sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


Um dos grandes nomes da música brasileira, Luiz Gonzaga completaria 100 anos nesta quinta-feira (13). O legado do cantor perdura até os dias de hoje e suas cançõe...s estão imortalizadas na história do País.

No dia 13 de dezembro de 1912, uma sexta-feira, nascia em Exu, Sertão de Pernambuco, o segundo dos nove filhos do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus, que, na pia batismal da igreja matriz da cidade recebeu o nome de Luiz Gonzaga Nascimento.

Assim falou um dia Gonzagão: “Meu nome é Luiz Gonzaga, não sei se sou fraco ou forte, só sei que, graças a Deus, té pra nascer tive sorte, apois nasci em Pernambuco, o famoso Leão do Norte. Nas terras do novo Exu, da fazenda Caiçara, em novecentos e doze, viu o mundo a minha cara. No dia de Santa Luzia, por isso é que sou Luiz, no mês que Cristo nasceu, por isso é que sou feliz.”

Com apenas 8 anos de idade, ele substitui um sanfoneiro em festa tradicional na Fazenda Caiçara, no Araripe, Exu, a pedido de amigos do pai. Canta e toca a noite inteira e, pela primeira vez, recebe o que hoje se chamaria cachê. O dinheiro, 20 mil réis, “amolece” o espírito da mãe, que não o queria sanfoneiro.

A partir daí, os convites para animar festas – ou sambas, como se dizia na época – tornam-se freqüentes. Antes mesmo de completar 16 anos, Luiz de Januário, Lula ou Luiz Gonzaga já é nome conhecido no Araripe e em toda a redondeza, como Canoa Brava, Viração, Bodocó e Rancharia.

Luiz Gonzaga enfrentou muitos percalços ao longo de seus 60 anos de carreira. Ainda jovem, deixou sua cidade desiludido depois de perder o amor de Nazarena, filha de coronel que não simpatizava com ele. Depois de passagem pelo exército, o cantor largou a farde para seguir seus sonhos no Rio de Janeiro. Bastou uma apresentação no programa de Ary Barroso, na Rádio Nacional, com a instrumental Vira e Mexe, para cair no gosto popular. Semi-analfabeto, Luiz Gonzaga se associou a grandes letristas, como o cearense advogado Humberto Teixeira e o pernambucano estudante de medicina José Dantas.

Um século depois, muitas são as histórias que seus companheiros têm para contar desse homem que fez o povo brasileiro conhecer a dureza da vida no sertão, mas também levou muita alegria com sua sanfona para todo o país.

Expoente, Gonzagão levou para o restante do Brasil as histórias da caatinga, acompanhado de sua sanfona, com relatos da vida Severina lá no Nordeste. Conhecido como o Rei do Baião, Luiz Gonzaga influencia, até hoje, vários nomes da música popular nordestina e brasileira.

Em sua longa carreira, Gonzagão compôs sucessos que fazem parte da cultura brasileira até os dias de hoje. Canções como A vida do viajante, Xote das Meninas e Qui nem jiló, obras-primas de Gonzagão, tornaram-se a trilha sonora do Nordeste do país. Asa Branca, com seus versos tocantes sobre a seca no nordeste, é ainda hoje considerada um hino do sertão.

Luiz Gonzaga morreu em Recife, no dia 02 de agosto de 1989, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Mais de duas décadas depois, porém, sua obra e sua história continuam eternizadas na cultura brasileira e no imaginário popular. O Rei do Baião nunca perdeu sua majestade.

Luiz Gonzaga teve a missão de levar para todo o Brasil a realidade de sua terra intrínseca às melodias.

“Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor. Este sanfoneiro viveu feliz por ver o seu nome reconhecido por outros poetas, Quero ser lembrado como o sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor". (Luiz Luz Gonzaga)

Luiz Gonzaga em Diamante

Foram poucas as cidades do Sertão paraibano que teve o privilégio de receber a visita ilustre de Luiz Gonzaga, o rei do baião. Foge a essa exceção o Distrito de Diamante, ainda subordinado juridicamente a cidade de Misericórdia, atual município de Itaporanga, no Vale do Piancó, quando, em 1959, Luiz Gonzaga se fez presente no pequeno vilarejo.

Luiz Gonzaga nessa época não era muito conhecido nas pequenas cidades do interior do Nordeste, apesar de já ter gravado seu primeiro disco em 1957, cujas composições constam as músicas "A Feira de Caruaru", letra de Onildo Almeida e "Capital do Agreste", de Onildo Almeida e Nelson Barbalho.

Conforme relata o senhor Omar Ventura Pegado, testemunha ocular da presença de 'Gonzagão' em Diamante, o rei do baião veio à cidade a convite do engenheiro Ernesto de Sousa Diniz (pai do médico Fernando Diniz e do economista Laércio Diniz), que fez questão que o filho de Januário se apresentasse em um baile na cidade para a alegria dos seus moradores.

Ao contrário do que acontece hoje - quando um cantor chega numa cidade para se apresentar com uma mega estrutura de palco, som e veículos personalizados - o autêntico forrozeiro Gonzagão chegou na cidade em um carro simples, vindo do vizinho Estado de Pernambuco, pela estrada de Terra Nova, trazendo consigo apenas dois músicos que lhe acompanhavam nos eventos em que participava: o seu triangueiro e zambubeiro.

Ao chegar em Diamante, Luiz Gonzaga foi recepcionado na residência do senhor Manoel Alves Mangueira (mais conhecido com Né Alves), no sítio Emas, de sua propriedade. Durante toda sua permanência no local, o rei do baião contou anedotas, brincou, conversou, tocou, cantou e comeu muita buchada, carne assada, galinha, tomou aperitivo e fez a alegria de todos os que compartilharam de sua presença nesse dia.

Para quem não lembra, Né Alves era casado com Rosa Alves Mangueira e pai de Adauto, Ozeias, Ivo, Noêmia e Iomena.

Segundo informou o jornalista Hélder Loureiro, esse momento histórico está registrado em uma foto histórica (em poder do ex-prefeito Célio Alberto) em que Luiz Gonzaga aparece ao lado de Dionísio Mangueira, Ernesto Diniz, Zezinho Barros, Hermes Mangueira e Oswaldo Mangueira - ainda meninos -, entre outros personagens da cena cotidiana da cidade.


O baile de Gonzagão

Depois de muita festa e comilança na casa de Né Alves - Luiz Gonzaga se dirigiu até a cidade de Diamante para se apresentar no baile e mostrar pra todo mundo como se dança um baião. A expectativa era grande e muita gente se fez presente à festa. O relabucho aconteceu na atual rua José Possidônio da Costa, em frente a um grande prédio (hoje demolido), que ficava bem ao lado da caragem de Zezinho Barros. O fole começou a roncar por volta das seis e meia da noite e só não foi até o dia clarear porque a luz da cidade era na base do motor e só funcionava até as nove da noite, quando antes pouco disso, terminou o baile com Luiz Gonzaga, como assim ficou conhecido na cidade.

Ao som da sanfona de 'Gonzagão' muitos estavam ali encantados com a maestria e a voz do 'Mestre Lula', que tocou e cantou em cima de um caminhão. A pegada era uma só: forró em 'banda de lata' pra todo mundo dançar com suas cabrochas. Ao final da forrobodança, já na escuridão, muitos dos forrozeiros se dirigiram para suas casas e, alguns outros mais espertos, 'lavaram a burra' para fechar com chave de ouro o arrastapé que transcorreu num clima de muita paz e harmonia.

Assim, Diamante foi palco e cenário de algo inédito na cultura popular nordestina, graças ao visionário Dr. Esnesto de Sousa Diniz, que tanto amou a sua terra e a sua gente, trazendo o eterno Luiz Gonzaga para se apresentar na cidade.

Luiz Gonzaga continua sendo o autêntico representante da cultura regional. Graças a ele os ritmos nordestinos foram inseridos no mapa musical do Brasil. Sua obra musical é grande e inesgotável.

Viva Luiz Gonzaga, nosso imortal Rei do Baião!

Por Hélder Loureiro

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