Voz: cuide bem deste patrimônio
Eduardo Fregatto
“A voz é um instrumento de comunicação. Falar é tão natural que as pessoas não pensam sobre os cuidados que precisam tomar”. A afirmação é do regente sul-mato-grossense Manoel Câmara Rasslan. Acostumado a lidar com preparação e prevenção de problemas vocais, Rasslan defende a conscientização sobre o tema. “O mundo precisa se atentar a essa questão. As pessoas adquirem vícios no dia a dia e acham, por exemplo, que rouquidão é normal”, argumenta.
Hoje é o Dia Mundial da Voz, uma data que merece ser lembrada para que a população se informe sobre como prevenir doenças nas cordas vocais e complicações mais sérias, como o câncer de laringe. Dados de 2011 mostram que, no período de oito meses, 4.318 pessoas foram afastadas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) por distúrbios na voz, 324 delas devido ao trabalho.
Segundo a médica fonoaudióloga Roberta Navarrete, o ideal é buscar métodos de prevenção. “Dessa forma, o paciente evita um tratamento exaustivo e até mesmo cirurgia”, defende. As principais recomendações dos profissionais é a hidratação, isto é, ingerir bastante água, além de evitar gritos e abusos das cordas vocais. “Falar com esforço e competir com ruídos são prejudiciais. Gritar exige muito esforço das cordas”, diz Navarrete.
Algumas profissões exigem maior preocupação do que outras, como a de professores, cantores, locutores, operadores de telemarketing, entre outras. Para estes profissioanis, que volta e meia estão roucos e com a garganta ressecada, o cuidado deve ser redobrado.
Instrumento de Trabalho
A vocalista Jane Kundera, 29 anos, canta profissionalmente em bares e casas de show da Capital desde 2006. Ao lado de sua banda, Jane emplaca cerca de 60 músicas durante cinco horas, com pequenos intervalos. A preparação da cantora começa dois dias antes das apresentações. “Eu evito ingerir álcool, fumar e ter outros comportamentos prejudiciais a garganta pelo menos 48 horas antes do show. Também faço exercícios e aquecimento vocal”, relata.
No início da carreira, inexperiente e, ela confessa, um pouco inconsequente, Jane não tomava os cuidados com a voz. E sofreu as consequências. “Eu ficava sem voz em dia de show. Minha garganta ressecava, era horrível, eu morria de medo de desafinar e não atingir os tons certos. Já aconteceu. Foi quando eu busquei informações e aprendi a respeitar minha voz”, comenta.
Atualmente, Jane grava seu primeiro CD e está afastada dos shows, mas tem a preocupação em estar sempre treinando. “É um músculo. Quanto mais a gente trabalha, mais se aperfeiçoa. Se eu não treinar, vai ficando mais difícil cantar”, pontua.
A professora Silmara Ovelar está há um ano afastada da sala de aula. Agora é diretora de uma escola estadual em Campo Grande. Dos tempos como professora, Silmara se lembra de forçar a voz o tempo todo. “Para o professor, ter rouquidão é ‘normal’. Tive amigos que tiveram problemas sérios. No nosso meio, é muito comum, infelizmente”, lamenta. “Nós precisamos controlar de 20 a 30 crianças em uma sala fechada, é complicado”.
De fato, professores são os que mais sofrem com os efeitos do abuso da voz. “A rouquidão não é normal. É um sinal que algo está errado. Se a pessoa ficar rouca por mais de 15 dias, precisa procurar um médico”, alerta a fonoaudióloga Navarrete. “Os professores são so que mais aparecem buscando atendimento. Nós indicamos o uso de microfone na sala de aula”.
Os problemas que podem ser desenvolvidos incluem danos na musculatura, nódulo vocal, calos vocais e até complicações que podem levar ao câncer de laringe. Exercícios e aquecimentos são essenciais. “As pessoas acham que os exercícios não são suficientes, mas vibração de língua e articulaçao das palavras, por exemplo, ajudam muito. Quem trabalha usando muito a voz precisa aprender a impostar sem fazer esforço”, diz a fonoaudióloga.
Prevenção
O regente Rasslan não gosta de romantismos. “Não há nada mais bonito do que o processo de descoberta da voz que se tem, mas sem romantizar, porque é algo técnico, é uma capacidade incrível que a voz proporciona”, define. “A voz é instrumento fundamental inclusive para expressar sentimentos e vontades”, completa Navarrete.
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