Ainda me lembro das suas cheias trazendo basseiros, e as águas barrentas repletas de jupiás das enxurradas das chuvas, das trovoadas. Recordo-me das cacimbas abertas na areia grossa e dos bebedouros dos animais espalhados pelo leito, que eram águas confinadas.
Lembro-me dos pescadores, dos negros da família Mocó, exímios nadadores e canoeiros intrépidos que dominavam a correnteza braba.
O rio sempre saciou a sede dos cônscios e irracionais, e que ainda serve de coito na calada da noite, mas está desnaturado e impuro.
Indo ou vindo, do sítio à cidade, eu pegava atalho, e caminhava absorto em pensamentos que vagavam no meu doce-amargo mundo, naquela areia esgazeada e quente sob o sol causticante.
O rio me servia de refúgio nos dias de angústia da minha juventude frustrada e insegura. E nas suas pestanas verdejantes eu matutava ouvindo a sinfonia dos pássaros e retornava pra casa mais confortado. O rio dos banhos matinais e vespertinos e das prosas deitadas ou sentadas na areia.
Ele até parecia ter vida quando nos afogava com o seu mormaço. Hoje ainda volto a ver o rio, mas não gostaria que ele estivesse assim, fétido, poluído e moribundo. Sei que o rio não morre sozinho. Com ele muitas vidas definham e sucumbem.
O rio Piancó, como outros rios, são degradados pela mão do homem, como as florestas que são desmatadas. Enfim, a fauna e a flora são massacrados e, nesse processo, o homem viola a natureza e cava a própria sepultura.
Mas, que rio?! Que natureza?! Que nada! Na terra, o que impera e o que importa é o dinheiro e o poder, e natureza que se dane, e as gerações futuras que paguem o preço mais alto pela ganância dos que hoje exterminam a natureza.
Zé do Agreste – literato e compositor de Itaporanga.



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