Jesus Soares da Fonseca
Eu ainda era garoto, menino “buchudo”, como se dizia lá para nossas bandas, outrora, quando chegou à cidade aquele moço de andar sereno, passadas largas, que viria substituir “Seu” Severino Campos na Estatística. Na época, apesar da existência do IBGE, o seu nome ainda não era bem divulgado. De forma que o Instituto de Estatística ou a Estatística era o que estava ainda em voga, pelo interior do Brasil. A Estatística, em Itaporanga, estava localizada em uma sala na Praça João Pessoa. Fernão Dias de Sá era aquele jovem Senhor que passaria a comandar o Instituto em nossa cidade. Com Ele chegara a Esposa, Dona Maria, mulher de fino trato, educada por convicção, voz tranqüila, suave, que logo viria granjear a simpatia da Comunidade. Itaporanga, eu poderia dizer, é uma cidade “sui generis” em por alcunha às pessoas. Assim, Dona Maria passou a ser chamada e conhecida por Maria de Fernão.
Minha tia Olívia Leite Guimarães, para quem se lembra ainda, era figurinista, modista, costureira, pintora alem de fina decoradora. Tendo as mesmas qualidades artísticas, Dona Maria de Fernão logo fez amizade com minha Tia Olívia, Bila, como carinhosamente a chamávamos, nós seus familiares. Foi assim que comecei a conhecer mais de perto Dona Maria, nos papos que ela mantinha com Bila, em suas trocas de idéias. Gostava mais de ouvir do que falar. Itaporanga toda vida teve uma vocação festeira, em razão disso os pedidos para decoração de bolos para festa de batizados, casamentos, confecções de vestidos, eram muitos, de forma que para não haver acúmulo, Bila recomendava os trabalhos de Dona Maria e vice versa.
Posteriormente, já trabalhando no BNB, em Itaporanga, tive a oportunidade do convívio de Fernão e de Dona Maria. Participei de teatro com o grande Fernão, quando tivemos a ousadia de encenar o Auto da Compadecida, sob a direção do nosso, não menos grande, diretor teatral Vanilton de Sousa. Eu era um admirador daquele Casal. Parecia-me, muitas vezes, que eles nos observavam com uma espiritualidade, como se vissem todo nosso interior, nosso âmago. Não estou sabendo descrever bem o que eu pressentia nos momentos em que tinha oportunidade de ouvi-los. O certo, é que Dona Maria era uma pessoa que transpirava bondade, tranqüilidade, que nos passava um sentimento de Paz.
Depois que deixei Itaporanga é que vim saber que Ela, assim como Fernão, era também Espiritualista com muita atividade no exercício da Doutrina. Agora, através dos escritos de Reynolds, de Titico vejo aquilo que no passado eu não sabia descrever, o seu espírito altruístico. Radicada aos costumes de nossa terra, Dona Maria deixa lacuna. É certo que ninguém é insubstituível, entretanto momentaneamente este vazio, com sua partida, se faz presente. Sabemos que tal exemplo de vida, por certo será seguido por outras pessoas ou por alguém que tenha sido tocado por tal magnitude. Resta o consolo àqueles que a conheceram que sua missão terrena foi cumprida com dignidade e sabedoria. Seu lugar, junto à “Mansão” Divina deve estar reservado, pois a cota a ela destinada no mundo material foi preenchida com garbo e muito amor.
Por mais que espiritualista seja o indivíduo, sua parte material sempre irá sentir a dor da separação, assim levo meus sentimentos de pesar a Ribot, Soraya e demais familiares, como também à grande Família Espiritualista de Itaporanga, notadamente aos membros do Centro Espírita Jesus de Nazareth. Poderia terminar com a expressão Descanse em Paz, mas, vejo não ser necessário, pois Ela já está em Paz junto ao Maior Arquiteto Universal.
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