terça-feira, 25 de setembro de 2012

Quando namorar era bom


 

O amigo leitor deve saber que um dia existiu um negócio chamado namoro. Era coisa boa, melhor dizendo, ótima. Começava com o flerte, aquele espiar de longe, olho no olho, sorriso no sorriso. Dali até encostar durava uns tempos. Vinha o encosto, as trocas de palavras cortadas pela emoção, um monte de tolices pronunciadas ao vento, mas que para o casal não era tolice de jeito nenhum, já que os apaixonados acham graça nas coisas sem graça que saem da boca do parceiro.

Quando eu era menino lá em Princesa, vi finado Batinho beijar a boca de uma moça dos Pinheiro, por detrás do colégio. Uma coisa espantosa! Finado Batinho enfiou a boca na moça e ela descangotou. Para um menino desacostumado com aquelas novidades, aquela visão foi um estrupiço. Representou uma semana inteira de punheta. Quase morro, os olhos fundos e ao redor do fundo roxo. Visão melhor do que aquela, somente a daquele velho sapateiro comendo a burra Veneza na beira do Açude Velho ou a daquele aviador enfiando a madeira na galega, no terraço do Centro de Supervisão.

Mas eu falava de namoros. Sim, namoros românticos, apaixonados. No tempo do meu pai, o casal começava a namorar, mas só pegava na mão um do outro depois de três dias. Sarro, então, só com muito tempo de relacionamento.Não era como hoje em dia, nesses tempos de ficar, em que a moça leva o parceiro para casa antes de conhece-lo e já avisa à mãe coiteira que "fulano vai dormir aqui". O chupado de língua acontece no primeiro encontro, o dedo enfiado naquela selva amazônica é a sequência do beijo e a rola no entrepernas não demora uma viagem ao banheiro.

Sou de um tempo depois do de meu pai, lógico, mas já nesse tempo as coisas aconteciam com mais estilo. E era mais gostoso. A gente sarrava até não poder mais, ia para casa com os ovos doendo, a cueca melada, para desafogar a ansiedade no escondido do quintal. Era se movimentando e dizendo "faz de conta que é nela". Ainda recordo da vez em que me abufelei com Tica de Argemiro no lagedo de Seu Lindolfo e a poeira cobriu, voou o cabresto e a nêga peidou de alegria. Sim, minha gente, naqueles ontens a operação de fimose era feita ao ar livre. O sujeito quebrava o cabresto fuçando uma coxa ou arrebentando um priquito.
Hoje a coisa modernizou-se e os jovens perderam o tesão. Dia desses apreciei, da minha janela, um rapaz se esfregando numa moça. Era daquele tipo "arrocha que ela peida". Foi mais de meia hora de sarro, de perna entre pernas, de roça na espiga, de abufelamento, de derruba parede sem sobrar tijolo. E qual não foi o meu espanto constatar, quando os dois se apartaram, que o rapaz estava normal, sem nenhuma garrafa de coca-cola a lhe enfeitar o bolso.

Quando namorar era coisa importante, bastava o cabra encostar na moça para se formar o amontoado de rola espiando para Pirpirituba. Nas danças dos assustados, era fato natural as vertigens dos casais depois dos esfregados. A gente chegava nas festas já avisando aos colegas: "bota do lado direito que bate bem na testa da perseguida". E era aquele reboliço. Assim que a música parava, cada um corria para seu canto de parede, fingindo estar procurando algo que caíra no chão, apenas para disfarçar.

E o mais importante: só usava camisinha quem gostava de chupar confeito com papel e tudo. Aids era alma penada. As doenças conhecidas não passavam de ridículas gonorréias,mulas sem cabeça e uma tal de crista de galo que fez Luizinho de Calu passar duas semanas sem procurar Preta, sua mulher, depois de brindado com uma bicha dessas por Toinha Baú, no cabaré. Fazia o tratamento sozinho, trancado no banheiro, mas um dia esqueceu de fechar a porta, ficou passando a lã de algodão com metiolate na cabeça da arengueira, Preta abriu, viu a cena e gritou: "Que diabos é isso, Luiz?", e ele, sem perder a categoria, tranquilizou-a: "É um treissol, mulé, que nasceu logo aqui!"
Blog do Tião

0 comentários:

Postar um comentário