domingo, 24 de fevereiro de 2013

Retratos


RETRATOS…
                                                       (Laura pereira)
 Vocês já repararam como é interessante o ato de fotografar? Como é incrível poder parar o tempo num pedacinho de papel, a fisionomia de uma pessoa quando ainda bebê? Hoje eu me peguei olhando velhas fotos, algumas ainda em filmes “negativos”, como o era nas velhas “máquinas de fotografia”.

 Quando eu era criança, minha mãe costumava procurar os fotógrafos para “tirar” nossas fotos, algumas em “monóculo”, aquele objeto estranho onde se olhava com um olho só, o outro olho a gente tapava com a mão pra não atrapalhar a imagem… outras fotos seriam montagens… é, naquele tempo tinha umas montagens bem interessantes, saía com o rosto da criança, ora sorrindo, ora chorando, ora assustada… ficava tudo num quadro só, como se fosse pintado à mão, não sei como eles faziam aquilo, mas as pessoas gostavam e colocavam o quadro na parede da sala.

Naquele tempo só pessoas endinheiradas tinham muitas fotos, só os ricos tinham a sua própria Kodak. A gente tirava retrato só uma vez por ano. Hoje, olhando aquelas fotos antigas, não dá pra não rir daquelas imagens… o penteado diferente, aquela cara de ET recém-chegado ao planeta, aquelas roupas supercoloridas…. É o máximo olhar fotos antigas, elas guardam um pouquinho de nós que ficou suspenso no tempo, tatuado no papel.

 Por trás dos retratos tinha sempre uma dedicatória, pois naquele tempo se tirava foto para mandar para os padrinhos, tios e parentes que moravam distantes: “À minha querida madrinha, lembrança dos meus três aninhos”; “lembrança da minha primeira comunhão”… aí nossos pais colocavam a data em que a foto iria ser mandada pra… madrinha.

 Interessante mesmo era quando a gente olhava as fotos de nossos pais (rsrsrs) que engraçados que eles eram. Fotos de avós, de tios distantes, de primos cabeçudos com orelhas grandes e canelas finas, tinha foto de todo jeito…

 Antigamente (mas nem tão antigamente assim), quando a gente chegava aos sítios, naquelas casinhas de taipa, via-se muitas fotos de parentes “coladas” nas paredes da varanda, entre gravuras de mulheres bonitas tiradas da revista AVOM, figuras de times de Futebol e fotos de parentes mortos ainda no caixão… eu não gostava dessas últimas, mas… tinha até foto de “anjinhos” no seu esquife.

Interessante como as pessoas gostavam de guardar suas recordações e como elas expunham essas fotos para que todos as vissem. Interessante é que tempo passou e as pessoas continuam expondo suas “lembranças”, agora no Facebook.

 Era engraçado quando a gente começava a paquerar aquele coleguinha da escola. Conversa vai, conversa vem e lá estava a paixão, com toda a sua fervura ilusória, tão avassaladora como as chuvas de verão. No momento em que a coisa ia dar certo mesmo, o garoto já mandava uma foto por algum amigo, valia qualquer foto, de quando ele era criança ou uma “três por quatro”( preto e branco), e a menina guardava com tanto medo que seus pais vissem que às vezes até a perdia de vista… trocar foto naquele tempo era como mandar mensagem pelo celular. Tirar foto no passado era quase um luxo.

 Certa vez uma amiga minha me contou que quando era pequena permitiu que um senhor que andava nas escolas tirassem uma foto sua, quando chegou em casa levou uma baita “surra” da sua mãe por que ela não tinha como pagar, tadinha…

 Uma outra colega da escola, isso já na nossa adolescência, ganhou uma máquina fotográfica, daquelas descartáveis que agora não me lembro do nome (algo como LOVE, ou coisa assim), foi um alvoroço só na sala de aula, todo mundo queria tirar uma foto, mas o rapaz só dava a máquina se ganhasse um beijo da mocinha, aí eu fui pra casa e nem sei como terminou essa história.

 Não tem nada mais divertido do que olhar fotos antigas, fotos da nossa infância, de nossos filhos quando crianças, fotos de animais, de casas que não existem mais, de terrenos que hoje são ruas, de pessoas que já se foram, de outras que acabam de chegar…. É tão interessante poder capturar esse pedacinho de tempo, esse momento tão passageiro de nossas vidas… De repente você se vê comparando: Olha a tia “tal”, é a cara de “fulana”, olha a nossa casa como era, como eu estava magra nessa foto, como ainda tinha cabelo, como era bonito/a!

 Hoje quase todo mundo tem uma “digital” e agora ficou muito mais fácil fotografar, não tem mais aquele negócio de foto em preto e branco, ou aquele inconveniente de mandar revelar as fotos na cidade vizinha… mas confesso que sinto falta daquele tempo, quando ficava esperando as fotos chegarem, não via a hora de rasgar o envelope amarelo, carimbado com o nome do estúdio fotográfico, e tirar as fotos pra ver como ficaram. O interessante é que isso ainda existe, sobrevive nos tempos modernos, podem acreditar.

 Na câmera digital a imagem aparece na hora, você pode também excluí-la e tirar quantas quiser, da maneira que escolher e com tanta facilidade que dá gosto fotografar… fotos no espelho do banheiro, fotos no quintal, no quarto deitada, na rede, com o animal de estimação, fotos de cabeça pra baixo, de lado, com apenas um lado do rosto e até fotos de costas… vixe! Nada que lembre aqueles retratos ingênuos, quando ainda se evocava o tal “passarinho” (olha o passarinho).

 Como essas lembranças falam de nossas vidas, de costumes, de moda, penteados, de amor, paixão adolescente… como falam de tempos passados, nos contam histórias, revelam imagens… isso tudo num fragmento de papel, ou naquele objeto curioso onde a gente colocava só um olho (monóculo). Como um pedacinho de tempo exposto numa foto nos traz recordações… recordações ora felizes, ora tristonhas, ora engraçadas. A verdade é que os retratos mexem com os nossos sentimentos, revelam particularidades e nos faz viajar no tempo, nas memórias que julgávamos esquecidas.

 Para uns, doces lembranças, para outros, tristes recordações de um tempo que não volta mais. A fotografia foi mesmo uma bela descoberta do homem, descoberta essa que revolucionou a arte de copiar momentos e capturar o tempo, foi a partir dessa artimanha que nasceu o cinema, primeiro aquele do tipo mudo, bem depois este que conhecemos agora e o futuro nos reserva algo mais precioso: imagine poder filmar uma festa de casamento, por exemplo, e ter as imagens refletidas em hologramas, como se fossem pessoas se movimentando à nossa frente…

 Mas essa história fica para os netos contarem, pois estou envelhecendo e o que me diverte hoje é olhar as velhas e boas foto de papel.

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