domingo, 26 de agosto de 2012

Jornalista considera "repulsivas" as reações ao voto de Ricardo Lewandovski


São repulsivas - não tenho outra palavra - algumas das reações que aparecem na internet contra o voto de Ricardo Lewandowski no julgamento do mensalão.

Absolvido João Paulo Cunha, os insultos começaram pelo Facebook. Circula, por exemplo, um quadro com o rosto de todos os ministros do STF. Abaixo da foto de Joaquim Barbosa, uma palavra escrita em verde: "patriota". Para Lewandowski, em vermelho, o estigma: "vendido".

Outra mensagem, tarjada de preto, traz a foto do ministro e um aviso: "Saiba de uma coisa -o povo brasileiro tem vergonha de você".

Escreve-se também que Lewandowski foi secretário de administrações petistas em São Bernardo do Campo. Logo, "levou a vida na boquinha". E que foi indicado juiz "pela aberração que é o quinto constitucional, uma vaga que não depende do concurso público". Trata-se do sistema que faz advogados e promotores ingressarem na magistratura, evitando que só juízes de carreira cheguem aos postos mais altos da hierarquia.

Todo ministro do Supremo chega lá por indicação presidencial, e Joaquim Barbosa foi tão indicado por Lula quanto Lewandowski.

Assim como não faz sentido dizer que o "patriota" Barbosa está a serviço da "direita golpista", é muito primitivo dizer que Lewandowski absolveu João Paulo por ter sido secretário de uma prefeitura petista em 1984. Informação, aliás, errada. Ele foi secretário de uma administração do PMDB em São Bernardo.

Duvido que a maioria dos indignados com o voto de Lewandowski tenha se dado ao trabalho de seguir a longa exposição que ele fez no tribunal. Outros ministros poderão contestá-la já na segunda-feira. Mas o nível de detalhamento e fatualidade da questão ultrapassa, certamente, a disposição dos que se indignam com preguiça.

Remeto ao outro voto de Lewandowski, o que condenou (repito, condenou) Henrique Pizzolato e Marcos Valério.

A um dado momento da exposição, tratava-se de saber se aqueles brindes promocionais, e mais particularmente as Agendas Pombo, davam a Marcos Valério o direito de reter para sua agência publicitária o desconto denominado bônus de volume.

Para Lewandowski, a irregularidade saltava aos olhos ("ictu oculi", disse ele). Marcos Valério incorreu em crime ao ficar com o dinheiro oferecido pelas Agendas Pombo. Bônus de volume só cabem às agências quando fazem anúncios em jornais ou emissoras de TV.

É possível que, nesse caso, Lewandowski tenha sido severo demais. As agendas Pombo são forma de propaganda, tanto quanto um anúncio no rádio.

Há quem diga, e não parece absurdo, que mesmo os planos de milhagem de uma companhia aérea são bônus de volume.

Você ganha milhas quanto mais viaja -mesmo que tenha sido seu empregador quem pagou a passagem. Ficou com as milhas para você? Considere-se corrupto também.

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