A Assembléia Legislativa da Paraíba anunciou, com pompas e honras, a viagem de dois dias dos seus deputados ao interior para verem de perto a seca. Os deputados irão em ônibus fretado, equipado com ar condicionado, recepção de bordo e música ambiente, de modo que somente sentirão o calorzão sertanejo e a secura do cariri quando descerem da aeronave para apertar as mãos calejadas dos famintos flagelados.
Achando pouco, a Assembléia levará outro ônibus lotado de jornalistas encarregados de amaciar o ego dos parlamentares, fazerem louvaminhas aos seus gestos demagógicos e depois classifica-los como os heróis dessa terra perdida.
A Assembléia toma essa medida quase um ano depois de começada a seca, quando mais da metade do rebanho bovino morreu de sede ou foi vendido a preço de banana e quando a esperança desertou da área atingida pela seca.
Faz isso depois que a chamada grande imprensa entrou em pauta e fez reportagens de grande impacto, principalmente a TV Globo com seus espaços generosos no Jornal Nacional e no Fantástico.
Antes, quando apenas o Padre Djacir Brasileiro malhava em ferro frio, denunciando o caos e o descaso das autoridades, chamando todos a responsabilidade e exibindo as fotos da tragédia, os deputados da Paraíba permaneciam nos gabinetes aconchegantes da Assembléia fomentando intrigas, fuxicando, tramando vinganças e traições.
Ir ver pra que? Isso que vão olhar já é do conhecimento público. Melhor seria levar soluções, encher caminhões de comida e água mineral e sair distribuindo pelas vilas e sítios flagelados. Ir olhar para matar curiosidade é demonstração de sadismo e falsa emoção. Sem contar que muitos, ao voltarem, estarão correndo o risco de contrair baita cirrose por causa do excesso de uísque.
Nessa caranava eu não iria nem que me pagassem.
Tião Lucena
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