Por Saulo
Meu Caro Lucas!
Ao escrever esta epístola, volto-me aos meses de Julho, Agosto e Setembro de 2008 quando trocamos algumas correspondências e nelas sempre chamávamos a atenção dos nossos conterrâneos para terem cuidado com a eleição de Prefeito e Vereadores, pois deles dependem o desenvolvimento de um município.
Lendo a respeito do “Escândalo da Tilápia” e analisando de forma fria, pude perceber que é muita coincidência que um Prefeito de uma cidade filho natural de uma outra, escolha um açude exatamente de sua cidade para investir o dinheiro da primeira. De repente veio a minha mente criar uma “parábola” para ver se baseado nela colho melhor entendimento da coisa e só posso assim fazer se receber luzes de mentes sadias como a sua, meu caro Lucas, ou quem sabe de Zebedeu, ou Poliana, ou de uma dessas mentes abençoadas que aqui escrevem, com exceção de certo pseudo jornalista que adora ser citado, mas que vou evitar tocar em seu nome:
A parábola dos peixes sem pescadores
Era uma vez uma Secretaria de Desenvolvimento Humano, cujo Secretário nascera numa certa cidade de solo muito fértil localizada num “vale” que possuía muitos açudes e rios onde poderiam viver muito bem seus moradores. O tal secretário, muito antes de exercer este cargo, resolveu casar-se em outra cidade do mesmo “vale” e ali sobre a batuta da família de sua esposa conseguiu, depois de Secretário, ser Prefeito.
Ainda na Secretaria de Estado ele resolveu encher os açudes e rios daquele “vale” de peixes para matar a fome da população e assim o fez utilizando-se do dinheiro do Estado, nada mais justo. A partir daquele Projeto tudo seria fartura e ninguém mais passaria fome, com exceção dos peixes que ficaram esquecidos, famintos e até morreriam em proporções exageradas. Pobres peixes!
O então Secretário foi à região e se reuniu com pescadores e pessoas interessadas para discutir sobre o assunto, chamando a todos para pescar, pois a abundância de peixe e a emoção de pegar peixes, não faltaria. Toda aquela gente ficava muito animada com o assunto do projeto redentor.
Alguém sugeriu que o grupo precisava de uma capacitação sobre pesca e quem sabe chamar um Engenheiro de pesca para ensinar as técnicas. Assim, cuidadosamente, o Secretário definiu e redefiniu a pesca e o propósito do projeto. Ele com sua “equipe” desenvolveu estratégias e táticas. De repente toda aquela gente percebeu que havia começado de trás para frente – havia se interessado pela pescaria do ponto de vista do pescador, e não do ponto de vista do peixe. Como o peixe vê o mundo? Como o peixe vê o pescador? Como o peixe se sente sendo posto como isca para projetos com custos tão altos? O que e quando o peixe come? Era importante entender essas coisas, do contrario nossos heróis poderiam entrar em greve e provocar um suicídio coletivo ou não deixarem que os pescassem. Por isso, iniciaram estudos e pesquisas: “O açude de tal não se presta porque apesar de ser no município a que se destina o recurso, ele tem a finalidade de abastecimento; o açude qual não se presta porque apesar de ser público, não desenvolve bem o peixe”. Os estudos e as pesquisas foram se alastrando, os membros da equipe do Secretário participaram de conferências sobre pescaria, gastaram o que não podiam com idas e vindas e nada de Projeto.
Muitos viajaram a lugares longínquos para estudar diferentes tipos de peixes, com diferentes hábitos. Alguns obtiveram um verdadeiro Ph.D. em piscicultura.
O Secretário deixou a secretaria e se elegeu Prefeito. Foi aí que ele resolveu mandar à câmara dos vereadores um projeto sobre piscicultura, misturou com aquele outro e agora o dinheiro de uma cidade está em outra e pela primeira vez na história da gestão pública esse tipo de coisa acontece. Como seria bom se virasse moda e o Prefeito de São Paulo viesse aplicar um dinheirozinho por aqui numa fábrica de óleo de Peroba já que temos muita cara de pau.
Voltando ao assunto, o projeto que é de um lugar, mas está em outro, tem peixe, mas não tem pescador e por isso ninguém foi pescar. O prefeito tenciona formar, então, uma escola para formar pescadores. Segundo o mandatário existe, nisso tudo, um lugar propício para pescar falta apenas pescadores. Por isso, a equipe precisará determinar prioridades. A lista de prioridades foi colocada em quadros de avisos em todos os pontos da cidade.
Mas, como antes, até a denúncia de um vereador e de um chefe de repartição, ninguém ainda está pescando. Foi feita uma pesquisa para saber por quê. A maioria não respondeu ao questionário, mas, entre os que responderam, descobriu-se que alguns se sentiam chamados para estudar a pesca, outros para fornecer equipamentos de pesca e outros, ainda, para encorajar os pescadores. E, com tantas reuniões, conferências e seminários, simplesmente não tiveram tempo para pescar.
Agora parece que o prefeito que como tal é um bom médico e como médico é um excelente pescador, depois de uma daquelas reuniões muito animada, ele foi pescar. Fez algumas tentativas e pegou um lindo peixe! Na reunião seguinte, ele contou sua história e foi elogiado pelo sucesso e paparicado pelos seus comparsas, só que um vereador não gostou e denunciou seriamente. Agora o Prefeito tenta se justificar, explica, explica e não justifica. Tem peixe, tem um tubarão e o dinheiro é muito pouco para comprar o equipamento necessário para pescá-lo. Assim, com tudo isso e por ter sido eleito prefeito, talvez nosso único pescador não tenha mais tempo para pescar.
Agora ele se sente intranqüilo e vazio. O tempo de prefeito consome o médico, o tempo de médico consome o pescador e ele tem saudades da pesca propriamente dita, de sentir o puxão no anzol. Assim, decidiu ir a imprensa e falar a “verdade” sobre aquele projeto de pesca lá do começo dessa “parábola” na tentativa de encontrar algum pescador para lhe substituir na prefeitura ou quem sabe dar plantão no hospital da cidade vizinha, quem sabe se a verba de lá não vem para cá.
O povo da cidade quer saber onde foi o dinheiro do projeto, pescador a cidade tem, peixe o projeto tem, mas como pescar? Senhores pescadores, pensem como os peixes e façam aquelas mesmas perguntas que eles fizeram durante nossa “parábola”.
0 comentários:
Postar um comentário