Poeta J. Sousa
A noite na capital
Formosa a lua brilhava
Duas horas badalava
O sino na catedral
Uma brisa matinal
Soprava nas avenidas
Deixando as ruas vestidas
Com folha, cisco e papel
Quando entraram num bordel
Quatro classes corrompidas.
Era um homem jogador,
Um ébrio e um criminoso
De um aspécto horroroso
E um gesto de traidor
Meu Deus, que hora de horror
Fora marcada por eles
Estava estampada neles
A mais infâmia conduta
Quando uma prostituta
Sentou-se pertinho deles.
O jogador disse assim:
"Eu jogo mas não trabalho
Tudo que eu ganho o baralho
Com dez minutos dá fim,
O jogo deixou em mim
O vício da jogatina
Nem que eu descubra uma mina
Não fico com um tostão
Espero a condenação
Dessa vida libertina.
A mulher vem perguntar
Pela feira, aperreada,
Respondo, não tenho nada,
Perdí no jogo de azar
Não posso me aproximar
Das criaturas de bem
Estranho de onde vem
O meu aspécto horroroso"
Calou-se e o criminoso
Resolveu se expor também.
Disse ele: "Com pouca idade
No pecado me atirei
Num crime que pratique
Sem haver necessidade
Sou fã da perversidade
Isso foi o que eu mais fiz
Jamis gostei de juiz,
Nunca aceite o direito
Para mim não tem mais jeito
De parar nem ser feliz.
Amigo nenhum eu tenho
Pelo o meu gesto ferino
Que a mancha de assassino
Trazendo comigo eu venho
Mato de senhor de engenho
Ao indigente imprestável
O meu gênio insuportável
Eu vou comigo levar"
O ébrio aí foi contar
Sua vida miserável.
Começei faz mais de um ano
No vício da embriaguêis
Nunca deixei nenhum mês
Nem estou com esse plano
Wisk, vódika e cinzano
Eu tomo pelo gargalo
Sinto no corpo um abalo
De tanto choup e cachaça
Meu vício é minha desgraça
E eu não posso abandoná-lo.
Me acho tuberculoso,
Doente, rôto e sozinho
Deixei sem pai um filhinho
E uma mulher sem esposo
No álcool encontro repouso
Mas ele é meu homicída
Aceito qualquer bebida
Mesmo que seja sicuta"
E foi a vez da prostituta
Também contar sua vida.
Disse ela: "Eu me casei
Com um homem honesto e capaz
Por quinze anos ou mais
Sua vida infernizei
Humilhei, mentí, roubei,
Transei com um amigo seu
Vendo que o destino meu
Era ser de todo mundo
Fugí com um vagabundo
Muito pior do que eu.
Estou desmoralizada
Perante o mundo e a Deus,
Distante dos filhos meus
E dos meus pais desprezada,
Eu mesma sou a culpada
Do meu ato inconsequênte
Meu infeliz pretendente
Depois me mandou embora
Recordo chorando agora
Quem fiz sofrer inocente."
Quando a mundana calou-se
Estava os galos cantando
A barra vinha quebrando
A ecuridão findou-se
O jogador ausentou-se
O ébrio também saiu
O criminoso fugiu
A infeliz foi embora
Abriu-se a porta da aurora
E um novo dia surgiu
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