Publico artigo que recebi do advogado José Tarcízio Fernandes. Vejam-no na íntegra:
Anselmo, Deus e Barrabás
Dele, sabem pouco as novas gerações. E as gerações recuadas no tempo, menos ainda até abril de 1964, quando o golpe militar derrubou o governo de João Goulart e implantou a mais longa ditadura da história deste país.
Estamos em 25 de março de 1964. Marinheiros e fuzileiros navais em quantidade chegam à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado da Guanabara. Comemoram o segundo aniversário de sua associação, criada para ser porta-voz das suas reivindicações.
Arrebatado, um militar toma o microfone e começa a sua fala. Jovem, simpático, palavra fácil, incisivo no que diz, consegue levantar o entusiasmo de quantos atentos o ouvem. Em poucos minutos, sua contundência verbal contra os reacionários e em apoio às reformas de base anunciadas pelo presidente João Goulart, fez erguer os punhos cerrados de todos; e todos ecoaram palavras de ordem em defesa da política nacionalista do governo, que seria deposto 6 dias depois.
Era esse jovem quem de repente se tornaria o famoso Cabo Anselmo. Famoso porque desencadeou uma das mais graves crises militares do Brasil. Famoso porque soube com desenvoltura e maestria desempenhar depois o triste papel de indicar, às forças da repressão, muitos daqueles que combatiam a ditadura e com quem convivia, para que fossem presos, torturados e fuzilados.
Não foi ele um traidor, porque sempre foi, infiltrado nos movimentos de esquerda, um fiel prestador de serviços aos militares, antes mesmo do golpe. Como ele mesmo confessou, mais de 100 pessoas caíram nas mãos dos órgãos de segurança da ditadura, graças ao seu eficiente trabalho de denunciá-las. No Brasil, no Chile, no Uruguai, em Cuba, onde treinou guerrilhas travestido de opositor do regime, era somente olhos e apontamentos para ver e informar.
Segunda-feira, 18, foi ele o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura. Quis justificar-se perante a nação, dizendo-se tranquilo de consciência. Não se arrepende de nada. Entregou seus “companheiros” para evitar uma guerra civil, afirmou. Os que foram presos, torturados, mortos buscavam a convulsão social e o derramamento de sangue entre irmãos. Mas Deus o iluminou nessas horas de intenso trabalho (?!?), abrindo caminhos ao êxito da repressão. Noutro depoimento que deu, o delegado Fleury – notável pela crueldade dos métodos de torturar e matar presos políticos – “(...) era, acima de tudo, um idealista. Ele contribuiu para frear a insanidade, utilizando, muitas vezes, a lei de Tabelião. Era uma pessoa fascinante. Um lado profissional duro, utilizando o que estivesse ao seu alcance para fazer a faxina que lhe fora confiada pela história”.
Nada mais precisava ele acrescentar para convencer o país de que, se nunca foi Barrabás nos meios em que se infiltrou, foi Calabar de um tempo histórico. Realmente, as gerações da sua época não sabiam dele. Essa extravagante faxina era ceifar vidas dos que combatiam a ditadura.
Anselmo, Deus e Barrabás
Dele, sabem pouco as novas gerações. E as gerações recuadas no tempo, menos ainda até abril de 1964, quando o golpe militar derrubou o governo de João Goulart e implantou a mais longa ditadura da história deste país.
Estamos em 25 de março de 1964. Marinheiros e fuzileiros navais em quantidade chegam à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do Estado da Guanabara. Comemoram o segundo aniversário de sua associação, criada para ser porta-voz das suas reivindicações.
Arrebatado, um militar toma o microfone e começa a sua fala. Jovem, simpático, palavra fácil, incisivo no que diz, consegue levantar o entusiasmo de quantos atentos o ouvem. Em poucos minutos, sua contundência verbal contra os reacionários e em apoio às reformas de base anunciadas pelo presidente João Goulart, fez erguer os punhos cerrados de todos; e todos ecoaram palavras de ordem em defesa da política nacionalista do governo, que seria deposto 6 dias depois.
Era esse jovem quem de repente se tornaria o famoso Cabo Anselmo. Famoso porque desencadeou uma das mais graves crises militares do Brasil. Famoso porque soube com desenvoltura e maestria desempenhar depois o triste papel de indicar, às forças da repressão, muitos daqueles que combatiam a ditadura e com quem convivia, para que fossem presos, torturados e fuzilados.
Não foi ele um traidor, porque sempre foi, infiltrado nos movimentos de esquerda, um fiel prestador de serviços aos militares, antes mesmo do golpe. Como ele mesmo confessou, mais de 100 pessoas caíram nas mãos dos órgãos de segurança da ditadura, graças ao seu eficiente trabalho de denunciá-las. No Brasil, no Chile, no Uruguai, em Cuba, onde treinou guerrilhas travestido de opositor do regime, era somente olhos e apontamentos para ver e informar.
Segunda-feira, 18, foi ele o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura. Quis justificar-se perante a nação, dizendo-se tranquilo de consciência. Não se arrepende de nada. Entregou seus “companheiros” para evitar uma guerra civil, afirmou. Os que foram presos, torturados, mortos buscavam a convulsão social e o derramamento de sangue entre irmãos. Mas Deus o iluminou nessas horas de intenso trabalho (?!?), abrindo caminhos ao êxito da repressão. Noutro depoimento que deu, o delegado Fleury – notável pela crueldade dos métodos de torturar e matar presos políticos – “(...) era, acima de tudo, um idealista. Ele contribuiu para frear a insanidade, utilizando, muitas vezes, a lei de Tabelião. Era uma pessoa fascinante. Um lado profissional duro, utilizando o que estivesse ao seu alcance para fazer a faxina que lhe fora confiada pela história”.
Nada mais precisava ele acrescentar para convencer o país de que, se nunca foi Barrabás nos meios em que se infiltrou, foi Calabar de um tempo histórico. Realmente, as gerações da sua época não sabiam dele. Essa extravagante faxina era ceifar vidas dos que combatiam a ditadura.
Foto (Reprodução/Band): cabo Anselmo.
José Tarcízio Fernandes, advogado.
jtf@veloxmail.com.br
Paulo Conserva
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