Por João Dehon Fonseca
Essa semana encontrei-me com o meu irmão Antonio Fonseca e começamos a falar sobre nossa infância, sobre o nosso passado e lembrávamos com saudosismo da época das vacas magras e das peraltices de criança em que tudo era difícil, porém alegre e feliz. As condições de nossa família acompanhavam toda essa dificuldade, época em que as ruas de Itaporanga eram todas sem calçamento, faltava água, a luz era de motor, nossos pais trabalhavam muito e ganhavam pouco, as famílias eram de muitos filhos, no caso da nossa éramos sete e a gente ia pra escola pra estudar acreditando num futuro melhor, a merenda não era como a de hoje e as vezes nem tinha, portanto, o interesse mesmo era aprender para um dia ser gente.
Ao chegar da Escola Paroquial São Domingos Sávio a gente ia brincar, pular, correr e na nossa Rua 5 de Agosto passava poucos carros como o de Zé Araújo ou de dia os caminhões carregados de algodão de Zé Minervino, de Wilson de Valfredo, de Pedro Chaves ou de Gonzaga Pinto, que passavam com muito cuidado para não impedir a nossa brincadeira para que pudéssemos aproveitar a infância andando de patinete, rodando pinhão confeccionado por Lelê, soltando coruja ou pipa, jogando aquela pelada, subindo em árvores, brincando de carrinho, de toca, de carrinho de rolimã descendo ladeiras, também tinha a época dos pés de fruteiras, nas roças de Omar Mangueira, de Pedro Ramalho e na Várzea do Saco onde íamos derrubar manga. Goiaba, carnaúba, caju e tudo isso sem a ordem do proprietário.
Lembrei de um fato que aconteceu comigo e Zé Neto Augusto: fomos tomar um banho no Riacho de Santo Antonio numa terrazinha que Toinho Augusto tinha por lá, ao passar pela Roça de Chico Nitão vimos uma goiaba bem bonita e saltamos a cerca para tirar a goiaba, mal pulamos a cerca ouvimos um grito: se passar daí dou uma surra, era Seu Chico Nitão que ao identificar quem éramos, ele mesmo tirou várias goiabas nos deu e também deu uma bela de uma lição de moral.
Era uma época boa, inocente, não tínhamos videogame, não existia televisão e em nossas casas nos reuníamos para jogar botão ou confragação, ficávamos horas na casa dos amigos como: Hugo Mangueira, Ernesto Arruda, Evandro Negreiros, participando de campeonatos.
A sorveteria Taça de Ouro era um dos grandes atrativos da criançada que ali ia comprar picolé de côco, de suco de morango e de caldo de cana e na época da safra de manga tinha o gostoso picolé de manga. A gente conseguia dinheiro pedindo aos tios e parente, isso quando não juntávamos pra comprar na padaria de Seu Pedrinho um pão com manteiga e dali sair para Seu Ciço da Moita para tomar uma gelada. Tudo isso parece besteira pra geração de hoje, mas era assim que a gente vivia.
Internet então nem se sonhava em existir, jamais pensávamos em tanta modernidade. Poucas famílias tinham rádio para ouvir os noticiários, na Rua 5 de Agosto só tinham 03 rádios: um na casa de Otacílio Mangueira, outro na casa de Pedro Arruda e outro na casa de Seu Firmino que apesar de ser o mais pobre dos 03, tinha o melhor rádio : um ABC Canário que sintonizava todas as rádios do mundo, como: BBC de Londres, Rádio Globo do Rio, Rádio de Salvador e uma Rádio de Cuba que não me lembro o nome.
Como era gostoso a chegada do Domingo, acordávamos as 8,00 horas e íamos para Igreja Nossa Senhora da Conceição assistir a Missa Dominical, quando a missa acabava, tomávamos o café e íamos para o colégio das freiras para a Reunião da Cruzada Eucarística, onde no intervalo jogávamos um futebolzinho e quando voltávamos para casa sabíamos que tinha uma galinha de capoeira para comer ou feita por Dona Dazinha minha mãe ou vinda da casa de meu avô papai DOBOM cozinhada por minhas tias Bila e Maroquinha.
Depois do almoço um pouco de descanso e Dona Dazinha e Tereza Newmann minha irmã dava ordem para João Dehon, Antonio Fonseca e Jesus irem tomar banho, trocar de roupa para serem levados a assistir a matinê no Cine União de Zacarias Moura onde passava o Seriado de MIOCA, começando às 3 da tarde e terminando as 6. Depois íamos ao Terço e depois para a casa de Bila e Maroquinha.
Por tudo isso eu sinto saudades da minha infância, pois a inocência que pairava nos jovens era muito bonita, as dificuldades existiam sim e eu as passei, pois elas sempre existirão e serão para todos, mas minha maior saudade é daquela sociedade que era solidária e feliz, totalmente diferente do que tornou-se a sociedade de hoje, sinto saudades daquele mundo inocente e meigo diferente desse mundo de hoje e aí me vem uma pergunta:
Será que os filhos e netos poderão um dia sentar uns com os outros para relembrar esse tipo de história?
1 comentários:
lendo essa istoria do paulo..me lembrei o que meu pai contava para agente,quando ainda eramos crianças.meu pai tambem contava causos da sua vida em itaporanga na paraiba.
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