Quem Vai Inaugurar?
(Reynollds Augusto)
Essa semana eu recebi uma visita diferente, estranha, mas que me despertou para algo objetivo e que, em verdade, é o nosso ponto final, nessa vida orgânica, que escorre pelas mãos. A visita inesperada e não própria, nesse momento, mas que me fez relembrar o mote do grande poeta itaporanguense, que tem o coração do tamanho do mundo, Merlânio Maia:
“Vai morrer do mesmo jeito”
Estou me referindo ao coveiro Carlinhos, pau para toda obra, naquelas horas difíceis, em que ninguém tem coragem para fazer nada, pois a morte nos pega de surpresa, exatamente porque nenhuma pessoa pensa nela, não trata sobre ela. Tem gente que até se benze à simples menção. Bobagem!.
- Rey. Tu vai ter que decidir. Precisa fazer o túmulo agora, pois a vizinha de cova de tua família vai mexer também e construir o dela, prejudicando o teu espaço.
- Diga isso não, “ome”? Estou sem grana.
- Vamos pelo menos fazer a estrutura e depois tu realizas o acabamento.
-Quanto é?
- Tanto.
-Isso tudo? Até para morrer tá caro. Mas vamos fazer...
Isso me impediu de viajar a João Pessoa, em tempo de carnaval, para participar de um curso de vida, na Federação Espírita Paraibana. Enquanto alguns irmãos, nesse período, caem da gandaia; procuramos cair em profusões filosóficas. Nada melhor. Essa a verdadeira festa.
Hoje eu estava conversando com a minha esposa sobre a questão do túmulo. Estava dizendo que Carlinhos é um danado nessas construções e que consegue desenhar a “casa” do jeito que você quiser. Ele estava dizendo que se ganhasse da loteria, faria um cemitério particular, pois o municipal não tem mais espaço e usaria uma técnica americana para enterrar os futuros corpos, aproveitando espaço: enterraria os defuntos todos de pé e faria um ambiente arborizado e reflexivo.
A mulher aproveitou o bate papo e perguntou:
- Quem vai inaugurar?
- Espero que a inauguração demore. Mas que é preciso organizar, isso é.
O cemitério é um ambiente calmo e lá estão depositados os corpos de espíritos, que viveram a emoção e se articularam para melhor vivenciar as experiências na nossa querida Itaporanga, que não parece ser mais a mesma, pela força paulatina do progresso que se aproxima sempre. Os corpos de alguns amigos meus de infância estão lá depositados. Também dos nossos pais, nossos avós, nossos parentes. Políticos, que movimentaram a nossa cidade, padres, professores, médicos, advogados... A nossa história. Um verdadeiro museu de experiências vividas, que se tornou “sagrado” e respeitável.
Na época do cristianismo primitivo e por conta da perseguição empreendida por Roma, “áqueles miseráveis seguidores do nazareno”, que pretendiam destruir a crença dos antepassados, nos deuses, que regiam a vida, o cemitério era o local de reuniões dos cristãos primitivos, que davam as suas vidas, cantando, a mensagem imorredoura de Jesus, tão distorcida pelos atuais espertalhões, que com a voz mansa, levam os desavisados a buscar ilusões. São cegos que conduzem cegos, segundo o mestre.
Quando você vai inaugurar? Só Deus sabe e mais ninguém, “morto” ou vivo.
PENSE NISSO! MAS PENSE AGORA MESMO.
www.pensenisso.itaporanga.net
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