(Reynollds Augusto)
Eu sou daqueles que acreditam em uma ordem superior da vida. Acima de tudo está Deus, o norteador dos nossos passos, que colocou leis divinas e naturais para encaminhar seus filhos ainda crianças aos roteiros acertados. Foi por isso que Jesus- o ser mais perfeito que passou pela Terra e que mais admiro – disse: “Nenhuma das ovelhas do meu Pai se perderá”. Isso é uma exposição profética que saiu da boca de um espírito que tem autoridade para falar. Tem autoridade porque estava ligado diretamente a Deus e tanto é assim que sempre dizia “eu e o pai somos um”. Como diz meu amigo Neto, no final tudo vai dar certo. E vai... há uma ordem dentro da desordem.
Essas considerações preliminares objetivam despertar o leitor para o entendimento de que não há morte em lugar nenhuma da vida. Deus não nos criaria para a destruição. A aparente extinção do ser que amamos,só é aparência mesmo.Há uma grande mistura de sentimentos quando nos deparamos com a partida dos que amamos:perda, dor, insatisfação, culpa, saudade e etc.A dor da morte talvez seja a maior das dores, porque ela chega sem mandar aviso e ao chegar sentimos que faltou muita coisa a dizer, a sentir, a experimentar. Toda morte nos dá uma sensação de vazio e surpresa. Fiquei surpreso com o desencarne da nossa queria Toinha Guimarães. Todas as manhãs quando descia para ir ao fórum trabalhar, lá estava ela sentada na tradicional cadeira do nosso inesquecível Chico Guimarães. O papo fluía e nós nos lembrávamos com saudade do velho Chico Guimarães.
- Bom dia dona Toinha!
- Bom dia Reynollds.
- Soube que estava doente?
- Pois é. Mas não dou o braço a torcer. Como você sempre diz.
Nesses momentos ríamos muito ao lembrar do velho Chico Guimarães quando sentado na mesma cadeira, balançava as mãos para lá e para cá quando via-me e ao me aproximar da velha casa dizia, antes de mais nada:
- Vai passando... Vai passando. Não me venha falar dessas coisas de “espritos”, não, “abestaiado.
Dávamos umas boas gargalhadas e eu passava.
O fato é que todos nós estamos na contagem regressiva. Enquanto estou digitando esse artigo, tô morrendo um pouco. Não se preocupe não, que enquanto você está lendo, também está morrendo. Morre o corpo, liberta-se o espírito.
Desde os primórdios do pensamento que se tem conhecimento de que a morte se afigura como parte da vida. Algumas pessoas a consideram uma etapa final do ser e outras, como eu, enseja novas experiências transcendentais. Segundo o espírito Joana de Angelis, que já passou por muitas experiências na carne, morrem trinta milhões de hemácias que são substituídas por outras e isso a cada segundo. Da mesma forma, em cada quinze minutos, uma parte expressiva do corpo cede lugar a outra substituta, graças à qual, a vida prossegue inalterada.
Lendo Joana, isso me fez lembrar que há uma tradição na Odisséia, em que as sereias invejaram Ulisses por ser ele mortal, enquanto elas permaneciam nesse estado saturador da imortalidade. - É claro que somos imortais, pois o espírito é imortal e viaja na esfera carnal para se aperfeiçoar e aprender com as experiências até atingir a angelitude.- Mas já imaginou se seu corpo fosse imortal. Deveria ser horrível e é por isso que as sereias sentiam inveja de Ulisses. Um corpo multissecular como não seria?. Preserva-lo acho que seria impossível e haja operação plástica...
Mas deixando a brincadeira de lado, sabemos que nesse mundo toda desorganização dos tecidos fisiológicos é inevitável. Tudo que é material tem que morrer para se transformar em outros elementos da matéria. O nosso sol, por exemplo, é uma grande fogueira que esta queimando massa e quando essa massa for toda consumida, automaticamente a vida orgânica nos planetas se acabará, pois não vivemos sem a energia solar. Mas se preocupe não, os cientistas dizem que ela vai se apagar aproximadamente nesses 10 bilhões de anos. É só uma previsão. E o melhor, os Espíritos superiores que responderam os questionamentos do professor Allan Kardec, dizem que o mundo material poderia deixar de existir ou nunca ter existido que isso não afetaria em nada a esfera espiritual. Essa é a nossa verdadeira casa.
Mas, voltando ao tema, vejo que a paisagem humana da Rua Pedro Américo está mudando. Muita gente boa está partindo para a verdadeira vida. Dona Toinha foi a mais recente. Era católica convicta, mas conversávamos muito sobre a vida espiritual. Ela acreditava, desacreditando e sentia-se feliz com a minha convicção. Dizia para ela:
- Dona Toinha Chico agora ta vivendo o que sempre eu informava para ele. Chamava-me de “abestaaiado”, mas agora sabe que eu tava certo.
Deve ta dizendo:
- Não é que aquele doido de Ademar Augusto tinha razão.
Hoje a senhora foi se encontrar com aquele velho. Ela dizia-me que se o que eu estava falando fosse verdade, ia dar um abraço daqueles no véi. Tinha muitas saudades dele e muitas vezes sentia a sua presença em seu lar.
Morrer não é se encantar, como dizem os poetas. Morrer é continuar vivendo e vivendo sem as amarras da carne e as ilusões do mundo. Os nossos não se perdem e esperam por nós. A única atitude lógica diante da morte é a fixação na vida mesmo quando tudo aparentemente conspire contra essa atitude.
Tudo isso me fez lembrar o diálogo de Sócrates com seus juízes e ele assim dizia antes de ser envenenado:
- Das duas uma: ou a morte é uma destruição absoluta, ou é passagem da alma para outro lugar. Se tudo tem que extinguir-se, a morte será uma dessas raras noites que passamos sem sonho e sem nenhuma consciência de nós mesmos. Porém, se a morte é apenas uma mudança de morada, a passagem para o lugar onde os mortos se têm de reunir, que felicidade a de encontramos lá aqueles a quem conhecemos! O meu maior prazer seria examinar de perto os habitantes dessa outra morada e de distinguir lá, como aqui, os que são dignos dos que se julgam tais e não o são. Mas, é tempo de nos separamos, eu para morrer, vós para viverdes.
Toinha e Chico, aqui vai o meu abraço até o dia no reencontro.
Diga, Dona Toinha, aquele “vei abestaiado” que eu tava certo!
PENSE NISSO! MAS PENSE AGORA.
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