quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sopro agônico (Ao Pe Djacir Brasileiro)


 

José Ventura Filho

Lívidas sensações levam-me ao encontro do meu sofrido sertão, onde ali se apresenta o quadro funesto, porto originário das famílias órfãs, desassistidas e sofridas; dos animais esqueléticos, ainda vivos; das vegetações acinzentadas; dos pomares pálidos e dos jardins sofridos; dos pássaros tristes; dos açudes ou reservatórios, sem águas; das casas abandonadas e solitárias, que solidariamente choram e denunciam todo aquele sopro agônico, provocado pelo fenômeno terrível da estiagem e pela insensibilidade e inércia por parte daqueles que têm o poder e nada fazem para extirpar ou amenizar o sofrimento do sertanejo...

As famílias em suas casas solitárias, distantes dos confortos materiais, sentem calor; sede; fome; doença e a dor da sua luta em vão, sem nada reclamar ou a quem possa recorrer, apenas com as mãos calejadas debulham o seu terço, rogando ao Criador por chuva; comida, saúde e um modo de viver, mais justo e mais digno. 

Os animais, tão inofensivos e indefesos, correm sem disposição e sem direção, cheirando os matos secos e o ar quente e desolador. Estão mortos, antes mesmo de morrerem.

Os pomares sem frutos e os jardins sem flores soletram a ausência dos sorrisos infantis e dos encontros casuais, tempo que não volta mais... 

As vegetações, que antes davam sombras e comidas, hoje, assombram-se consigo mesmo... Arrepiam-se de medo... Agora, inertes a este clima cruel, apresentam-se como sendo fotografias que invertem os acontecimentos esplendorosos da mãe-natureza.

Das aves que restam apenas o acauã e o assum preto teimam em seu canto agourento, sombrio e saudoso em denunciar o lamento de tristeza e de revolta por não terem mais o seu habitat natural e as companhias de outras espécies que se foram à procura de outros ares.

Atualmente, os açudes, rios, riachos e outros reservatórios revelam os seus leitos ressecados, que outrora faziam parte da paisagem bucólica em estação chuvosa, formada pela força da água esplendorosa, que só trazia contentamento aos agricultores, verdadeiros sonhadores e plantadores do seu sustento e do seu destino; das lavadeiras que lavavam e enxaguavam, também, as suas dúvidas e dívidas; dos meninos traquinos e livres que pulavam às barreiras e mergulhavam no mundo infinito da ilusão; e dos pescadores que levavam a comida aos seus rebentos, todos contentes, sem quaisquer noções das fantasias fabricadas e oferecidas pelo mundo capitalista... 

Assim, num suspiro profundo, renego às indiferenças e as hipocrisias lançadas nesse mundo, através dos atos inconsequentes praticados por pessoas, segmentos sociais e grupos de exploradores insensíveis que não têm o compromisso com a verdade, a honestidade e a solidariedade, sentimentos maiores que só dignificam a condição humana.

1 comentários:

A poesia de José Ventura está nos poemas, nas prosas e na seca nordestina. A inspiração desse poeta que respira arte alcança as entranhas da nossa impotência, mas nos cobre com um manto sagrado do real, do sofrido, acima de tudo, do amor e da esperança. A simplicidade do olhar poético do primo-irmão Ventura comove meu eu com a riqueza da emoção e com a riqueza da razão.
Grande abraço do Vanduí

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