terça-feira, 10 de maio de 2011

A “morte” de Obama e Osama

Nadja Claudino
Nunca vi tamanho absurdo como essa morte de Osama. Primeiro, os EUA passam quase dez anos procurando por um homem que é acusado do “maior atentado terrorista da história” (tudo é maior quando acontece nos EUA). Segundo, esse homem é capturado e “morto” na calada da noite, seu corpo é jogado ao mar, onde existem tubarões ávidos por engolir para sempre os “restos mortais” e a verdade sobre a morte do mais importante terrorista. A justificativa americana para jogar o corpo no mar: Respeitar os ritos muçulmanos, desculpa para lá de esfarrapada, sabendo-se que os americanos não são muito dados a respeitar as crenças alheias.

Depois, Obama aparece na televisão dizendo que o mundo fica bem melhor sem Osama, poucos minutos depois os americanos vão às ruas comemorar sua morte, como os muçulmanos que em 2001 comemoraram os ataques terroristas e foram duramente criticados pelos “civilizados” ocidentais. A morte de Osama é verdadeiramente sui generis. O crime sem corpo.

Em 1967, Che Guevara foi morto na Bolívia, seu corpo passou pelo menos o dia inteiro exposto como um troféu para ser visto por jornalistas e pela população local, recentemente Saddam Hussein foi filmado sendo capturado dentro de um buraco, sendo enforcado e tudo mais que se tinha direito. Agora os americanos jogam corpos de inimigos ao mar e passam dias para divulgar uma foto que está sendo ansiosamente aguardada por todos, escondendo um troféu como Bin Laden.

O que me intriga é que todos parecem ou fingem acreditar na versão americana, os jornais noticiam o acontecimento e não colocam em dúvida a história contada. O Jornal Nacional começa assim “2 de maio de 2011, dia histórico, americanos matam o terrorista Osama Bin Laden, jogam seu corpo ao mar e pensam se vão divulgar ou não imagens”, só faltou a Fátima Bernardes falar que papai Noel foi visto no seu trenó no Polo Norte. A imprensa parece que está ficando menos crítica a cada dia.

Não foi só Osama que “morreu”, o Obama que apareceu como uma alternativa de renovação para a política americana também “morreu” ao usar a intolerância e a guerra para conquistar vitórias eleitorais, como fez o seu antecessor o republicano George W. Bush. Ano que vem será ano eleitoral nos EUA, o partido democrata saiu enfraquecido das eleições legislativas de 2010, e isso mostrava o desapontamento dos americanos com a política de Obama que não mostrou os resultados esperados nos dois primeiros anos de mandato. Agora, com essa “morte”, Obama aumenta em muito suas chances de reeleição. E talvez isso diminua muito as nossas chances de viver em paz.
 
Nadja Claudino - nadjaclaudino@yahoo.com.br

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