Rossandro Klinjey
* Psicólogo Clínico, mestre em Saúde Coletiva, professor das FACISA, FCM e Faculdade
O doce sabor da verdade
( Rossandro Klinjei)
No programa Altas Horas exibido na madrugada do dia 08 de janeiro de 2012 aconteceu uma cena digna de nota. Estavam reunidos Caetano Veloso e Gal Costa, lançando um novo trabalho, num dos palcos e no outro palco, Cláudia Leitte. Não, o que eu vou narrar não tem nada a ver com o encontro desses dois universos digamos (para não parecer preconceituoso), diferentes da música baiana representados por Caetano e Gal de um lado e Cláudia Leitte do outro.
Acontece que no mesmo programa estavam sendo entrevistados José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o conhecido Boni, o homem que revolucionou a televisão brasileira, e o jornalista e apresentador do Big Brother Brasil, Pedro Bial.
Num dado momento, Serginho Groisman, apresentador do Altas Horas, perguntou a Pedro Bial se ele via TV, ao que Pedro Bial respondeu: – Eu adoro ver televisão. Gosto de ver coisa ruim, os piores programas, é onde eu aprendo mais. Aí Boni não resistiu e disse – Quer dizer que você assiste o BBB? A partir daí todos riram e aplaudiam sem parar. Nem Pedro Bial resistiu e riu também. Caetano deu uma gargalhada tão gostosa que a câmera focou nele detidamente e ele depois disse se referindo a Boni: – Gênio! Até Cláudia Leite teve um surto de inteligência (desculpe, saiu sem querer). Como Pedro Bial estava com uma calça vermelha no estilo Restart, ela disse que ele estava mais vermelho que a calça (tá bom eu sei, não foi tão genial assim, mas valeu a intenção).
Coisas desse momento atual de nossa cultura, onde um Show belíssimo capitaneado por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Ivete Sangalo, no último dia 23 de dezembro na própria Globo, cantando a mulher brasileira, teve menos audiência que uma final de BBB.
Num país onde bastam os acordes iniciais da música: “mais raparigueiro do que eu” para a galera gritar eufórica: - “só papai”. Papai de Céu, o senhor tem cada inquilino aqui na terra...
Para alguns isso é diversidade cultural, para outros, decadência. Opiniões a parte o que vemos é o resultado de uma sociedade que não tem a educação como um norte de seu desenvolvimento. Por isso mesmo estamos vendo, em vários setores, um apagão de mão de obra, entre tantos outros problemas, gerado pela baixa qualidade de nosso precário sistema educacional público, que é a porta de acesso da maior parte de nossos cidadãos.
Numa sociedade onde a educação não é prioridade fica até difícil definir o que é um produto cultural ou não, uma vez que o baixo nível educacional da população possivelmente compromete sua capacidade de percepção artística e sei que dito isto muitos irão, de forma reducionista, dizer que se trata de um pensamento burguês.
Para mim burguês é fazer vista grossa ao que está acontecendo e dizer que tudo é expressão cultural e livre de um povo. Gostaria de saber se as bandas de forró, funk, axé, bem como reality shows como o BBB, entre outros, produzidas de forma industrial, são a livre expressão da cultura de um povo.
Para você que não teve o prazer de assistir o Altas Horas, saiba que internautas atentos nos deixaram esse presente nas páginas do youtube. Acesse o endereço http://www.youtube.com/watch?v=Tfc--RJ7yXs e veja a partir dos 2 minutos e 26 segundos a cena que narrei.
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