quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A eleição de outubro e as feridas na democracia

 
Nossa democracia tem falhas, tem chagas, tem imperfeições mortais. Sofre de alguns cânceres contraídos do próprio sistema dominante e que se fortifica por leis tirânicas para não ser rompido tão logo nem tão cedo.

Vejam os casos dos prefeitos candidatos à reeleição: eles não precisam sair do poder para disputar o segundo mandato e usam a caneta oficial como espada para ferir mortalmente seus concorrentes e também a utiliza como varinha de condão para transformar todo o ambiente por onde passa em curral eleitoral. Compram apoios com dinheiro público e se utilizam de outras ferramentas do erário para angariar votos nesta campanha: obras, projetos e serviços, tudo o que não foi realizado nos últimos três anos e meio explode agora. Aproveitam, inclusive, o decreto de calamidade pública para justificar melhorias rurais, investimentos que deveriam ter sido implementados bem antes, mas só agora, em plena corrida sucessória, é que chegam, carregadas de terceiras intenções. Bom para eles; ruim para a democracia.

O mais simples ocupante de uma função pública qualquer, mesmo sem poder de rúbrica financeira, precisa se afastar para concorrer a um cargo eletivo, mas o prefeito, todo poderoso, não. Isso infringe a própria lei eleitoral que prima pelo equilíbrio na disputa, mas se vê, ela própria, ineficaz, insuficiente, ineficiente.

Permitir que um prefeito dispute uma reeleição sem deixar o cargo é ferir a própria Constituição, que trata da impessoalidade do poder. Não há como separar a figura pública do gestor e seu projeto político-pessoal, que é a candidatura. É claro que, seja durante o dia, à noite, madrugada, em casa ou na Prefeitura, o prefeito vai sempre defender os interesses do seu projeto particular, que é a postulação eleitoral, em detrimento da probidade administrativa. Pensar diferente disso é tolice.

A democracia brasileira tem muitas imperfeições e isso se reflete na péssima qualidade da gestão pública, da menor Prefeitura ao Palácio do Planalto. Mas as consequências quem sofre é a sociedade. O câncer da corrupção, da eleitoral à administrativa, é a principal doença que emperra a evolução da nossa democracia e o crescimento da nossa cidadania.
Editorial do Folha do Vale

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