Por João Dehon Fonseca
Uma cena inusitada acaba de pousar na minha mente, é como se estivesse no meio do leito do Rio Piancó, é como se o dia estivesse amanhecendo e o pincel desse Deus todo poderoso começasse a desenhar o mais perfeito quadro com as cores latentes da natureza.
Na minha mente que nesse instante volta a 09 de Janeiro da minha infância, vejo as nuvens se envolvendo com os primeiros raios do sol que com o seu forte brilho desvirgina as águas do rio. Vejo o sol nascendo no horizonte desse sertão paraibano, desse sertão muitas vezes calcinado por este mesmo sol em períodos de estiagem.
Minha imaginação não para e volto a olhar o céu e acompanho o rodopiar de algumas nuvens, prenúncio de um bom inverno, visto que não escuto o cantar do carão, mas vejo a revoada de asas brancas de volta a esse Sertão tão lindo que um dia foi Misericórdia e hoje é a vaidosa Itaporanga.
Estou um pouco atordoado, minha mente campeia toda minha infância e sinto que hoje também é dia de jogo de futebol, pois o Baependí vai enfrentar o 9 de Janeiro.
O dia está lindo, as ruas cheias de gente e o Padre Firmino vão começar a missa em ação de graças pelo aniversário da cidade. Choveu toda a madrugada, ainda caem alguns respingos. O agricultor está feliz e alegre e de mãos unidas agradecendo ao Nosso Senhor pelo milagre da preciosa água do céu, porque tudo indica que teremos um bom e farto inverno.
Minha mente não para de formar aqueles quadros que fizeram a minha infância e lá do leito do rio Piancó eu imagino a minha rua 5 de Agosto onde o silencio passeia e as crianças já começam a sair para quebrar aquele silencio que será ocupado pelo barulho da pelada em frente a Igreja Velha ou do Rosário como se fosse o ensaio para o grande embate de logo mais a tarde.
Deixem-me chorar, hoje é 9 de Janeiro e Itaporanga já não mais aquela Misericórdia inocente e minha mente acaba de se desligar do passado para buscar no presente essa Itaporanga de agora onde a Rua do Limoeiro é a Getúlio Vargas pujante, moderna e cheia de edificações que acabaram com o pouco de nossa história, pois procuro o Mercado Velho, uma edificação linda que Pitanga construiu e não encontro, procuro o Grande Hotel e no seu lugar um armazém de bebidas, procuro a casa de Rosena Mocó e vejo um edifício.
Hoje é 9 de Janeiro e Itaporanga está crescendo, linda, de roupa trocada, mas falta um pouco de história, daqui prá frente vamos conservar mais os nossos arquivos para que um dia os nossos netos possam contar uma história que eu gostaria de contar, mas que preferiram derrubar e quem viu vai ficar apenas na lembrança.
Bom dia Itaporanga, eu te amo.
0 comentários:
Postar um comentário