sábado, 23 de fevereiro de 2013

Non Habemus Papam Tamen

Por Jesus Soares da Fonseca

Ainda não temos Papa! Em função disto, nos dias que se antecedem à escolha do Sumo pontífice até sua realização, presenciamos, nos noticiários escritos, falados e televisados, especulações as mais diversas sobre o “modus vivendi” da Igreja Católica Apostólica Romana, uma das Instituições mais fechadas da face da Terra, senão, a mais. Analistas tidos como profundos conhecedores da Comunidade dos Cristãos se enchem de empolgação e explicitam ao mundo inteiro quais os prováveis sucessores do Vigário da Cúria Romana. Como o acontecimento é fortuito, eles se esquecem dos reveses passados. Assim, sempre acontece quando da Assembleia dos Cardeais para escolha papal.

Como lembranças recentes, recordemos alguns casos. Quando Pio XII faleceu, as especulações começaram a todo vapor sobre quem subiria a Cátedra de São Pedro. Cardeais, satélites do Sumo Pontífice, eram os mais cotados. Os poliglotas vinham em segunda opção, e por aí circundavam as explorações da boa fé alheia. De repente, como num passe de mágica, e segundo os mais crentes uma escolha do Espírito Santo, foi designado ao Trono Papal, Ângelo Giuseppe Roncalli, um velinho bonachão, simpático, humilde, que se intitulou de João XXIII. Um golpe no EGO dos conhecedores das “Coisas” da Igreja.

Menos de dez anos depois, João XXIII partia em busca de Deus e o novo escolhido, Giovanni Battista Montini, se intitulava de Paulo VI, driblando mais uma vez os “experts” em Instituição Católica. Mais recentemente, até parece por desígnio divino, os tais “Conhecedores” sofreram um duro golpe em seus conhecimentos (é uma redundância que faço propositalmente). Fazia pouco mais de um mês que o Chefe de Roma tinha sido escolhido, no caso João Paulo I, quando veio a falecer. Era de se supor que tais Analistas tinham subsídios para mostrar ao mundo aquele, dentro de seus prognosticados, que seria o Eleito. O escolhido pelo Colégio Cardinalício, sequer estava na lista dos Analistas de plantão. Karol Wojtyla que, em franca homenagem ao seu Predecessor, escolheu o nome de João Paulo II.

Após sua eleição, e, consequentemente, mais um revés daqueles que não acreditam na transcendência da Igreja sobre os leigos e para os mais místicos, sua regência feita pelo próprio Deus, não faltou quem trouxesse à baila as Profecias de São Malaquias, escritas, todas elas, em forma de dois versos em Latim ou dísticos latinos. Para João Paulo II escolheram a antepenúltima (110ª, pois são 112 profecias) – “de Labore Solis – Da fadiga do sol. Com isto queriam dizer, ou querem, que o reinado Papal está no fim. Com a continuação de seu papado e as inúmeras viagens que Ele realizou, os vivaldinos continuaram com suas prédicas, dizendo que a profecia estava a se confirmar, agora com outra tradução, “o trabalho do Sol”, no caso o Papa seria o Sol e seu intenso trabalho pela evangelização dos povos.

Assim, em tempos hodiernos até as velhas e cansadas profecias de Nostradamus aparecem e servem aos olhos dos crédulos. Esta semana algum gaiato mostrou uma profecia, na qual Nostradamus previa, não só a renúncia do Papa, como também a passagem do meteorito que caiu na Rússia. Ridículo! Vejam a Profecia:

“O homem de Roma deixará seu posto – A fé humana se cobrirá com um véu – A morte, então, revelará seu rosto – enviando rochas e fogo do céu. Nostradamus II,20,13.

Olhem só o engodo! Primeiro, as Centúrias que se dizem de Nostradamus, e eu tenho quase todas aqui no meu computador, são pobres em rima e metrificação! Segundo, não há Centúria ao modo da classificação bíblica, capítulo, versículo. A Centúria II 20,13, por exemplo, simplesmente não existe! A Centúria é II,20 ou então II,13.
Só que a Centúria II,20 diz:

“Irmãos e irmãs cativos em lugares diversos
achará eles passando perto do monarca:
contemplando eles seus ramos atentos,
desagradando para ver as marcas em queixo, frente e nariz.”

Por outro lado a Centúria II,13 fala:
“O corpo sem alma já não é sacrificado
o dia da morte se transforma em dia do renascimento
o espírito divino faz a alma feliz quando se vê a palavra em sua eternidade.”

Como dá para se notar, trata-se de puro embuste! Entretanto, não fiquemos tristes, não! Estas especulações são coisas de antanho, sendo que no passado, às vezes, vinham recheadas de trambiques, de engodos por aqueles que achavam ter poderes sobre a política clerical. O Ser Humano, muitas vezes, com a prática de constantes embustes que faz contra Seu Semelhante, julga-se um ser supremo, todo poderoso, é como dizia o poeta latino, Virgílio: - “mens agitat molem” – o espírito dá forças à matéria – com efeito, o homem pensa que é Deus.

Para se ter ideia de algumas destas tramas bem urdidas contra os incautos, retrocedamos à Idade Média, mais precisamente ao fim do Papado de Urbano VII quando as Profecias de São Malaquias entraram em vigor. No Conclave que elegeria o substituto de Urbano VII, diga-se de passagem, um dos mais complicados com duração de um mês e dezenove dias, um Cardeal não só era o mais cotado de acordo com a opinião de seus amigos, como deveria ser o Papa da época. Tratava-se de um antigo Bispo da cidade de Orvieto e natural dali. Era o Cardeal Simonceli.

Para influenciar o Povo e, por conseguinte, o Colégio de Cardeais, os amigos e conterrâneos surgiram com uma lista profética, atribuída a São Malaquias (não confundir com o Discípulo de Jesus, é outro Malaquias, um Irlandês), composta de 112 dísticos latinos, cada um designado, daí por diante, aos Papas que viriam substituir Urbano VII. O primeiro dístico desta lista era: antiquitate urbis – da antiguidade da cidade. Não sei se dar para rir ou chorar”! Veja que trama! Quem era o prelado mais antigo da cidade de Ovietto? Simonceli! Logo ele deveria ser eleito porque assim rezava a profecia. Entretanto a trama urdida não surtiu efeito, pois quem foi eleito foi o Arcebispo de Milão que recebeu o nome de Gregório XIV.

Outro caso semelhante surgiu por volta de 1669 quando Clemente IX deixou o mundo dos vivos. Pois bem, o Cardeal Bona que era o preferido nas especulações tinha que ser eleito ao Trono de Roma, assim era o desejo de seus adeptos. Que fizeram? Aproveitaram-se do que diz o livro Eclesiástico, num de seus capítulos, o Eclo-15,1 – “Quem teme a Deus, fará obras boas”. Em Latim, esta oração seria – “Qui timet Deum, faciet bona”. Tomando o texto latino, fizeram um trocadilho: “Grammaticae leges plerumque Ecclessia spernit; Esset Papa bônus si Bona papa foret” – "A igreja despreza as leis gramaticais; Haveria um bom Papa, se Bona Papa fosse”. Entretanto contrariando, como sempre, os especuladores, o Conclave colocou na Cadeira Maior da Igreja Romana, o tesoureiro de Clemente IX, que se auto proclamou Clemente X, em homenagem ao seu predecessor, tido como homem justo e humilde.

Com relação a Bento XVI, que foi um dos líderes da Ordem dos Olivetanos, de acordo com os especuladores, a profecia se cumpre, pois a 111ª diz: Gloria Olivae – a gloria da oliveira. Contudo, nem tudo está glorificado no Papado atual e, diante das circunstâncias, o Sumo Pontífice segue os passos de outros três Bispos de Roma que renunciaram o Pontificado: em 235, Ponciano; no ano de 1294, Celestino V e, há quase 600 anos atrás, em 1415, Gregório XII. Aliás, este Papa foi deposto por um Concílio realizado em Pisa, mas vendo a situação tribulada da Igreja, na época, humildemente proclamou sua renúncia. No seu tempo, havia o cisma do Ocidente, com um Papa reinando em Avinhão, na França, e outro em Pisa, aquela cidade da Itália da célebre Torre inclinada. Com sua renúncia, o Cisma chegou ao fim. Todavia, há quem diga que, ao todo, foram 22 os Papas a renunciarem. Contudo, nesta lista estão os Pontífices que foram assassinados, os mártires, os que morreram em acidente,etc. Na verdade a Igreja só considera como renúncia, os quatro citados acima.

Em relação à renuncia de Gregório XII, a situação, nos dias de hoje, é um tanto semelhante, com a diferença de que Bento XVI não foi cassado. Mas o Barco de São Pedro não navega em águas tranquilas, agora, como quer fazer crer a Cúria Romana. Problemas de corrupção no Banco do Vaticano, queixa de pedofilia no Cerne da Igreja, sem contar a constante ameaça de insurreição do Clero Estadunidense, cujos adeptos querem a todo custo intervirem nas normas eclesiásticas, tal e qual o cidadão comum que se acha no direito de ser os donos do Mundo.

Entendo que, comedida como é a Igreja em suas Normas, o Novo Papa não deverá escolher o nome de Pedro II, Pois a profecia 112ª diz apenas, Petrus Romanus e como é a última, indicaria o final do Papado, o final dos tempos, segundo as crenças. Procedendo assim, evitaria com isso nova onda de engodo, especulações e outras artimanhas dos embusteiros aproveitadores da credulidade de muitos. Se o escolhido for admirador de Pedro, talvez ele venha a escolher um nome duplo como Petrus Linus I. São conjecturas minhas, por saber que São Lino foi o segundo Papa.

Não querendo imiscuir nas profecias de Nostradamus nem tão pouco nas de São Malaquias, arriscaria dizer que o novo Sumo Pontífice, poderia ser um Africano, uma vez que o Catolicismo no Continente anda claudicando, com poucos adeptos em relação aos demais. Finalmente, como o Papa Sisto V foi um tremendo perseguidor de ladrões, prostitutas, bandidos de um modo geral, a fim de redimir sua triste passagem pela Igreja, o novo Bispo de Roma poderia até escolher o nome de Sisto VI. Sai prá lá Nostradamus!

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