Delcides Brasileiro |
O cenário macabro da seca tem se alastrado de forma assustadora pelos sertões do Nordeste nos últimos dias. Na Paraíba, mais notadamente aqui no Vale do Piancó, o flagelo da estiagem vem causando sede, fome e morte de animais em todos os recantos da região. Na manhã do dia 19 de novembro, encontrei-me com um agricultor na estrada vicinal de Santana dos Garrotes, e ele me falou algo que me fez refletir sobre um total estado de catástrofe que estamos vivendo aqui no Sertão. “Tenho setenta anos e nunca vi em minha vida uma seca tão grande como esta que estamos presenciando. Minhas poucas cabeças de gado já se foram quase todas, o açude que tenho perto de casa só tem chão rachado, e agora?“, questionou-me o senhor triste e abatido. “Minha sorte é minha aposentadoria e de minha esposa, que pelo menos dá pra gente fazer a feira”, acrescentou o agricultor, revelando que, com a seca, os produtos básicos como o feijão, o arroz e os outros alimentos que precisam para se alimentar estão mais caros. E ainda lamentou: “Dá uma pena danada a gente estar comendo na mesa da sala e vê os bichinhos olhando quase que pedindo comida, e a gente não poder fazer nada”. Os centros urbanos das pequenas cidades já não escondem o sofrimento passado nas comunidades rurais. Já virou rotina à passagem de animais nas vias públicas procurando por água e alimentos, e, se não for feito algo rápido e eficaz, infelizmente não vai demorar muito para vermos figuras humanas desfiguradas também, como nas narrativas da obra literária “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, onde o cenário causado por uma seca é de horror. Preocupa também, neste momento, a pouca água que os açudes e barragens da nossa região possuem. A previsão é que no mês de fevereiro do próximo ano teremos chuvas. Será que os reservatórios suportam até lá, com esta temperatura muito alta e o consumo humano a todo vapor? Difícil! Por outro lado, O Governo Federal, através da presidenta, nenhuma visita faz ao Sertão para avaliar tal situação. O Governo do Estado, recentemente, se reuniu com secretários para definir planos em combate à estiagem, mas daí colocar em papel ideias e procurar recursos para esse fim, a situação tem se alastrado feito fogo em capim. A tão propalada ração que o estado está mandando é nada em comparação a fome dos animais; os carros-pipa praticamente somem no mapa da imensidão de terras secas e os programas sociais, como o Bolsa-Estiagem, virou algodão doce na boca das crianças: não dá pra nada! Pouco, muito pouco essas ajudas governamentais, sobretudo em comparação ao custo de uma copa do mundo que se aproxima, e que está orçada, segundo a imprensa, em quase trinta bilhões de reais. Aliás, por que os trabalhos dos preparativos do campeonato mundial estão atrasados os governantes emitem sinais de preocupação? A tão famosa obra da transposição das águas do rio São Francisco, que poderia ser um alento aos sertanejos, estão paradas, e o Governo Federal não dá sinal no sentido que essas obras recomecem. É, Caros leitores, a seca não é prioridade nenhuma para eles, visto que os mesmos têm em mente outras causas mais urgentes para serem resolvidas, a exemplo da copa do mundo. Em qual cadeia José Dirceu e companhia vão se acomodar? Oxalá que as chuvas caiam logo, em que mês for, para trazer vida nova para os sertões do Nordeste, sob pena de vermos um povo faminto de fome e sede, e também de justiça, sem a necessidade de pegar em armas e pintar um cenário de guerra igual àquele do mundo árabe, onde as mortes eram evitáveis, mas por subestimarem a capacidade do povo unido, os poderosos não abriram os olhos e tudo se transformou em revolução, mudando todo um sistema político de uma parte do mundo. Teste a paciência do povo sertanejo e verão uma batalha, pois, com a fome e a sede não se brincam, senhores e senhoras governantas. |
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