sábado, 25 de agosto de 2012

Programa paulista reduz impacto de exame em crianças


Mariana do Espírito Santo, 7, em tomógrafo do Instituto da Criança, em São Paulo, com a mãe


Menos exames, menos radiação, menos sangue coletado. Esse é o mote de um programa de humanização e segurança criado no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, que deve servir de modelo para outros hospitais infantis do SUS.
O projeto envolveu a adoção de um novo método de análise laboratorial, que diminuiu em até 75% o volume de sangue coletado nas crianças, e a compra de um tomógrafo que faz exame com 70% menos radiação.
Em alguns hospitais privados, como o Sabará (SP), essas tecnologias já existem.
O caso da pequena Alícia, de três meses, é um exemplo real do impacto da mudança. A menina nasceu com uma malformação no intestino e já precisou se submeter a nove coletas de sangue.
Se fosse pelo método convencional, teriam sido retirados 10,8 ml de sangue da garota. Com o micrométodo, que usa tubos com a metade do tamanho dos tradicionais, foram necessários 5,6 ml, uma redução de 48%.
Segundo Marcília Sierro Grassi, neonatologista da UTI do instituto, a mudança de método teve um impacto também no número de transfusões de sangue. “A Alícia só teve de fazer uma. Se fosse pelo método convencional, já teria precisado de mais.”
Em crianças prematuras, as coletas de sangue para exames são as principais causas das transfusões. Um bebê de 1 kg tem 100 ml de sangue circulando no corpo, o que equivale a uma xícara.
“Em cada coleta, a gente tira 10% [desse volume]. Tem criança que precisa de duas, três coletas por dia”, diz Magda Carneiro-Sampaio, professora titular do instituto e coordenadora do projeto.
O Instituto da Criança realiza cerca de 18,5 mil coletas de sangue por mês. Em 84% delas, será possível usar o micrométodo. O restante, exames mais complexos, demanda o método convencional.
TOMOGRAFIAS
Em relação às tomografias, além da compra do novo aparelho que emite menos radiação, o programa vai também motivar médicos a pedir o exame só em situações realmente necessárias.
Nos últimos anos, vários estudos vêm demonstrando uma relação direta da radiação de exames (raios-X e tomografias) ao aumento do risco de câncer, especialmente quando se trata de crianças.
Isso desencadeou um movimento mundial que defende a limitação de exames radiológicos na infância e a fabricação de equipamentos que minimizem a exposição à radiação ionizante.
“Tem muito diagnóstico que pode ser feito com ultrassom [que não emite a radiação]. Outros nem precisam de exames de imagem. Basta uma anamnese e um bom exame clínico”, diz Magda.
É essa a mensagem que o programa também pretende propagar entre os residentes que atuam no instituto e no complexo HC.
“Os médicos deixaram de examinar, a população de deixou de acreditar nos médicos, e o exame tomou conta da clínica. Isso é uma inversão. A gente quer que o médico pare e pense: ‘Será que um raio-X vai informar mais do que o meu estetoscópio está me dizendo?”
O cirurgião pediátrico Uenis Tannuri, professor da USP, vai ainda mais longe. “Eu brigo com os meus residentes. Ando com a pesquisa que relaciona radiação com câncer e fico mostrando para eles. Não deixo que peçam exames desnecessários. Esse pecado eu não vou levar para o túmulo.”

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