço e o Choque


O PALHAÇO E O CHOQUE
                                                                                 ( Felix Araújo Neto)

Ouvi, nas rodas de conversas, que um palhaço havia levado um choque e por isso morreu... Sim, o palhaço, o artista do riso, faleceu numa emboscada de fios e descarga elétrica.

Não sei, ao certo, onde estava o circo, não sei em que bairro pretendia armá-lo, em que rua, em que favela, em que recanto... Sei apenas, que o palhaço - o riso da meninada pobre - faleceu, tragicamente. 

Abalou-me a notícia. Chegou em ecos, em choro de imaginação... Claro! Aquele que fez tanta gente rir, trazendo alegria aos espíritos tristes, agora repousa em silêncio profundo, nos silêncios anônimos.

Vê-se um doloroso poema nesta acrobacia do destino.

Quem substituirá o palhaço nas graças dominicais, mascarando o rosto com a tinta triste do mais triste entre os felizes e infelizes? 
O palhaço, o operário do riso, também fazia o divino milagre de transformar palhaçadas em pão. Colhia do sagrado alimento circense. Sim, porque a arte, ali, era arte e a arte de viver!

No entanto, a vida é assim: o espetáculo da anarquia e da fragilidade do ser. Nunca imaginei que palhaços morressem... 
Contam que a criançada chorou por esse palhaço. Diziam, em soluços, que seus gestos ridículos, quanto mais assim eram, mais engraçados pareciam. As suas momices transformavam os lábios infantis em um só traço, no riso que não parava mais. Era ele, sempre ele, o maior choque de alegria, meio à gritaria dos meninos eletrizados, em alta voltagem de animação. 

Mas, uma corrente sombria de tristeza apagou um homem alegre. Fatalidade... Montando o palco do riso, tombou para sempre. Caiu o palhaço e seu sorriso. E com ele se foi o sonho iluminando das platéias... Por isso, hoje não tem espetáculo. E nunca mais terá espetáculo. E não haverá mais circo, nem meninos, nem alegria. Só um amontoado de fios serpenteando descargas de fogo e de morte. 

Nada mais haverá. Pois, naquele dia, armando o circo, o palhaço não sabia que desmontava o seu picadeiro. E as luzes se apagaram e os tambores soaram, pela última vez, em marcha fúnebre.

Morreu ESTRELINHA. E eu nem sei se acredito nisso! Morrer, decerto, é mais uma de suas palhaçadas. Só pode ser isso. Depois de trazer tanto riso à terra, foi levar algazarra ao céu. 

- Boa noite, palhacinho de Deus!

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