Dentro da ótica de agradecer as pessoas que contribuíram para o desenvolvimento de minha Itaporanga querida, vejo em minhas lembranças de infância a figura do casal José Augusto Nunes e Dona Mariinha, finíssimos em sua delicadeza, afáveis, bons, carinhosos, pacientes que só eles mesmos.
Esse casal, chefe maior do clã dos Nunes, conheci em meados da década de 60, salvo engano, em contando que estava pelos meus 8 anos de vida.
O céu do meu sertão estava belíssimo, límpido, azul e entremeado de nuvens brancas que lhe beijavam as fímbrias, os montes gigantescos e calmos pareciam dormir, o sol majestoso estava alto, magestoso por sobre toda a natureza.
Entrara eu por uma das portas, parece-me de uma farmácia das antigas, as prateleiras em madeira de lei, adornadas por remédios, dos mais variados e ai vislumbrei um vidro de Biotônico Fontoura, e com as mãos corri os bolsos na esperança de encontrar algum dinheiro.
O senhor Augusto Nunes foi dizendo:
- Precisa não, menininho, acerto depois com seu pai, imagine você que ele não tem crédito aqui, se é um homem de crédito, reconhecidamente, Misericórdia inteira sabe disso!
E foi subindo numa escadinha, amparado por Dona Mariinha, não obstante a escada fosse bem fornida, também em madeira de lei.
Seu Augusto Nunes já estava trêmulo, aparentando entre 60 e 70 anos.
Que exemplo de união que se via ali!
Como se adivinhasse as coisas, ele vinha descendo a escada e dizia: Toma o remédio de acordo com a recomendação da bula.
Anos depois, em chegando em casa e já casado, pedi a minha mulher uma cerveja, ao que ela respondeu:
- Ontem tu tomaste todas! Foi quando fui à geladeira e encontrei 01 vidro de biotômico, e o sorvi pelo gargalo de uma só vez, Dona Marlúcia então me disse:
- Não faz isso não doido, é o Biotônico de Nino, que tinha mania de si medicar (Nino era um sobrinho da minha esposa, que morava conosco e se preparava para fazer vestibular de Direito, em que se formaria anos à frente, por mérito próprio e com muitos esforços e sacrifício do seu pai principalmente, Luiz Antônio da Silva, (Luiz Joaquim) residente na cidade de Boaventura/PB).
Quando dessa compra na Farmácia, vi Nanã. Nanã era uma preta que se tornara uma pessoa da família Nunes e criaria com desvelo principalmente os filhos do deu José Nunes, que já estava em alta idade e cega de um olho, morando em um dos quartos que davam para a Rua Santa Terezinha, cujo nome atual não sei qual é.
Um dia perguntei a Chico Augusto, um tio que tanto adorava e se tornaria o melhor amigo que tive na vida, e este sempre atencioso, me respondeu à pergunta que lhe fizera: Por que Seu Zé Nunes, filho de Seu Augusto Nunes, tu chamas de Seu “Fela”?
- Porque esse é o nome carinhoso dele para com os seus clientes.
Zé Nunes casar-se-ia com Dona Isaura, e dessa união nasceram vários filhos, dentre os quais, Carrité e Chico Nunes, o primeiro é Médico, casado com Dona Catarina, filha de Jupi e o segundo, ainda hoje meu amigo, enveredara pela carreira de Bancário, como eu, para sobreviver nos idos tempos de penúria, já cansados de bandejas e mais bandejas em casa de estudante, respectivamente em Campina Grande e João Pessoa.
Seu Augusto Nunes e Dona Mariinha tiveram outros filhos, dentre eles Expedito Nunes, e era também era conhecido como Tenente Augusto e eu imaginei de onde viria essa patente, já que ele não ocupava efetivamente os quadros da heroica Polícia Militar do Estado da Paraíba.
Sabia que o Sargento Quintino, a exemplo de Duca e Sitônio, por toda a vida prestaram serviços nas fileiras Militares.
Acho eu, posso até estar enganado, que a patente de Tenente Augusto foi a mesma de quantos outros cidadãos de minha terra, fora adquirida e recebida por civis que sobressaíam em sua honradez e presteza, nas comunidades em que viviam.
Na minha família mesmo, lembro-me de papai Dobon, meu Bisavô materno, cujo nome era Abdon de Sousa Leite Guimarães – que o povo chamava de Major - um velhinho que andava nas ruas do vilarejo e tinha raiva de quem assobiava perto dele (Papai Dobon fora muita coisa no vilarejo, o Cartório de Imóveis que seria de Dona Ivete, pertencera a ele, lembro-me também de Seu Osmisda, que também fora dono de Cartório, desse nasceu a linhagem dos Teódolos e outros).
Zé Augusto Neto parece-me, tem essa ascendência e é médico e jornalista na Cidade de Esperança/PB.
Não passava eu de um moleque sapeca, e o Senhor José Nunes e Dona Mariinha de jovens velhos, encaminhando-se para a 3ª idade e me admirava muito a bondade daquele casal.
Dona Mariinha, vestida com uma saia alvíssima e comprida, ao ponto de cobrir-lhe os pés e vendo-me bondosamente um menino, que ela conceituou de futuro, foi me dizendo:
- Tu serás menininho, alguém na vida, um médico um advogado.
E eu agradecendo a fineza lhe respondi prontamente:
- Médico não, que é coisa pra filho de rico, advogado talvez, seja o que Deus quiser!
Era a alma de uma criança – que no linguajar dos poetas nunca tem curvas, daí minha prece a todos, invistam nelas, nas crianças, pois serão os velhos de amanhã, o que serão deles, se não forem elas?
O que será da Pátria e da família, se não forem elas?
Rui Barbosa, a águia de Haia, dissera com a propriedade que Deus lhe dera: Uma oração dirigida especificamente aos moços, e que cantadores populares cantariam: “ esses moços, a se soubessem o que eu sei...”
Dona Marrinha, olhos de japonês, e Seu Augusto Nunes, o meu muito obrigado, em nome dos filhos desta terra.
Campina Grande, 18 de novembro de 2013.




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