quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

EU DIGO QUE É PEGADO....

Sevy Falcão
 
ImageEssa inteligência virtual pensa que sabe português. Invariavelmente, quando escrevo a palavra “pegado” que no meu entendimento é o particípio do verbo pegar, o diabo do computador tenta me corrigir, sugerindo que seja grafada a palavra pêgo em seu lugar. Entretanto, muito antes da televisão, quando os nossos rincões eram menos atrasados, nós sabíamos falar mais corretamente. Os caipiras do sul e do sudeste é que falam um dialeto diferente do norte e nordeste do Brasil. Foi através dos caipiras que os apresentadores da televisão começaram a jogar em todos os lares brasileiros, a excrescência desta palavra “pêgo”.
Diz Caldas Aulette, no Pai dos Burros mais sério e já editado no Brasil, que “pêgo” como particípio do verbo pegar é usado apenas por incultos. Todavia, “pêgo” poderia ser o macho da pêga, a parte mais profunda de um rio, lago, etc., em que não se toma pé; fundão lagamar, abismo, sorvedouro e voragem. A palavra também pode ser usada como na região do Minho, em Portugal, que sugere o nome de uma pequena refeição dos trabalhadores entre o almoço e o jantar. Pequena porção de comida ou petisco. No Brasil, diz-se sobre uma variedade de milho, chamado também milho-roxo.
Aliás, por falar em caipira, lá nas Minas Gerais nasceu um dos bons e mestre em neologismos, o célebre Guimarães Rosa, o grande lavrador de neologismos. Entretanto o autor da palavra “nonada”, que aparece na abertura do romance Grande Sertão: Veredas, nunca pronunciou a palavra “pêgo”. Segundo o escritor a palavra “nonada” significa “coisa sem importância”, que seria a fusão de “non” do português arcaico, com “nada”. Por exemplo, a palavra “embriagatinhar”, cunhada também por Guimarães Rosa, serve para indicar quando uma pessoa estiver engatinhando de tão bêbeda. A palavra “ensimesmudo” é uma mistura entre ensimesmado e mudo. Guimarães utilizou o termo para indicar uma pessoa fechada e taciturna.
O neologismo é uma forma de criar palavras inteligentes e que não ferem e nem desvirtuam a língua portuguesa. A palavra “performance”, por exemplo, que nem existe no Dicionário Português Brasileiro, portanto uma palavra inglesa cujo significado é desempenho. Não suporto a palavra dita no idioma inglês, porque o significado desempenho é muito mais elegante na forma e na pronúncia. Mas, o povo brasileiro como é muito “desempenhático” já criou o neologismo “performático”. Muitos não sabem o significado de “performance”, mas entendem que “performático” é um indivíduo esnobe, enjoado, metido à coisa e se julga o máximo.
Mas, antes de encerrar este artigo sem nexo e sem plexo, passo a relatar a entrevista de certo prefeito que estaria sendo censurado por compras irregulares para o seu município. O repórter perguntou: - Senhor Prefeito é verdade essa história da acusação de uma compra superfaturada e de a prefeitura estar com o pagamento dos funcionários atrasado? O prefeito: - Não, não é verdade, porque seria irresponsabilidade de um gestor fazer compras com valores alterados. Agora, eu acredito que o Deputado que fez a acusação deve estar com algum tipo de “disvaneio”. Entretanto, sobre o atraso dos funcionários, foi uma relação que mandei para o Banco do Brasil, não chegou a tempo hábil e eu tive que “remandar” para sanar o problema. Nunca tinha ouvido falar nestas palavras “disvaneio e remandar”. Muito prazer. Confesso que fui “pêgo” de surpresa.
Cariri Ligado 

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